E-mails revelam como Facebook negociava dados
Investigação do Reino Unido teve acesso a documentos trocados entre a liderança da rede social de 2012 a 2016
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Meio & Mensagem
6 de dezembro de 2018 - 11h06
Por Garett Sloane, do Advertsing Age
O Facebook está sendo acusado por legisladores do Reino Unido de oferecer acesso à base de dados de seus usuários com base na quantidade de investimento que um potencial parceiro estaria disposto a fazer. A afirmação é baseada em recentes documentos que colocam as lideranças da empresa sob uma perspectiva desfavorável.
Nessa quarta-feira, 5, o legislador britânico Damian Collins publicou uma coletânea de e-mails internos do Facebook, incluindo correspondências do CEO, Mark Zuckerberg, que relatavam como a rede social dá acessos aos desenvolvedores. A revelação dos e-mails trazem uma visão sem precedentes das impressões pessoais de Zuckerberg a respeito de algumas das decisões de negócio mais importantes tomadas pela companhia entre 2012 e 2016, no que diz respeito à permissão de que companhias externas atuem em sua plataforma.
“Estamos tentando permitir que as pessoas compartilhem tudo o que elas querem no Facebook”, escreveu Zuckerberg a colegas em 2012, quanto a rede social trabalhava na terceira geração de desenvolvimento da plataforma. “Algumas vezes a melhor maneira de habilitar as pessoas a compartilhar algo é fazer com que um desenvolvedor crie um aplicativo para um fim específico ou uma rede de conteúdo conectados diretamente na plataforma do Facebook”, disse.
“De qualquer maneira, isso pode ser bom para o mundo, mas não é bom para nós ao menos que as pessoas também compartilhem esse conteúdo de volta no Facebook e que isso amplie o valor de nossa rede social”, completou Zuckerberg.
A rede social declarou que os documentos revelados nesta quarta-feira, 5, “são parte de uma história e foram apresentados de forma enganosa, sem o contexto adicional”.
O que os e-mails mostram?
Os e-mails, de 2012 a 2016, mostram comunicados internos incompletos a respeito do que a rede social pensa a respeito do trabalho com desenvolvedores e da construção de sua plataforma. Em muitos dos e-mails, Zuckerberg se mostra preocupado sobre o que os dados de diferentes aplicativos poderiam acessar, como sua companhia deveria permitir esse acesso, qual benefício o Facebook teria e como a rede social deveria analisar os rivais e concorrentes. Zuckerberg mencionou companhias como Path e Pinterest.
Alguns e-mails também discutem a decisão do Facebook de, em 2014, cortar o acesso de dados ao Vine – aplicativo já extinto, que criava vídeos de seis segundos. Em um e-mail de 2013, um funcionário do Facebook escreveu: “A menos que alguém se oponha, nós iremos fechar o acesso dos amigos ao API hoje. Já prepararmos um PR reativo”, disse o funcionário.
Os e-mails revelam que o Facebook vendeu acesso aos dados dos usuários?
Em um comunicado enviado por e-mail ao Advertising Age, o Facebook mantém a posição de que a companhia “nunca vendeu dados pessoais”. Os e-mails revelados, de qualquer forma, mostram que a companhia se preocupa com uma certa “reciprocidade” – ou seja, permitindo que desenvolvedores construam em sua plataforma, recebendo acesso aos dados da base de usuários.
A liderança da rede social se mostrou preocupada a respeito do modelo de negócios que poderia colocar em seu serviço de desenvolvedores. Nos e-mails, foi discutida a criação de uma ad network e eles poderiam forçar os desenvolvedores a usa-la para gerar recursos financeiros. Zuckerberg e outros funcionários também discutiram o possível compartilhamento de receitas geradas pelos desenvolvedores e taxas básicas que poderiam ser incluídas cada vez que um fornecedor solicitasse uma API.
Se não vendeu, de que forma o Facebook utilizou os dados?
O Facebook deu acesso preferencial a certas companhias, como a Netflix, que fazia parte da “lista branca” que permitia o acesso à informações que não estavam disponíveis a todos. Em alguns casos, a permissão para acessar essa área especial de dados dependia de considerações financeiras.
Em 2013, por exemplo, o Royal Bank do Canadá queria lançar um novo aplicativo de pagamentos, que poderia atrair mais público caso o banco conseguisse acessar as listas de amigos do Facebook. Nesse caso, o e-mail revela que o Facebook estava interessado no dinheiro. “E acredito que será uma das maiores campanhas ‘neko’ que já aconteceu no Canadá”, disse um funcionário da rede social, no e-mail. Neko é o termo usado para campanhas publicitárias que promovem downloads de aplicativos, o que significa que o banco pode ter sido motivado a dispender uma grande quantidade de dinheiro para fazer publicidade de seu app na rede social.
Por que um legislador britânico revelou os e-mails da rede social?
No Reino Unido, Zuckerberg e os líderes da rede social estão sob um forte escrutínio desde que as polêmicas revelações de que a Cambridge Analítica teve acesso aos dados e informações de 87 milhões de usuários. A consultoria foi acusada de criar perfis detalhados de usuários com o objetivo de influenciar campanhas políticas em todo o mundo, incluindo o Brexit, em 2016.
Os legisladores obtiveram os e-mails com a empresa Six4Three, desenvolvedora do aplicativo Pikinis. O app, que não existe mais, permitia que os usuários encontrassem fotos de amigos usando trajes de banho em sua rede. A companhia move um processo contra o Facebook alegando que a rede social arruinou seu negócio em 2014 quando impediu o acesso de dados das listas de amigos pelo aplicativo. Segundo a Six4Three, a mesma permissão, no entanto, era dada a desenvolvedores de apps que pagavam muito dinheiro ao Facebook.
Nessa quarta-feira, o Facebook defendeu suas práticas de negócio em um post oficial em seu blog. “Ainda estamos mantendo as mudanças na plataforma que fizemos em 2014/2015, que impediu que as pessoas compartilhassem as informações de seus amigos com os criadores do Pikinis. As extensões que garantimos naquela época (a parceiros selecionados) eram de curto prazo e utilizados apenas para impedir que as pessoas perdessem acesso à funções específicas a medida em que os desenvolvedores atualizem o aplicativo. O Pikinis não recebeu essa extensão e, por isso, foi ao tribunal”, declarou oficialmente o Facebook.
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