O meio é a mensagem, porque também é conteúdo
A ideia defendida por Marshall McLuhan nunca fez tanto sentido e esteve tão atual
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A ideia de que o meio é a mensagem defendida por Marshall McLuhan nunca fez tanto sentido e esteve tão atual. O educador, intelectual, filósofo canadense, que viveu entre 1911 e 1980, simplesmente, vislumbrou a internet e a cibercultura quase trinta anos antes de seu boom. E isso não é pouco! O legado teórico deMcLuhan nos ajuda a entender o processo atual de mudança da comunicação, que vai muito além da migração do analógico para o digital.
O que que McLuhan teorizou e defendeu, baseado nos efeitos da comunicação de massa, especialmente, os da TV, não teve a compreensão e o apoio da maioria dos acadêmicos e dos profissionais em sua época. Mas podemos tentar corrigir parte dessa história, justificando suas ideias diante dos desafios que temos na construção de novos padrões de pensamento e no desenvolvimento de projetos digitais que engajem, de verdade, pessoas em causas e consumo.
Pare ele, o meio não é um simples canal de passagem do conteúdo, mero veículo de transmissão da mensagem. É um elemento determinante da comunicação, que desconstrói a obsessão pelo conteúdo dentro dos estudos da comunicação, resultado da cultura letrada, incapaz de se adaptar às novas tecnologias.
“Quase nada mudou. Além dos canais tradicionais, como TV, rádio, jornal e revista, agora temos a opção da internet” – frase quase sempre usada por muitos profissionais de mercado. Grande engano! Internet não é um simples canal e conteúdo não representa apenas posts customizados em redes sociais. É uma ruptura de pensamento, um mindset diferente, porque a questão não é tecnológica, mas cultural, diria McLuhan. Seguindo a ideia, o meio é a mensagem, porque também representa conteúdo, com enorme potencial de ludicidade, de cognição e sinestesia. Estimula a experiência sensorial, sentido que se associa a outro sentido, explorado pela extensão das sensações.
Para McLuhan, os meios são extensões dos sentidos dos homens, funcionando como uma espécie de “prótese técnica”. Nessa lógica, smartphones ou qualquer outro dispositivo ou central convergente podem ser as extensões dos dedos ou das mãos. E mais: a extensão da mente de cada um de nós, configurando uma relação simbiótica entre a tecnologia e o homem.
McLuhan se referia à ideia de convergência gerada pela TV, meio que lhe rendeu muitas entrevistas, a maioria delas, constrangedora. Sim, McLuhan quase sempre se mostrava visivelmente desconfortável e até constrangido em suas conversas com a imprensa sobre televisão. Ele sabia que não era compreendido. Os questionamentos o estimulavam a comentar a programação da época. McLuhan desejava mesmo era qualificar o meio como conteúdo e falar de seus efeitos.
A internet parece que sempre esteve no campo de visão de McLuhan, mesmo antes de existir. Como resultado de sua observação e pesquisa, ele passou a adotar em seus discursos o conceito de aldeia global, numa referência à convergência de mídias. Se pensarmos na internet, ela cria um espaço, em que a evolução tecnológica permite a comunicação descentralizada, portanto, direta, sem barreiras e em qualquer circunstância. Uma espécie de mundo interconectado por mídias de massa que simulam uma cultura global. É o rompimento com a ideia de tempo e espaço, como aprendemos no passado.
Um de seus discípulos, o também professor Derrick de Kerckhove tem uma frase que gosto bastante. “A última fronteira da relação biotécnica entre o homem e a máquina é a interface”. Ou seja, uma tecnologia aperfeiçoada é capaz de passar a fazer parte de nosso corpo, até o ponto em que ambos se tornam apenas um. A sensação do momento, o Pokémon GO – jogo de realidade aumentada para smartphones – é um caso que se encaixa nas teorias de McLuhan, além de outras dentro dos conceitos de virtualidade, interatividade e simulação. Pokémon Go entrega a cada jogador um repertório sofisticado, lúdico e rico, reforçando o meio como valor determinante de conteúdo para a experiência dos usuários. Diferentes meios estimulam novos graus de participação por parte de uma pessoa que escolhe consumir tal meio de comunicação, diria o professor. Trinta anos atrás, McLuhan de alguma maneira e em seu contexto, certamente, já capturava, batalhava e treinava criaturas virtuais.
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