Cannes Lions abre espaço para a troca de consumo por consciência na moda

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17 a 21 de junho de 2024 | Cannes - França

Cannes

Cannes Lions abre espaço para a troca de consumo por consciência na moda

Diretor de marketing da Patagonia, fundador da All Saints e Conselho Britânico de Moda refletem sobre a insustentabilidade do modelo atual de produção e distribuição


21 de junho de 2024 - 8h38

Shailja, do Instituto de Moda Positiva; Tyler LaMotte, da Patagonia; e Stuart Trevor, fundador da marca que leva seu nome e da All Saints: é preciso fugir da lógica do “now and new” (Crédito: Celina Filgueiras)

“Vamos sair da moda” foi a proposta feita no seminário que contou com o diretor de produto e marketing da Patagonia, Tyler LaMotte, a líder do Instituto para Moda Positiva do Conselho Britânico de Moda, Shailja Dubé, e Stuart Trevor, fundador das marcas All Saints e a que, hoje, leva seu nome.

Shailja comentou sobre a atuação do instituto, em parcerias com plataformas como Fashion Awards e London Fashion Week, além de empoderar os estilistas do futuro para que tenham a sustentabilidade em seus DNAs e pratiquem a circularidade e trabalhar junto a fornecedores do segmento.

“Mas o fato é que a mudança climática está realmente ameaçando nosso futuro. E todos temos que fazer mudanças nessa indústria”, pontuou a executiva, antes de chamar ao palco os outros dois participantes do painel.

Com isso, os três conversaram sobre os desafios de tornar mais sustentável um setor conhecido por utilizar muitos recursos na produção de peças e desperdiçar excedentes, despejando toneladas de resíduos em países periféricos como Gana e o Chile (o deserto do Atacama virou um lixão para indústrias têxteis de todo o mundo, que acumulam ali seus restos de materiais).  Stuart disse que as pessoas estranham quando fala que “é uma marca de roupa que não produz roupas”. Com isso, explicou que a Stuart Trevor faz o upcycling. “Todos aqui devem ter roupas que não usam em seus armários”, comentou, para dizer que é esse material que sua marca utiliza, ou seja, o que já foi produzido.

Já o diretor da Patagonia rememorou a origem da marca criada por Yvon Chouinard, lembrando que era produtos não para ser fashion, mas roupas de proteção térmica que podiam salvar a vida de pessoas em condições extremas. Assim, enfatizou que “qualidade é central em tudo que fazemos, desde a forma de atender os clientes até a escolha dos fornecedores”. A marca é conhecida por roupas que duram muito e mesmo quando se deterioram, por promover o conserto de peças gratuitamente a seus clientes e mesmo de outras marcas.

Na Escócia, isso é feito até com um trailer que circula por lugares em que os esportistas costumam andar.

Novos mindsets

“E como mudar a narrativa consumista do segmento”, questionou Shailja. LaMotte contou que a Patagonia vem fazendo isso em mensagens que bem-humoradas, mas que transparentes e que transmitem consciência, como anúncio de roupas com os dizeres “Better than new” (Melhor que nova) ou “Se está quebrado, conserte”.

Trevor disse encorajar as pessoas a trazerem peças usadas e, então, a marca as repensa e dá novos propósitos. “Em 15 anos, não sei o que será o planeta, ser continuarmos assim”, refletiu.

Considerando que a indústria da moda é responsável por 10% das emissões de carbono, disse Shailja (maior que aviação e navios juntos), é preciso mudar o modelo atual e desenhar essa indústria de forma diferente. E os criativos podem ajudar o pensamento de todos a evoluir do “now and new” (para já e novo) para a valorização do que é vintage e mais durável.

LaMotte, da Patagonia, argumentou que a marca contribui com essa conscientização por meio da transparência que ajuda a educar consumidores e mudar comportamento. Hoje, disse, 90% dos produtos levam materiais reciclados. E até o fim de 2024, quer chegar a 100%.

A estilista britânica Vivienne Westwood foi a inspiração do trio para uma mensagem final no Cannes Lions e as mudanças que se espera que marcas e agências ali presentes possam trazer ao mundo, no que diz respeito à moda: “Compre menos, escolha bem e faça durar”. Ou seja, tudo bem não estar na moda, melhor é vestir o compromisso com a sobrevivência do planeta.

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