O impacto dos makers nas relações de consumo
Impressão 3D, drones e internet das coisas ampliam as possibilidades de marcas e consumidores incentivando a cocriação
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Luiz Gustavo Pacete
27 de junho de 2017 - 7h18
Faça você mesmo. Muito comum, a frase é utilizada com frequência em campanhas publicitárias. Sobretudo de redes de material de construção e decoração. Fora do Brasil, a sueca Ikea incorporou este conceito e se propõe a oferecer a seus clientes móveis acessíveis com bom design e que permitam a customização por parte dos consumidores.
Apesar de sua popularidade, no entanto, o “do it yourself” vem ganhando um novo significado e inspirando uma nova fase, aquela que foi batizada de a “era dos makers”. O conceito foi popularizado em 2006 após uma feira realizada na Califórnia, a Make Faire. Considerada por muitos como capaz de trazer disrupção nas relações de consumo, a era dos makers vem sendo impulsionada, sobretudo, por tecnologias de impressão 3D, a customização de drones e a montagem de sistemas de internet das coisas. Em 2016, os Estados Unidos lançaram um manifesto chamado de “nação de fazedores” com o objetivo de gerar novos empregos e indústrias nas próximas décadas.
“Alguns anos atrás, se desejássemos construir algo, deveríamos esperar ou até adaptar alguns produtos existentes no mercado, ou seja, dependíamos de uma grande empresa decidir fazer algo e só então poderíamos consumir um produto dentro do leque de opções restrito ao portfólio oferecido”, lembra Rafael Arevalo, um dos responsáveis pelo Projeto Tato, que utiliza esculturas digitais 3D para que deficientes visuais tenham acesso à arte.
De acordo com Arevalo, o movimento maker está diretamente ligado ao mundo da impressão 3D, que permite a produção sem limites. “Grandes empresas que, na verdade, são enormes centos de distribuição, deixarão esta função para se tornarem grandes centros de impressão”, explica.
Heloisa Neves, fundadora do WeFab, espaço de conexão entre makers e empresas, aborda outro aspecto da cultura maker, aquele utilizado nos processos de cocriação. Ela explica que a integração entre prototipagem, agilidade e colaboração estão se integrando a outras metodologias, como lean startup e design thinking, e proporcionando novas maneiras de se desenvolver produtos e processos a empresas. Fiat, Itaú, Natura, Decathlon, Red Bull e algumas outras já desenvolvem projetos makers.
“O que vemos durante nossas maratonas de produtos e que envolve também a presença de consumidores é que as empresas passam a entender melhor o consumidor e codesenhar com eles as soluções. Do lado do consumidor, há um impacto positivo no sentido de participar do processo, colaborar, decidir juntamente com a empresa o que faz sentido”, diz Heloisa.
Ainda segundo Heloisa, o termo prosumers, que remete a consumidores que fabricam ou codesenham seus próprios objetos, faz cada vez mais sentido. “O fato ainda é recente, mas vemos cada vez mais o fator personalização como um caminho a ser também incorporado por empresas em seus processos a fim de que o consumidor seja tratado como um parceiro do processo e não somente alguém que escolhe uma marca ou produto desenhado para um consumidor mediano”, diz.
Carlos Candido, diretor do Mirante Lab, empresa que testa novas tecnologias com foco em drones, explica que as aeronaves não tripuladas representam outra vertente do movimento maker. “Na primeira fase, os drones baratearam produções audiovisuais substituindo o helicóptero. Agora, vivemos uma fase em que as pessoas começam a construir suas próprias aeronaves e, em seguida, assistiremos ao uso cada vez maior dos drones em diversas funções cotidianas”, projeta.
A cultura maker não afeta somente as relações de consumo, também influencia a educação e, por consequência, os futuros consumidores. Sobretudo, por que permite que alunos tomem conta de seus processos de aprendizagem e proponham resoluções. “O movimento maker é filho da revolução open-source e de outros movimentos como o free software e correntes artístico-políticas das décadas de 1960 e 1970. Todas elas buscavam a quebra de hierarquias e monopólios. O espírito dessas revoluções está presente nas muitas tendências atuais, uma vez que foram responsáveis por uma mudança de visão e de padrões para algo além do seu tempo”, explica Juliana Caetano, consultora em tecnologias educacionais.
A consultora ressalta que, na educação, o movimento maker popularizou a ideia de quebra de hierarquia. “Existente há muitos anos em outras esferas, o movimento trouxe este debate para dentro da escola. Dessa forma, muda-se o foco para a relação aluno-professor e aluno-conhecimento, incentivando a ideia de integração, ação e não mais de uma relação de poder de um sobre o outro”, comenta.
Tudo na palma da mão
Ainda que o conceito de maker seja mais profundo do que apenas fazer impressão 3D ou usar seu próprio drone, algumas marcas já utilizam, há algum tempo, esses elementos em suas ações. Em 2014, durante o SXSW, a Oreo instalou em Austin, no Texas, uma máquina de imprimir biscoitos conectada a uma conta do Twitter. A opção de variação dos biscoitos era de mais de 16.830 possibilidades.
Em outubro do ano passado, a Nasa anunciou a criação de uma impressora que imprime comida em 3D, a BeeHex, e que promete transformar a dieta dos astronautas em uma experiência: em vez de se contentar com alimentos desidratados, eles poderiam saborear uma pizza, por exemplo. Em abril deste ano, a Adidas lançou um modelo feito com a sola feita em uma impressora 3D, e o objetivo, segundo a marca, é que o produto entre em escala de produção em massa já no próximo ano.
Um estudo da consultoria estadunidense Wohler Associates aponta que os negócios com impressoras 3D movimentaram US$ 5,1 bilhões no mundo em 2016, alta de 30% na comparação com 2015. A estimativa é de que, até 2020, o total deste mercado seja de R$ 21 bilhões. A Faber-Castell é outra empresa que investe no conceito de makers por meio da plataforma digital Inspirarte. “Queremos inspirar momentos de criatividade lembrando às pessoas que o mundo pode ser mais colorido. Com o passar do tempo, as pessoas não priorizam esses momentos devido à rotina cada vez mais corrida. O universo digital é muito amplo e pode nos ajudar a estimular constantemente a imaginação”, diz Eduardo Ruschel, diretor de marketing e inovação da Faber-Castell.
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