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Opinião

A cultura participativa e os “ex-espectadores”

A união de múltiplas plataformas mascarou a concorrência entre os meios e a rivalidade de ideias: tudo em busca da sedução e retenção do target


7 de fevereiro de 2017 - 10h00

Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

Hoje, de forma abundante, se fala em cultura participativa. Muito mais do que uma expressão na moda para pautar o estímulo à participação dos consumidores midiáticos (“espectadores”), o atual cenário, alicerce dessa cultura, é moldado por profundas transformações sociais e midiáticas.

Tais transformações se estabeleceram a partir de diversos fatores, como a emergência de uma nova classe consumidora — ampliando o acesso às inovações nas plataformas e canais midiáticos; a reconfiguração de uma sociedade em rede — que conecta pessoas e derruba barreiras geográficas e temporais; e a possibilidade tecnológica de produção “amadora” — o que transforma os antes meros consumidores em prossumers; entre outros importantes aspectos.

Soma-se a tudo isso o fato de que a mídia está em franca e acelerada transformação. Essa afirmação acaba por ter certo ar de lugar comum, afinal, tudo, absolutamente tudo, na atualidade está em transformação e, portanto, com a mídia não poderia ser diferente.

Entretanto, me refiro aqui a uma transformação profunda e sem precedentes. Mesmo com a intensa proliferação de canais e pulverização da audiência hoje, a TV, por exemplo, tem menos de 90 anos e o panorama televisivo já se depara com o ataque da digitalização da TV mudando todos os parâmetros anteriores. O rádio FM é só um pouquinho mais velho e segundo Xavier Dordor (Mídia/Mídia Alternativa, editora Nobel, 2007), neste contexto de transformação, já pôs abaixo todas as normas jornalísticas e publicitárias do rádio tradicional conhecido como “periférico”.

O fato é que todos os espaços da liberdade e de consumo e todos os polos de interesse encontram-se hoje tomados pelos veículos de mídia e seu processo convergente: a vida por múltiplas telas nos prova isso. 

A mídia impressa igualmente evoluiu nos últimos anos se transmutando rapidamente, principalmente no setor das revistas com os títulos especializados. A imprensa diária, em boa parte alicerçada pelos jornais, ainda se desenvolveu do seu modo, notadamente em suas estruturas capitalistas, tendo passado nos últimos anos por uma transformação radical para se adaptar ao cenário digital e a cultura do free.

Em relação ao consumo e estilos de vida, as mídias assumiram um papel diferenciado e tentaram antecipar o futuro. Convergência passou a ser a palavra de ordem e, em lugar do pensamento único, a união de múltiplas plataformas mascarou a concorrência entre os meios e a rivalidade de ideias: tudo em busca da sedução e retenção do target.

O fato é que todos os espaços da liberdade e de consumo e todos os polos de interesse encontram-se hoje tomados pelos veículos de mídia e seu processo convergente: a vida por múltiplas telas nos prova isso. Por meio deles, as pessoas buscam, no consumo midiático, uma diferenciação, assim como uma participação — o que é mais recente. Daí essa produção intensa de conteúdo e a emergência da cultura participativa, que tem mudado o estado de espírito do consumidor, seus desejos e padrões, até mesmo a própria cultura de consumo.

As narrativas (ou tramas) nos conteúdos midiáticos produzidos na contemporaneidade são alteradas, de forma radical, pela participação do público consumidor. As obras ficcionais de essência aberta (sujeitas a modificações de acordo com a resposta da audiência), como as novelas por exemplo, agora parecem escancaradas para a influência dos “espectadores” — que parecem ser tudo, menos espectadores…

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