Acessibilidade digital esbarra em falta de informação
Organizações, entre elas a Fundação Roberto Marinho, apoiam o projeto “Web para Todos” que chama a atenção para que sites sejam inclusivos
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Luiz Gustavo Pacete
21 de setembro de 2017 - 10h54
O analista de sistemas Leonardo Gleison Ferreira quer aumentar a frequência com que usa a internet para fazer compras. No entanto, o fato de ele ser cego o impede de participar de uma experiência de consumo que, na teoria, deveria ser inclusiva em função das diversas ferramentas existentes atualmente. “Curiosamente, ao fazer compras na loja física, preciso de ajuda apenas para encontrar os produtos e pago sem qualquer problema, já online, mesmo com alguma dificuldade, encontro todos os produtos, mas não consigo comprar”, diz Leonardo.
O desafio de Leonardo é o de milhares de outros brasileiros que esbarram em dificuldades de navegação por serem deficientes. Vagner Diniz, gerente geral do W3C Brasil, consórcio internacional que estabelece os padrões da web no mundo, explica que o desafio de Leonardo ocorre pela dificuldade de encontrar sites acessíveis. “São sites que são amigáveis para pessoas que utilizam tecnologia assistida para navegar, como cegos que navegam com leitores de tela, mas também são utilizáveis por pessoas idosas, pessoas com mobilidade reduzida, deficiência temporária e muitas outras situações de acessibilidade limitada”, explica Vagner.
Com o objetivo de contribuir para que mais sites sejam acessíveis no Brasil, Simone Freire, diretora da Espiral Interativa, reuniu dezenas de entidades para apoiar o projeto. “Web para Todos”. “Poucos conhecem a Lei Brasileira de Inclusão, que obriga aos sites serem acessíveis, e muito menos o potencial de consumo dos mais de 45 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência que poderiam estar comprando produtos, se divertindo e consumindo informação da sua marca”, diz Simone.
De acordo com Simone, ainda há um grande desconhecimento sobre o que é acessibilidade digital e barreiras de navegação. “Muitas pessoas desconhecem os problemas, não têm ideia, por exemplo, de como um cego navega, que os surdos precisam de Libras, que um tetraplégico navega pelo teclado usando a boca. Diante desse cenário, imaginei a criação de um ponto de encontro para tratar o tema da acessibilidade digital e fui buscar parceiros estratégicos.”
Entre os apoiadores do projeto estão entidades como NIC.br, Ceweb, CGI, Fundação Dorina Nowill, Fundação Fenômenos, Fundação Roberto Marinho, Grupo de Ensino e Pesquisa em Inovação da Escola de Direito da FGV SP, Associação Laramara, Instituto Mara Gabrilli, Instituto Rodrigo Mendes, MATAV-Unesp, ONCB – Organização Nacional de Cegos do Brasil, Prodeaf, Santa Causa, Secretaria da Pessoa com Deficiência do Município de São Paulo, Singolla e Trama Comunicação.
“O objetivo inicial é mobilizar as pessoas com algum tipo de deficiência a compartilharem as experiências, positivas e negativas, que tiveram ao navegar em sites brasileiros. A partir disso, a equipe do Web para Todos analisará cada caso e encaminhará a análise à organização citada para providências, se necessário. E isso já nos leva automaticamente para o pilar educação, onde será promovida a troca de conhecimento entre organizações (públicas e privadas), especialistas em acessibilidade digital e a sociedade em geral, por meio de cartilhas”, explica Simone.
Para Leonardo, um site acessível que o atenda vai além de questões tecnológicas. “Eu já vi empresas colocando barras de acessibilidade em sites com botões de contraste e ampliação para ter algo visível demonstrando que o site é acessível, achando que por causa disso já fez a sua parte, mas 25% da população pode continuar não conseguindo comprar nesse site”, ressalta.
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