Felicidade no trabalho: a saga de empresas e funcionários
Livro de Alexandre Teixeira aborda as mudanças que estão transformando valores e estruturas do mercado
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Meio & Mensagem
14 de setembro de 2012 - 11h01
A participação de uma nova geração, que busca encontrar propósitos e já vivencia um novo modelo de escritório, está direcionando o mercado para um objetivo: a felicidade no trabalho. Esta é a base para o livro "Felicidade S.A. – Porque a satisfação com o trabalho é a utopia possível para o século 21", escrito pelo jornalista Alexandre Teixeira. A publicação, que aborda a importância da satisfação no ambiente corporativo, tanto em relação às empresas quanto aos funcionários, será lançada na terça-feira 18, em São Paulo. No evento, que contará com uma sessão de autógrafos, profissionais, como Sergio Chaia, CEO da Nextel, e Sandro Bassili, VP da Ambev, discutirão o tema.
“O prazer aperfeiçoa a atividade”. A frase de Aristóteles serve como fundamento para as mudanças que estão ocorrendo entre funcionários e algumas empresas. Desde meados da década de 1990, quando a passividade deixou de ser sinônimo de estabilidade no trabalho, a importância dada à empresa onde se trabalha, deixou de ser apenas o salário. “Engajamento, estímulo e motivação fazem parte da geração Y, que visa encontrar no mercado um local que proporcione desenvolvimento e aventura, diferente da época de seus pais”, afirma Teixeira.
Para o autor, a tecnologia da informação tem um papel importante na discussão sobre essa satisfação sob dois aspectos contemporâneos. O primeiro, é a onipresença. A facilidade de checar e-mails e exercer suas atribuições de qualquer lugar resulta na impossibilidade de relaxar, o que, em algum momento, trará infelicidade. Por outro lado, é a chance que essa conectividade dá aos funcionários de trabalharem fora do escritório e no horário que desejarem. “Eu não tomo partido para nenhum desses aspectos. Na minha opinião, o que dá certo é quando o funcionário com o perfil certo encontra a empresa certa”, afirma.
O autor acredita que as pessoas pensam pouco sobre sua vida pessoal e profissional e por isso não analisam a motivação pela qual trabalham, prazer ou dinheiro. Da mesma forma, as empresas não conhecem profundamente sua visão e valores, por isso não procuram profissionais com o perfil adequado.
Capitalismo consciente
O termo "capitalismo consciente" está cada vez mais em moda. Segundo o autor, as empresas preocupadas em garantir a satisfação de seus funcionários alcançam melhores resultados, se comparadas às empresas médias, porque apostam na equação engajamento + desempenho. Como consequência, as companhias começam a gastar menos com marketing, já que a divulgação da satisfação de funcionários, clientes e fornecedores, acontece boca a boca (confira abaixo, o trecho do livro que aborda o marketing eficaz dessas empresas).
Na publicação, Ambev, Natura, Unilever, Pão de Açúcar, Promon, Nextel, Serasa, DM9 são analisadas. De acordo com Teixeira, os bons resultados obtidos nessas empresas acompanham a clareza existente em seus valores, missões e o perfil de funcionários que combinam com a estrutura da companhia. “Isso aumenta as chances de ter um alto nível de felicidade”, diz.
Quando o índice de infelicidade é alto, a saúde começa a apresentar problemas. Um estudo da Suécia, com 3.122 trabalhadores acompanhou a incidência de ataques cardíacos nestes funcionários por uma década. Foi constatado que, em um ano, o risco de ter um ataque trabalhando com um chefe bom, é 20% inferior àquele que é subordinado a um chefe autoritário. De um para quatro anos, essa redução chega a 39%.
Lançamento
Teixeira trabalhou na Época Negócios, durante quatro anos, e embora fosse feliz com a função que desenvolvia, optou por sair da empresa e escrever o livro para iniciar uma aventura intelectual. “Eu havia terminado um ciclo. Era redator-chefe, mas queria fazer algo solo, então iniciei uma fase de autoconhecimento”, relembra.
O lançamento do livro, publicado pela Arquipélago Editorial, irá acontecer na terça-feira 18, às 18h30, na livraria da Vila do shopping JK Iguatemi, em São Paulo. No debate, mediado pelo autor, também estarão Roberto Lima, ex- CEO da Vivo, Elcio Anibal de Lucca, ex- CEO da Serasa, e Welington Nogueira, Líder dos Doutores da Alegria. O livro conta com 30 entrevistas, entre eles Luiz Antonio Seabra, da Natura, e Abílio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar.
Confira abaixo um trecho, cedido pelo autor ao Meio & Mensagem
(Extraído do Epílogo – Por que ser feliz é estratégico)
O que a maioria das companhias ainda faz para aumentar sua margem de lucro, seguindo a cartilha tradicional, é apertar ao máximo os funcionários e fornecedores. “Elas pagam o mínimo possível, não cobrem custos médicos se puderem evitar, jogam uns fornecedores contra os outros e compram sempre de quem cobra menos”, afirma Raj Sisodia.
As empresas conscientes não fazem isso. Ao contrário, tendem a pagar mais do que precisariam aos empregados e procuram ser generosas com os fornecedores. Tratam de criar relações mutuamente vantajosas com eles. Ainda assim, são mais lucrativas.
Um dos segredos por trás deste aparente paradoxo é que, nessas empresas, os gastos com marketing são menores. Elas contam com o benefício da propaganda boca a boca.
Clientes felizes, funcionários felizes, comunidade satisfeita, todos estes públicos passam suas mensagens adiante. Logo, as companhias conscientes não precisam gastar tanto dinheiro com publicidade e promoções, áreas geradoras de enormes despesas que agregam pouco valor.
O custo dos recursos humanos também é menor, porque a rotatividade é mais baixa, como se viu na história da “desterceirização” dos atendentes da Vivo. Nos Estados Unidos, o turnover anual do conjunto de empresas que Sisodia isolou no grupo de “companhias conscientes” variou de 5% a 7%. Na média do varejo americano, a rotatividade supera com folga os 100%, o que significa que o equivalente numérico a toda a força de trabalho é substituída a cada ano. Na prática, a cúpula das varejistas tende a permanecer em seus postos, enquanto a base da pirâmide, incluindo caixas e outros funcionários que têm contato direto com o público, é revolvida continuamente.
O custo legal das empresas conscientes também é menor, assim como as despesas administrativas. “Se a cultura é de confiança, você não precisa de tantos gerentes de nível médio. As pessoas se auto-organizam e se automotivam”, afirma Sisodia.
Embora os funcionários médios sejam mais bem pagos nestas companhias, os executivos no topo recebem pagamentos relativamente modestos. “Se você tem líderes que se preocupam com o negócio, não é preciso recrutá-los com base apenas no dinheiro”, diz Sisodia. É o contrário do que nos acostumamos a ver em empresas tradicionais, nas quais o pagamento dos gestores mais graduados se tornou uma área de despesas desproporcionais. Em muitas delas, a remuneração dos executivos é maior do que o lucro líquido.
Há também um senso de justiça interna, com impacto direto no moral dos trabalhadores. Pesquisas recentes mostram que a diferença entre o salário do executivo chefe e do funcionário médio tem correlação direta com o nível médio de engajamento dos empregados. Quanto mais justa a empresa, mais dedicado o funcionário.
Dados compilados pelo instituto Gallup comprovam a ligação entre o engajamento dos empregados e o desempenho financeiro das companhias. Empresas com altas taxas de engajamento, segundo uma dessas pesquisas, têm um crescimento dos lucros por ação 3,9 vezes maior que a média. Isso se deve, entre outros fatores, ao menor absenteísmo, à menor incidência de acidentes de trabalho e às melhores condições de saúde dos funcionários.
Quando estavam preparando o livro The Why of Work, lançado em 2010, o guru de administração David Ulrich e sua esposa, a psicóloga Wendy Ulrich, buscavam argumentos para sustentar a tese de que ajudar os funcionários a encontrar algum significado no trabalho traz dinheiro para as empresas. Assumindo que o estímulo à busca de sentido é parte importante do pacote de satisfação com um emprego, eles agruparam as melhores empresas para trabalhar nos Estados Unidos – segundo as pesquisas do instituto Great Place to Work – e calcularam o retorno anual médio daquelas entre elas com ações negociadas em bolsa entre 1998 e 2008. Chegaram ao número 6,8%. No mesmo período, o retorno anual médio das 500 companhias mais negociadas na Bolsa de Nova York ficou em apenas 1,04%.
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