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Criatividade e impacto social, a visão do Mestre Spike Lee

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Diário de Cannes

Criatividade e impacto social, a visão do Mestre Spike Lee

Pelo poder de impactar o imaginário das pessoas e influenciar a autenticidade dos indivíduos, por meio dos personagens representados, ensinou Mestre Lee


27 de junho de 2023 - 10h06

Em sua estreia no Festival de Cannes, o super cineasta Spike Lee trouxe à tona reflexões sobre o trabalho como legado, compartilhando momentos de sua carreira e ressaltando a importância da criatividade na arte de contar histórias.

Acostumado ao red carpet dos festivais mundo afora, esse ícone foi homenageado pela primeira vez no Festival de Criatividade, na categoria inaugural “Creative Maker of the Year” – parte das comemorações dos 70 anos do Cannes Lions.

A temática contada pelo Mestre (para mim) Lee se conecta diretamente com o Glass Lion, categoria que premiou campanhas focadas no combate à desigualdade e violência de gênero. E algumas notáveis concorreram, destacando exatamente o que foi dito por Spike: a publicidade tem um poder enorme de impactar e abordar temas que são globais e necessários.

A campanha “Periodsomnia” é um ótimo exemplo: trouxe a menstruação e a dificuldade que é dormir ‘naqueles dias’, algo que nem passa pela cabeça do universo masculino.

A ação apresenta o absorvente da marca como um facilitador do sono, transmitindo a mensagem de que, embora a menstruação nunca pare, é possível dormir bem. Esse diferencial tocou profundamente muitas mulheres, inclusive a mim, e em nenhum momento fez qualquer citação ao produto em si. Palmas para a sensibilidade da narrativa! Qual mulher nunca manchou uma cama nos dias de fluxo mais intenso?

Outra que merece destaque é a “Braids of Freedom”, da cerveja Águila, que resgata a história das tranças como um símbolo de liberdade para as mulheres pretas, que, no passado, enfrentaram o terror da escravidão,e que outras formas de opressão persistem, como a dependência financeira. Contra isso, Águila direciona seus valores para apoiar negócios femininos, lembrando-nos que na Colômbia o desejo de progresso vence o medo.

Esses temas trouxeram exatamente o que Spike Lee apresentou em sua visão sobre publicidade: ele afirmou que o setor, sozinho, tem dificuldades em transformar o mundo, já que precisa fazer dinheiro vendendo produtos e serviços. No entanto, é possível utilizar a criatividade para contar boas histórias e impactar, mesmo em campanhas para vender exatamente os mesmos produtos e serviços.

Chega de derramar líquido tingido no absorvente ou encher o comercial de cervejas de corpos seminus.

Mas, Spike, como fazer isso?

Pelo poder de impactar o imaginário das pessoas e influenciar a autenticidade dos indivíduos, por meio dos personagens representados, ensinou Mestre Lee.

Claro, não dá para transformar o mundo inteiro só com uma propaganda, nos contou o realista Spike Lee. E eu concordo, afinal, no fim do dia, nas métricas de campanha, na reunião com quem paga tudo isso, sua excelência O Cliente, precisamos vender, não é mesmo?

Porém, podemos ir além, podemos tocar a autenticidade das pessoas e trazer reflexões importantes ao mesmo tempo que vendemos.

E, sim, Spike Lee é um mestre na arte de provocar por histórias. Ele usa sua narrativa das ruas, com uma linguagem cheia de símbolos e significados, para nos fazer pensar. Quando a gente se conecta com uma história, quando ela toca nossa essência, algo mágico acontece.

Exatamente como seus trabalhos mais marcantes fizeram: em sua palestra, o Mestre de elegantes óculos vermelhos destacou seu papel pioneiro desde os anos 1980, em que trouxe narrativas genuínas das ruas com uma linguagem semiótica única.

Assim, ele nos mostrou que criatividade e originalidade são essenciais para se destacar em meio a um mar de anúncios e propagandas, budgets e algoritmos, inteligência artificial e robôs.

Acredito que a publicidade é uma ferramenta poderosa, capaz de alcançar e influenciar milhões de pessoas ao redor do mundo, de moldar opiniões, despertar emoções e até mesmo impulsionar mudanças sociais.

Porém, é preciso que os profissionais da área sejam conscientes do impacto que suas campanhas podem causar. É necessário investir em mensagens autênticas, que respeitem a diversidade e promovam valores positivos.

Por falar em algoritmos, também é evidente que a publicidade precisa investir em dados qualitativos. Mas, o grande desafio reside em aprofundar-se nesse aspecto e, ao mesmo tempo, considerar que semântica e símbolos são significativos para diferentes culturas – e, embora os símbolos possam variar, os sentimentos humanos são universais.

O legado de Spike Lee servirá como inspiração para futuras gerações de criativos e publicitários que buscam ampliar os limites do storytelling e criar conexões profundas com o público.

Obrigada, Mestre Lee, por nos mostrar como do the right thing!

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