19 de junho de 2024 - 11h16
Talvez você tenha visto o Jesus Camarão, um fenômeno visual que tomou conta da rede favorita do seu tio, o Facebook. Criações, no mínimo insólitas, geradas por inteligência artificial que misturam a figura de Jesus Cristo com uma variedade de crustáceos, como camarões e caranguejos. Essas composições foram largamente amplificados por bots. Estamos diante de um conteúdo vazio, bizarro e produzido a partir do randômico-artificial e ainda com propósitos nebulosos. Nunca devemos nos esquecer da máxima:You can’t have AI without I, algo como “você não pode ter IA sem o “eu”, embora a graça do copy acabe quando a tradução começa.
Desde 2023 o tema Inteligência Artificial vem tomado os painéis, sessões, workshops e trabalhos em Cannes, e em 2024 não é diferente. Mas assim como as IA’s evoluem rápido, também nosso entendimento das ferramentas está mais maduro. Em sua sessão na Creative Academy, Natalia Talkowska CEO/Fudadora da Natalka Design, sediada em Londres, levanta a discussão que em um mundo conduzido por IAs, ideias produzidas por seres humanos terão muito valor. E não há porque discordarmos desse pensamento, uma vez que o artesanal nunca perdeu seu valor, muito menos o autêntico.
Um exemplo interessante, também mencionado por Natalia, é o projeto britânico de um selo de autenticação, chamado #MadeByHumans, fornecendo uma maneira fácil para usuários identificarem e celebrarem conteúdo genuíno criado por humanos, afinal, muitas vezes, não conseguimos notar a diferença.
Nós sempre nos conectamos por histórias, daquilo que está por trás das produções que acessamos, da intencionalidade humana. Dito isso, sabemos também que somos todos carregados de preconceitos historicamente construídos. Como as IA’s são alimentadas por nós, também espelham, com alguma distorção, o que somos. Como os dois elementos, inteligência artificial x inteligência humana, podem mutuamente se transformar? Temos exemplos felizes em Cannes, como o The Dove Code — shortlist de Titanium — que desafia os padrões de beleza impostos por nós mesmos, cristalizados e traduzidos por meio de IA’s. Em perfeita consonância com uma campanha que já dura 20 anos, Beleza Real, a marca também e comprometeu a nunca utilizar conteúdo gerado por IA, atraindo clientes que valorizam a autenticidade. Às vezes, é preciso mesmo celebrar os limites, e não apenas as possibilidades.