De frente para o júri: os bastidores da defesa de cases para a banca de jurados em Cannes

19 de junho de 2024 - 15h53

Diante de dez jurados e de uma pequena sala dentro do Palais des Festivals, em Cannes, defendi o case da campanha de Dia dos Pais de O Boticário. Estamos concorrendo na categoria Glass: The Lion For Change, que reconhece trabalhos sobre diversidade e equidade de gênero, ao lado de mais 17 finalistas, sendo quatro brasileiros.

Entrar no shortlist do Glass tem um sabor especial. É uma categoria que premia legado, transformação, temas completamente alinhados aos valores e ações do Grupo Boticário e ao que busco em minha carreira.

Em 20 minutos, sendo 10 para fazer o pitch e 10 abertos para perguntas, você fica diante de uma banca formada por profissionais especialistas e muito reconhecidos pelo mercado. No meu caso, para o Glass, o prêmio valoriza a transformação cultural e avanço social na agenda de equidade de gênero, logo, todos tinham muita propriedade sobre o tema.

E, aqui, já trago minha primeira consideração: assim como na comunicação e na vida, em uma banca como essa, você precisa conhecer sua audiência, o que move cada um, os valores, com o que se envolvem, tanto para elaborar seu argumento, quanto para ajustar o tom da sua apresentação e se preparar para possíveis perguntas.

Outro ponto crucial para uma apresentação como essa: embasamento e profundidade. O que aconteceu depois que o case foi ao ar, não só em termos de engajamento ou KPIs de mídia, mas com as pessoas? Com a sociedade? Números, aprendizados.

Fragilidade de resultados coloca em dúvida a potência da ação – na categoria Glass, por exemplo, o importante é ter uma ação que promova mudanças de verdade, que mexa com a cultura e traga impacto social, criativo e de inovação. Então, precisávamos responder claramente como a nossa proposta estratégica criativa desencadeou ações concretas.

Talvez a imagem que passe de um momento como esse é de intimidação e, apesar do nervosismo, que sempre acompanha grandes momentos, me vi num ambiente bastante leve, com pessoas torcendo pelo nosso case na plateia e jurados querendo entender genuinamente mais sobre o assunto – é muito bom quando alguém se interessa pelo que você tem para falar. No caso da licença parental e a campanha de Dia dos Pais, poderíamos ter ficado conversando muito além dos 20 minutos.

Dentre as 30 categorias do Festival, somente três requerem a defesa dos cases: além da Glass, temos a Innovation, que premia campanhas inovadoras, e a Titanium, que reconhece os trabalhos mais provocativos e ousados. Essas também são as únicas que divulgam a shortlist com antecedência, dando tempo para os finalistas prepararem os pitches.

E, nesse momento, começa toda uma agenda de estratégia para a banca. Chegou o e-mail: reunião. É hora de montar um plano para levantar os argumentos, criar materiais de defesa, apresentações, gravar conteúdos complementares, ensaiar, ensaiar, ensaiar.

Durante o ensaio, precisei reduzir meu texto três vezes para garantir o tempo obrigatório da apresentação. Fazer esse exercício só me ajudou a deixar a fala melhor: mais objetiva e destacando as mensagens mais importantes. É comum ver as pessoas ensaiando pelos corredores e mentalizando o que não pode deixar de ser dito.

É importante destacar também o envolvimento dos times neste processo. É bonito ver cliente e agência como um só. A sensação é realmente como se fôssemos um time de futebol em um campeonato – nos preparamos, treinamos e fomos para a final, e temos muita gente vibrando junto a cada gol da partida.

Independentemente do resultado, que tem a celebração marcada para o último dia do Festival, é um privilégio poder apresentar para uma banca de altíssimo nível e com alto grau de envolvimento um trabalho que você acredita.
Então, mostre que você acredita, as pessoas vão sentir isso!