Festival de Cannes: um jovem de 70 anos
Diversidade artística, debates atuais e aposta na tecnologia mostram que a maturidade só fez bem para o evento. Brasil trouxe para casa 92 leões
Diversidade artística, debates atuais e aposta na tecnologia mostram que a maturidade só fez bem para o evento. Brasil trouxe para casa 92 leões
3 de julho de 2023 - 17h30
Hora de desfazer as malas, mas ainda ecoa a sensação incrível de uma jornada muito proveitosa na Riviera Francesa. Todo ano, o Festival de Cannes consegue nos surpreender e se provar sempre mais atual. A festa vai muito além da premiação, ainda que, claro, seja muito gratificante acompanhar o êxito do Brasil e seus cases, em especial este ano, abrilhantando a nossa participação no Olimpo da criatividade global.
Depois de cinco dias de muitas premiações, trouxemos para casa 92 leões para agências e anunciantes locais. O total superou a marca alcançada no ano passado, quando o país abocanhou 70 Leões.
A @BETC Havas, agência na qual atuo como copresidente, foi premiada com um Leão de Prata na categoria
“Entertainment for Music” pelo projeto “Salve a Favela”, criado em parceria com KondZilla, Mainstreet e Santeria Produtora, e um Leão de Bronze na categoria “Brand Experience &Activation” para a “Petra Milk”.
A campanha “Salve a Favela” foi desenvolvida para conscientizar e cobrar justiça pelas famílias que perderam entes queridos para a violência policial nas comunidades, tornando casos reais, como os retratados no filme, em crimes cada vez menos comuns. O reconhecimento e a visibilidade que o evento em Cannes traz para o tema é mais uma grande força para ampliarmos a discussão.
A edição deste ano recebeu mais de 26,6 mil inscrições de 86 países, um aumento de 6% em relação a 2022. Ao todo, o Brasil teve 2.037 cases inscritos. Ficamos atrás apenas dos EUA, com 7.303 trabalhos, e do Reino Unido, com 2.201. No ano passado, foram 1.942 inscrições brasileiras.
Os números mostram o quão concorrido é o Festival. Muita gente boa disputando o “Oscar” da publicidade!
Mas a festa encanta de formas diversas e a premiação é na verdade a cereja do bolo. Enquanto isso, seus ingredientes variam entre o excelente conteúdo dos debates, a experiência vivida ao longo da Croisette ensolarada e seus arredores, e a oportunidade única de relacionamento com pessoas interessantes vindas de todo o planeta. Uma verdadeira volta ao mundo em sete dias.
Ao todo, o Festival reuniu quase 400 speakers. Entre alguns nomes que não posso deixar de citar, estão o premiado diretor de cinema Spike Lee, os atores Kevin Hart, Halle Berry e Eva Longoria, e a vice-presidente de Marketing do Airbnb, Nancy King.
Quero destacar aqui também a participação das big techs. Era possível sair da Praia da Meta, um QG temporário – de muito bom gosto – que a dona do Facebook constrói durante a temporada em uma praia ao lado do Palais, para visitar os espaços de TikTok, YouTube e Spotify.
Como não poderia deixar de ser, ao percorrer os domínios tecnológicos à beira-mar, a inteligência artificial era o “talk of the town”, dando descanso aos NFTs, a vedete de edições anteriores e de feiras, encontros e outros festivais em que estive nos últimos dois anos.
Para mim, algumas tendências ficaram muito claras. Afinal, quem participou da festa estava no lugar certo e no momento exato para observar e absorver o movimento global das marcas.
Uma delas passa por questões de geografia e, por que não, geopolítica. Vemos a chegada de novos países como participantes da festa, enquanto, na contramão, fica evidente que são sempre as mesmas forças liderando as conversas.
Cannes funcionou como uma boa tradução do que está acontecendo no mundo, com disputas geográficas e a guerra fria estabelecida entre Estados Unidos e China.
Esse traço ficou bastante evidente nas próprias experiências das marcas na Croisette proporcionadas por expositores chineses e americanos, em especial no segmento de tecnologia.
Outra tendência, como falei há pouco, tem a ver com inovação. Hoje, a IA domina as conversas, mas tem muita tecnologia sendo produzida e o evento foi uma oportunidade de conhecer outras plataformas inovadoras determinadas a desenvolver soluções melhores e mais interessantes para que as marcas possam conversar, de maneira mais eficiente, com os seus consumidores.
Para finalizar, falando da premiação em si, fiquei muito entusiasmado com a qualidade incrível dos trabalhos. O Brasil conseguiu atingir um resultado positivo, com muitos cases sendo reconhecidos. Desta forma, novamente, o nosso país volta a ser uma conversa bacana entre todos os concorrentes e os participantes em geral.
Quem ainda acha que Cannes é um evento do passado, esta 70ª edição mostrou o poder de renovação do Festival. A meu ver, a festa consegue ficar mais jovem a cada ano, trazendo ao espetacular cenário da Riviera Francesa temáticas atuais e que abordam importantes áreas como criatividade, diversidade, tecnologia e negócios.
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