Digital pode passar impresso ainda este ano
Circulação de alguns veículos brasileiros podem ver conversão em 2016, indicam números do IVC
Circulação de alguns veículos brasileiros podem ver conversão em 2016, indicam números do IVC
Igor Ribeiro
10 de fevereiro de 2016 - 5h31
A circulação digital paga de jornais subiu 27% no ano passado, na comparação com 2014, enquanto a impressa caiu 13%, segundo números do Instituto Verificador de Comunicação (IVC). No geral, o aumento acelerado da versão digital não supriu a queda do meio em geral, cerca de 8% (veja abaixo comparações trimestrais de circulação geral dos cinco maiores diários do País). Mas sinaliza que alguns veículos podem assistir, ainda este ano, a virada entre os dois tipos de circulação.
Na Folha de S.Paulo, por exemplo, circularam em média 146 mil exemplares digitais pagos diariamente em 2015, contra 189 mil no papel. O Correio Braziliense, 21 mil exemplares separam o impresso do digital, que aumentou 76,5% em 2015 na comparação com o ano anterior. No mineiro O Tempo a diferença é ainda menor – 16 mil exemplares – e o crescimento do digital é animador: 87,1%. Seu concorrente direto, O Estado de Minas, a diferença é de apenas 400 exemplares entre os dois tipos de circulação, com crescimento de 69,4% em 2015.
“É inexorável: o digital será maior que o impresso em circulação paga e, inclusive, já é em termos de audiência total”, afirma Murilo Bussab, diretor executivo de circulação e marketing da Folha. “Com banda larga mais rápida e a popularização dos dispositivos móveis, principalmente os smartphones, as pessoas têm preferido as versões digitais”, explica Pedro Silva, presidente do IVC, que atesta o crescimento perceptível do consumo de notícias via internet em todas as categorias de publicações
Apesar de não ser pioneiro, o modelo internacional para a adoção do paywall é o do New York Times, que já dura cinco anos. Na semana passada, o grupo anunciou alta de 13,8% de assinaturas digitais em 2015, que resultaram em US$ 192,7 milhões e têm compensado, desde o terceiro trimestre, a queda de receitas de impresso. Apesar de icônico, o gigante americano não caminha sozinho: em junho do ano passado a World Association of Newspapers and News Publishers (WAN-Ifra) comunicou, durante seu congresso anual, que a média global da receita proveniente da circulação de jornais bateu as de publicidade pela primeira vez no século, principalmente por causa dos entrantes em paywall e do incremento nas vendas digitais.
Seguindo o mesmo ritmo, o Brasil deve ver em breve o seu ponto de inflexão. No meio do processo, o IVC deverá rever o teto de auditoria de até 50% de edições digitais. Esse limite já foi de 20% no passado e é um gatilho antifraude: com preços de produção muito mais baixos que a do impresso, um publisher poderia vender, por exemplo, um milhão de exemplares digitais num pacote de paywall a custo de R$ 0,01 e adquirir um carimbo de circulação verificada injusto, se comparado com a concorrência. “Nosso comitê de jornais se reúne a cada três meses e, uma vez que é apresentada uma proposta, o processo decisório é razoavelmente rápido”, explica Pedro. O próximo encontro está marcado para março e pode rever, portanto, o teto de auditoria.
Risco calculado
Um dos casos de incremento de assinantes é o do Zero Hora, cuja venda média de versões online cresceram de 26,8 mil para 44,7 mil na comparação 2014/2015, uma alta de 21,4%. Andiara Petterle, vice-presidente de jornais e mídias digitais do Grupo RBS, cita uma série de novidades que têm colaborado nesse incremento. Uma das mais recentes é o ZH Tablet, versão de e-paper inteligente que entregou dispositivos aos assinantes com aplicativos RBS nativos. “Só nas modalidades digitais, queremos crescer 75% em 2016, chegando à circulação paga de 80,4 mil”, afirma Andiara. A aposta na modalidade é tão grande que um novo projeto do Zero Hora está sacrificando a edição impressa de domingo. “Sim, corremos o risco de diminuir no papel a edição de final-de-semana, mas me dá um boost no digital desproporcional”, defende Andiara.
O panorama econômico instável – que levou muitos anunciantes a procurarem as mídias mais baratas, eficientes e com melhores métricas – pode ter sido um dos fatores a contribuir com os resultados de digital no ano passado. Mas Maurício Lima, diretor de audiência da Infoglobo, pondera que só isso não explica todo o cenário. “Nosso estúdio Infoglobo, com produção de publicidade nativa e outros projetos especiais, tem se saído muito bem. Em termos de orçamento, está quase três vezes acima do que havíamos imaginado para 2015”, afirma.
A íntegra desta reportagem está publicada na edição 1696, de 8 de fevereiro, exclusivamente para assinantes do Meio & Mensagem, disponível nas versões impressa e para tablets iOS e Android.
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