Cris Duclos pede na justiça sindicância na Vivo
Ex-executiva da marca e o marido, Ricardo Chester, falam sobre acusações de corrupção contra eles e contratam auditoria para analisar seus próprios ganhos
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Alexandre Zaghi Lemos
14 de setembro de 2016 - 19h19
Atualizada às 21h20
Desligada em junho do cargo de diretora de imagem e comunicação da Vivo, Cris Duclos entrou, nesta terça-feira, 13, com ação judicial contra a Telefônica pedindo reintegração de seu emprego e instalação de uma sindicância interna pela empresa. Segundo ela, seu objetivo é provar que não participou de desvios financeiros em contratos do anunciante com agências, produtoras e veículos. Cris diz que pleiteia voltar à empresa para ter acesso a documentos que provem sua inocência. A ação corre na 33ª Vara do Trabalho de São Paulo. Consultada pela reportagem, a Telefônica informou que ainda não foi notificada.
Outra providência da defesa de Cris Duclos foi a contratação da auditoria financeira Grant Thornton, para analisar os seus ganhos e movimentações financeiras nos últimos cinco anos, assim como os de seu marido, o publicitário Ricardo Chester.
Desde julho circulam na imprensa notícias de que, por determinação do CEO Amos Genish – egresso da GVT e no cargo desde maio do ano passado –, a Telefônica Vivo investiga desvios financeiros em contratos da área de marketing com diversos fornecedores, por meio de auditoria internacional conduzida pela matriz espanhola. As principais parceiras da marca na publicidade são Africa, DPZ&T e Y&R, que dividem a conta off-line do anunciante. Entre várias publicações sobre o tema na mídia, majoritariamente na internet, uma do Valor Econômico, do dia 25 de julho, distribuída internacionalmente pela Reuters, chamou a atenção da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), já que a Telefônica Brasil é uma empresa de capital aberto. Na reportagem em questão, o jornal informa que a auditoria pretende “verificar a existência de irregularidades” e “discordâncias em relação aos preços negociados”, e “deve levar ao descredenciamento de prestadores de serviços” da área de marketing.
Na resposta ao questionamento da CVM, a área de relações com investidores da Telefônica disse que auditorias e revisões em procedimentos e contratos são “atividades rotineiras”, mas negou qualquer procedimento em curso “com as características referidas” na reportagem do Valor. Sobre a demissão de Cris Duclos, o comunicado da empresa “reitera sua prática de não comentar questões dessa natureza”. Embora o caso tenha continuado na pauta de alguns veículos da mídia, a Telefônica se restringiu ao comunicado à CVM e não quis se pronunciar mais sobre o caso.
Para a ex-diretora, o fato da Vivo não negar de forma mais enfática as acusações contribui para o “alastramento do boato”, prejudicando sua reputação profissional e sua recolocação no mercado – segundo ela, pelo menos dois processos seletivos nos quais estava incluída foram interrompidos após o caso.
Cris estava na Vivo desde 2008 e era subordinada ao chief revenue officer, Christian Gebara, que comanda as áreas de marketing, vendas e estratégia digital e inovação. O marido de Cris, Ricardo Chester, atual diretor de criação da AlmapBBDO, também foi envolvido na polêmica, acusado de receber propina através de seu contrato com a Africa, uma das agências que atendem a conta da Vivo e onde ele atuou entre 2012 e 2014. Chester chegou a se licenciar para cuidar da defesa do casal, mas, na semana passada, voltou ao trabalho na AlmapBBDO.
Na tarde desta quarta-feira, 14, o casal, agora assessorado pela Peixoto & Cury Advogados e pela Giusti Comunicação, falou à reportagem de Meio & Mensagem. Leia, a seguir, alguns trechos da entrevista.
Meio & Mensagem – Em diversas reportagens publicadas na mídia desde o fim de julho, vocês são acusados de corrupção contra a Vivo e em conluio com agências de publicidade e outros fornecedores da área de marketing e publicidade. A acusação explícita divulgada por alguns veículos é a de que esse caso gerou rombo de R$ 27 milhões na empresa. O que vocês têm a dizer sobre essa acusação?
Cris Duclos – Primeiro, fazendo uma breve retrospectiva da história, eu estava há oito anos na Vivo, em uma carreira bastante reconhecida pelo mercado e internamente na empresa. No último ano, houve a integração com a GVT e a minha área cresceu bastante, chegando a 150 pessoas e dez gerências. Eu estava pleiteando, há um ano, uma posição de vice-presidente, como parte da reestruturação que promoveu diversas pessoas, e, assim, também eu poderia promover gente da minha equipe. Tudo estava caminhando bem até o dia 10 de junho, quando o Christian Gebara me disse que houve mudanças de planos, que minha promoção não sairia, minha equipe teria de ser diminuída e talvez estivesse na hora de eu sair e repensar. Eu já havia dito a ele que tinha recebido outras propostas do mercado. Naquele momento, fizemos um acordo para que eu saísse. Como na semana seguinte eu iria ao Festival de Cannes, como jurada, representando a Vivo, pedi ao Christian que o comunicado sobre minha saída fosse feito após o evento. Mas a rescisão e o comunicado interno não puderam esperar, porque a empresa precisava divulgar seu novo organograma. Então, tive que sair antes de ir para Cannes. Quando eu voltei, ouvi que eu não pude me despedir da minha equipe e que fui proibida de entrar na Vivo, o que não aconteceu. Eu fui até a Vivo e passei uma tarde inteira com a minha equipe, tiramos fotos e nos despedimos, tudo normal. Poucos dias depois do Festival de Cannes, viajei novamente com minha família, de férias, para Londres. Foi quando eu voltei de Londres que a jornalista do Valor Econômico entrou em contato comigo e foi direta: houve uma auditoria nos contratos de marketing da Vivo, encontraram irregularidades e sua demissão se deu por causa disso.
M&M – Até o contato feito pela reportagem do Valor Econômico você não tinha ouvido nada sobre a suposta auditoria?
Cris – Não. Depois me disseram que em Cannes o mercado já falava sobre isso, mas eu não escutei. E depois viajamos de férias. A primeira vez que ouvi sobre esse assunto foi no contato do jornal Valor. Eu disse à reportagem que não houve nenhuma auditoria, pois se tivesse eu saberia, pois esses processos são abertos. O auditor te entrevista, pega o seu computador, mexe nos contratos, fala com a equipe, entrevista várias pessoas. É um processo longo, não teria jeito de haver uma auditoria e eu não saber. Depois de falar com a repórter, eu falei com executivos da Vivo, que também me disseram que não houve nenhuma auditoria. Eu pedi a eles que dissessem isso ao jornal, mas eles me disseram que a empresa não pode falar sobre a saída de funcionários – a Vivo realmente tem uma policie. Eu argumentei que, mesmo não falando sobre a minha saída, poderiam dizer que não existiu nenhuma auditoria. Como a reportagem voltou a me procurar, dizendo que a matéria seria publicada, eu resolvi formalizar meu pedido para a Vivo. Envie e-mail, inclusive para o CEO Amos Genish, pedindo que eles se pronunciassem, já que o Valor me disse ter ouvido a informação de fontes do alto escalão da empresa. Eles seguiram falando comigo, mas diziam acreditar que a reportagem não seria publicada. Quando a matéria foi publicada, eu fiz novo contato com a Vivo, pedido que eles se posicionassem.
M&M – Algumas das reportagens publicadas dizem que o caso começou quando o presidente da Vivo, Amos Genish, visitou o condomínio Fazenda Boa Vista, no interior de São Paulo, e ficou impressionado com a casa de veraneio usada por vocês. Vocês possuem ou alugam casa nesse local?
Ricardo Chester – O site O Antagonista colocou informações mentirosas na internet, como a de que nós teríamos comprado um terreno, no valor de R$ 4 milhões, pagos em espécie. O site erra o nome do condomínio e a cidade, publica que é o Quinta da Baronesa, em Itu. Num post de cinco linhas, comete quatro erros. Não tiveram o trabalho de checar nenhuma informação.
Cris – A Fazenda Boa Vista fica em Porto Feliz. É um condomínio que a gente frequenta desde que inaugurou e sempre quisemos comprar uma casa lá. Eles têm dois tipos de padrão, as casas milionárias e as vilas, que têm casas padronizadas de dois a quatro dormitórios. No ano passado, nós alugamos uma dessas casas, na Vila da Mata 3, por seis meses, até fevereiro deste ano. Nesse período, nos apaixonamos pelo local e compramos um terreno de 3 mil metros, em outubro de 2015, por R$ 1,6 milhão. Registramos o terreno por 100% do valor e ele está declarado no nosso imposto de renda, metade na declaração de cada um de nós. Este ano, o Amos Genish comprou uma casa lá e várias vezes eu o encontrei nos finais de semana.
Chester – O terreno de R$ 4 milhões pagos à vista é uma mentira, uma falsidade, publicada por um blog que viralizou para ferrar a nossa reputação. Nessa maledicência toda, é uma mentira fácil de derrubar com todos os documentos que temos. Para isso, tivemos que contratar a quinta maior auditoria do País, a fim de provar que não temos o produto desse absurdo dos R$ 27 milhões. Para nós, é muito desgastante ter de fazer isso. Eu e minha mulher somos vítimas de uma coisa muito cruel. Temos provas de que somos vítimas de uma armação, cujos interesses nós desconhecemos. E, mais ainda, é uma coisa absurda que tudo isso seja comentado e até hoje não exista uma denúncia oficial, não há a cara de quem está falando isso, as três agências que atendem a Vivo continuam trabalhando para o cliente, que não reclama nada. Mesmo assim, as pessoas acreditam na boataria. É impressionante como isso é poderoso: alguém com má intenção ceifou uma carreira no auge, como estava a da Cris. Agora ela não consegue falar com um headhunter. O veneno circula. Se você fizer uma pesquisa nos comentários dessas notícias verá que, de uma hora para outra, nós viramos o casal mais demoníaco do planeta. E nós não fizemos nada. Ter que falar da própria inocência é muito doloroso.
M&M – Além disso, Chester, você foi acusado de ter sido contratado pela Africa após a agência vencer uma concorrência da Vivo, por salário acima do mercado…
Chester – Eu trabalhei na Africa entre 2012 e 2014, e não tive salário milionário. Quando cheguei, a conta da Vivo já estava na Africa há muitos anos. Eu estava na Centoeseis, que foi incorporada pela DM9. Foi então que os sócios da Africa me chamaram para trabalhar lá. Eu coloquei duas condições: que a Vivo fosse consultada para saber se havia alguma restrição, porque a última coisa que quero na vida é atrapalhar a carreira da Cris, e que eu, em hipótese alguma, trabalhasse em campanhas para a empresa. Na época, a informação que eu tive foi a de que a Vivo foi consultada, na pessoa do chefe da Cris, o Christian Gebara, que, coincidentemente, havia pedido a mesma coisa que eu: que eu não trabalhasse para a Vivo. Eu acabei cuidando de contas como Itaú, Folha de S.Paulo, Suzuki, ESPN e P&G.
M&M – Apesar da Vivo ter negado à CVM qualquer movimento que merecesse um fato relevante, circulou a informação de que a empresa teria encaminhado aos seus fornecedores de comunicação e marketing, incluindo as agências de publicidade, um documento que estabelece novas práticas de relacionamento com o anunciante. Você tem conhecimento disso?
Cris – Isso não existiu. Não aconteceu. Não houve descredenciamento de nenhum fornecedor, de nenhuma agência, não só de publicidade, mas de qualquer disciplina, e não houve nenhum código de ética feito. Se tinha uma irregularidade, um desvio, teria de ter mais alguém envolvido. Só sobrou eu nessa história? Onde está a irregularidade? Com qual fornecedor? Quem da equipe participava? Eu nunca negociava valores, o que era feito pela área de compras. Qualquer contrato da empresa era assinado por dois diretores e autorizado pelo jurídico. É um processo bastante rígido. A gente até brincava que 80% do nosso tempo era gasto com essas burocracias. É algo normal de uma empresa grande.
M&M – Se não há fundamento nas acusações, vocês conseguem detectar o que motivou essa onda de notícias com tamanha repercussão?
Chester – Estamos sentindo na pele o que é uma calúnia. É muito ruim. Então, dar algum nome é algo que nós não faríamos, porque não temos a menor ideia do que pode ter motivado. Faz dois meses que só lidamos com esse assunto. Felizmente eu voltei a trabalhar na semana passada. A gente escuta muita coisa, mas não a ponto de dizer quem motivou. Se a gente tivesse essa certeza, as providências seriam outras. A calúnia é muito danosa, nossa vida está de ponta cabeça e nós temos medo da perspectiva de futuro.
Cris – Eu não posso usar do mesmo veneno que usaram contra mim. Eu não tenho nenhuma inimizade na Vivo, nada que eu possa falar, pelo menos que eu saiba.
M&M – A primeira reportagem sobre o assunto no saiu no Valor PRO no dia 21 de julho. Vocês se manifestaram no Facebook no dia 29 de julho, uma semana depois, e estão dando essa entrevista hoje, 14 de setembro, 55 dias depois. Porque essa demora?
Chester – Hoje eu digo para você que foi um erro, mas ninguém está treinado para lidar com isso. Num primeiro momento, achei que estivéssemos lindando com uma fofoca de agência. Quando recebemos a pancada, nos perguntamos: a quem procurar. Hoje eu sei que estou em um cenário de crise, mas no momento inicial pensamos em procurar um advogado criminalista, porque nós fomos vítimas de um crime. Porque acordamos um dia com o nosso nome escandalosamente envolvido em uma mentira. Como eu me defendo? Eu nunca tinha precisado de um advogado criminalista. Imagina duas pessoas em pânico atrás de um bom advogado criminalista. Nós visitamos cinco escritórios de advocacia, contamos todo o caso, demoradamente. Uns pediam uma fortuna para nos defender, outros diziam que não podiam entrar no caso. Enfim, demoramos dez dias para chegar a conclusão de que não precisávamos de um advogado criminalista. Demorou até chegarmos até a Peixoto & Cury Advogados, que se solidarizou conosco e resolveu cuidar do caso por um preço que nós podemos pagar. Outro problema é que, na nossa cabeça, tínhamos um problema jurídico e não uma crise de imagem. Nós não sabíamos o que era uma crise de imagem com pessoa física, nunca tínhamos imaginado que isso pudesse acontecer conosco. Por isso a demora de chegar até a Giusti Comunicação, que está nos assessorando nisso. Hoje eu sei que a demora foi um erro e já posso até dar uma palestra sobre crise. Teve gente que interpretou isso assim: “estava quieto é porque tem encrenca”. Que pena as pessoas pensarem assim, pois não conseguem avaliar, nesse processo todo, a falta da denúncia oficial e a falta do denunciante.
M&M – Vocês sentiram falta de defesas públicas por parte de colegas, ex-profissionais da Vivo e das próprias agências que lidam com a conta do anunciante?
Cris – Sim. O que buscamos até agora é que a Vivo dê um posicionamento formal em relação ao assunto. Quando questionada pela CVM, a Vivo respondeu que não existia nenhuma auditoria, nem descredenciamento de fornecedores, mas não foi enfática e definitiva o suficiente, porque as falsas acusações continuaram. Sobre as agências, parece que a Vivo não deixou que elas falassem, e elas acabaram soltando uma nota conjunta protocolar, organizada pela própria Vivo.
M&M – O que vocês pretendem com essa ação na justiça contra a Vivo?
Cris – Antes de entrar na justiça, nós tentamos negociar amigavelmente com a Vivo. Os advogados ficaram semanas conversando, para que a Vivo se pronunciasse. Pedimos simplesmente uma declaração da empresa. Como não conseguimos, entramos com um pedido de liminar. Não se trata de uma briga com a Vivo, é um pedido formal, através da justiça, para que haja uma sindicância que eu, ou alguém que o juiz determinar, possa acompanhar. Meu objetivo é que sejam abertos os documentos, para provar que eu não fiz nada errado. Se existe alguma denúncia, alguma irregularidade, eu tenho o direito de saber para o contraditório. Se não houve nada, quero que a empresa se pronuncie. Eu sei que a empresa tem suas policies, mas a minha situação é atípica, não posso ter a minha carreira prejudicada. Essa história não foi encerrada, fica parecendo que foi abafada. Eu quero buscar a prova da minha inocência.
Chester – A luta é pela reputação. A boataria acabou com a reputação da Cris. Além da ação na justiça, contratamos uma auditoria. É uma iniciativa nossa para deixar claro que não temos absolutamente nada a esconder. Que o nosso patrimônio é compatível com o de um casal que guarda dinheiro há vinte anos.
Cris – Com a auditoria, que leva 15 dias, queremos provar que não houve recebimento de nenhum dinheiro ilícito. Nem R$ 1 mil, nem R$ 27 milhões.
Envolvidos no caso Vivo se manifestam
Caso Vivo incomoda agências e produtoras
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