A internet das coisas e a recriação do marketing
O marketing vai mudar radicalmente com a internet das coisas e os wearables, não vai sobrar pedra sobre pedra
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Mauro Segura
17 de junho de 2015 - 12h29
1) Você está caminhando dentro de um shopping, passa em frente a uma farmácia e, de repente, o seu relógio vibra, na tela aparece uma mensagem com uma lista de produtos que você precisa comprar na drogaria porque estão em falta na sua casa.
2) Você escova os dentes. No final, um app no smartphone mostra que você não escovou bem uma parte da boca e pede para você repetir a escovação. O app orienta como fazer, apresentando um mapa da sua boca denunciando a qualidade de cada escovação. No final do mês, o app mostra um resumo de sua performance e manda um relatório digital para o seu dentista.
3) Você está viajando e lembra que seria legal ter deixado as luzes da sua casa acesas simulando movimento. Através de um app em seu smartphone, você coloca a sua casa em vacation mode e as luzes da sua casa se configuram conforme você deseja.
4) Você está a trabalho numa cidade que pouco conhece, de carro alugado. Entra no automóvel e pergunta para a assistente virtual do carro quais as opções existentes de restaurante japonês num raio de 30 km. Você pergunta pelo tempo de espera na fila. A assistente responde, e diz que a 5 minutos de distância tem um restaurante mexicano maravilhoso com uma promoção especial. Você diz ok e a assistente faz a reserva para você automaticamente. Em 1 minuto ela retorna: "reserva realizada e confirmada".
Os quatro casos acima são exemplos do novo mundo diante de nós. Converso regularmente com amigos e colegas do mundo de marketing e comunicação, sempre fico surpreso com o desconhecimento, e até negligência, que todos demonstram a respeito da internet das coisas e dos wearables. A sensação que tenho é que a maioria deles pensa nisso como ficção científica ou algo de um futuro ainda muito distante.
O fato é que tais tecnologias provocarão uma revolução gigantesca na forma como vivemos, consumimos e nos relacionamos. O impacto no marketing e comunicação das empresas será brutal, pois teremos uma postura diferente como clientes e consumidores, abalando os conceitos atuais de advertising e marketing de relacionamento. Surpreendentemente, este futuro distante está muito mais próximo do que imaginamos
Mas o que é Internet das Coisas?
Para você, viajante de outro planeta, Internet das Coisas refere-se ao uso de sensores, atuadores e tecnologia de comunicação de dados montados em objetos físicos, de autoestrada a marca passo, que permitem que os objetos sejam monitorados, coordenados ou controlados através de uma rede de dados ou da internet. Essa é a definição de Eduardo Prado no excepcional artigo "Saiba como a Internet das Coisas vai impactar a sua vida". Pare cinco minutos para ler este artigo, tome um tapa na cara, e volte aqui.
Uma outra definição, menos técnica e mais conectada ao nosso cotidiano, é que Internet das Coisas se refere a uma revolução tecnológica que tem como objetivo conectar os itens usados no cotidiano à rede mundial de computadores. Cada vez mais surgem eletrodomésticos, meios de transporte e até mesmo tênis, roupas e maçanetas conectadas à internet e a outros dispositivos, como computadores e smartphones. Essa é a definição dada por Pedro Zambarda, no Techtudo, no também excelente artigo "Internet das Coisas: entenda o conceito e o que muda com a tecnologia".
O potencial da Internet das Coisas é imenso, até difícil de imaginar. Experimente digitar internet of things na linha do Google e uma lista infinita de exemplos aparecerão na tela mostrando uma enormidade de projetos em andamento. Veja também alguns vídeos e caia da cadeira. E aí? Está com a boca aberta?
O divertido é quando imaginamos a Internet das Coisas muito além das descrições acima, ou seja, quando nós mesmos, seres humanos, estivermos vestindo a Internet das Coisas através de nossas roupas, sapatos, brincos, anéis, cintos, relógios, piercings, broches, canetas, etc. Estamos convivendo com a explosão inicial dos wearables voltados para a nossa saúde e para monitoração do nosso corpo, mas já existem projetos de dentes, tatuagens e peles que atuarão como sensores dentro do nosso corpo. Ou seja, cada vez mais estaremos umbilicalmente ligados à internet.
Quer fazer um exercício de futurologia? Vai no excelente artigo "Wearable Future: What will be wearing in 20 years?". E aí? Deu frio na barriga?
Esse cenário abre um novo mundo para o marketing. A comunicação e o relacionamento serão de múltiplas vias. A nova realidade permitirá um conhecimento sem precedentes das preferências individuais de cada ser humano, de suas rotinas, de seus desejos e do seu estilo de vida. As novas tecnologias criarão canais individuais de comunicação com as pessoas. A interação com cada um será personalizada, através do meio que cada um mais aprecia ou tenha interesse. O big data de hoje parecerá brincadeira frente a capacidade de captura e análise dos dados pessoais em todos os dispositivos que as pessoas terão ao seu redor, seja através do que estarão vestindo ou de todos os dispositivos ao seu redor, em suas casas, nos supermercados, dentro dos carros, nos restaurantes ou no ambiente de trabalho. O nível de conhecimento sobre cada consumidor será altíssimo, e o custo para falar e interagir com ele será baixíssimo. Surgirá um novo mercado poderoso que será a venda do conhecimento a respeito de cada ser humano. Obviamente, existirão aspectos cruciais de privacidade, segurança, adoção cultural e outros desafios, mas estes são obstáculos que serão superados, da mesma forma como ocorreu com outros exemplos passados, como o surgimento dos emails e a chegada dos celulares em nossas vidas.
A mudança do marketing e da comunicação das empresas passará pela adoção sem precedentes de novas tecnologias. Os bons e velhos dogmas que conhecemos continuarão válidos, mas os profissionais da área se transformarão, cada vez mais, em seres tecnológicos dependentes. É preciso que tais profissionais se preparem para os próximos anos, pois a transformação do marketing começará por eles. Eles terão que lidar com áreas que hoje parecem distantes, como novas tecnologias, estatística, matemática, antropologia, ciências sociais, robótica, inteligência artificial, computação cognitiva, etc.
O marketing está se tornando cada vez menos empírico e mais racional, quem sabe uma ciência? Esta é uma transformação radical que precisa ser liderada pelos profissionais da área. Se tais profissionais não se anteciparem e assumirem o comando dessa viagem, certamente teremos novos convidados para serem DJs da festa, como engenheiros, cientistas, tecnólogos, estatísticos, antropólogos e outros especialistas.
E aí? Já comprou o seu Apple Watch?
Mauro Segura é líder de marketing e comunicação na IBM Brasil
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