Trump, Eike Batista e Lady Gaga alavancam mercado editorial
O contexto político e cultural é o gatilho para vendas de livrarias e editoras que aproveitam os assuntos discutidos em suas estratégias digitais e nos pontos de venda
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Karina Balan Julio
10 de fevereiro de 2017 - 8h41
Assuntos em evidência do cenário nacional e internacional são frequentemente usados por marcas em campanhas ou nas redes sociais como uma oportunidade de fazer parte das discussões. A eleição de Donald Trump, o Super Bowl e a operação Lava Jato já serviram de inspiração para empresas, mas no mercado editorial, representam muito mais do que uma ação de marketing e têm impacto direto nas vendas.
Desde a posse de Trump, por exemplo, as vendas do clássico livro “1984”, de George Orwell, tiveram crescimento de mais de 10 mil por cento nos Estados Unidos, de acordo com a editora Signet Classics. Isto porque no universo da obra, o governo estabelece o que é verdade ou não, o que dialoga com os “fatos alternativos” de Trump. No Brasil, ele figura entre os mais vendidos há duas semanas.
Thiago Oliveira, gerente de vendas da livraria Cultura, afirma que as vendas do livro aumentaram em mais de 40% na rede nas últimas semanas. “O que acontece no mundo sempre repercute nas vendas. Com a prisão de Eike Batista, por exemplo, a biografia ‘X da questão: o maior empreendedor do Brasil’ voltou a ter procura. Isso também ocorreu após a morte de Zygmunt Bauman, mesmo que ele seja naturalmente um autor de grande circulação”, afirma.
O crescimento nas vendas de “1984” é significativo porque a obra não é um lançamento (a primeira edição é de 1949) e tem um giro relativamente baixo, de acordo com Roberto Sansão, gerente de marketing da Fnac. Ele afirma que o contexto político tem efeito imediato nas vendas e que o livro voltou a ser muito procurado tanto na versão física, quanto na online.
As marcas que discordam de Donald Trump
No contexto brasileiro, o sucesso de livros como “Filosofia para Corajosos”, de Luiz Felipe Pondé, e “Lava Jato”, de Vladimir Netto, espelham o interesse por temas frescos. Desde seu lançamento, em junho de 2016, “Lava Jato” vendeu mais de 105 mil exemplares.
O cenário cultural também é um grande agente para potencializar esse mercado, que dialoga frequentemente com os lançamentos de filmes e séries. O seriado Desventuras em Série estreou em janeiro na Netflix e, automaticamente, a Companhia das Letras viu um aumento nas vendas dos livros. Já “Dois Irmãos” teve 300 mil exemplares vendidos desde que a minissérie da Globo foi ao ar.
Marcos Pereira, presidente do Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL), acredita que o desafio para editoras é acertar o timing dos lançamentos, já que nem sempre é possível prever se um assunto continuará relevante daqui há alguns meses ou um ano. “O livro tem um ritmo de produção e venda diferente de uma revista ou jornal, pois é uma leitura mais densa, então o timing da atualidade é mais difícil. As editoras têm que ter a criatividade e a competência para identificar essas oportunidades, pois é mais divertido ter um livro no catálogo que faça parte da discussão”, opina.
Viralização à favor do marketing
Lilia Zambon, gerente de marketing da Companhia das Letras, afirma que a marca aposta em comunicação diferenciada para livreiros e leitores. “Queremos criar um ambiente cultural e político de discussão sobre o assunto apresentado, para que não seja só o livro publicado por si só. Fazemos vídeos, repercutimos as notícias nas redes sociais e temos uma newsletter específica. Com os livreiros, abordamos o que saiu na imprensa, sobre o que é o livro e quem é o autor: é uma comunicação informativa que tem o livro como elemento”, afirma.
Com Trump, áreas de RP ganham novo sentido
A preocupação com o posicionamento nas redes sociais e a apresentação nos pontos de venda também é recorrente entre as livrarias. A Fnac investe num calendário promocional contextualizado, onde os CDs, DVDs e livros das ações são escolhidos com base em temas cotidianos. Thiago, da Cultura, acredita que é preciso cuidado para não transmitir alguma opinião política na hora de divulgar as obras. “No Facebook, usamos principalmente alguns memes que repercutem na internet, divulgamos trechos de obras que esclareçam mais sobre política e recomendamos livros que dialogam com determinado assunto”, conta.
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