O desafio do viés

17 de junho de 2024 - 10h48

Começou o júri de Design, que eu integro. Um convite inesperado e, sem falsa modéstia, sinto a honra inusitada de estar entre profissionais que admiro. Vivo desde então o clichê do expectador que passa a fazer parte do espetáculo. E quando me perguntam qual a expectativa, respondo: o que posso esperar do que não esperava?

O que estou aprendendo é abrir um olhar mais amplo para nosso mercado criativo. Como avaliar e entender ideias, narrativas e as execuções feitas para serem tão relevantes, impactantes e transformadoras. E como profissionais do mundo todo compartilham e debatem os pontos de vista para selecionar o que é, de fato, a criatividade efetiva de uma forma transcultural.
Surgiu um sentimento que batizei de “desafio do viés”. Debater num idioma que não é o meu, e ser minoria nessa situação na mesa, já é um desafio. Mas a babel de Cannes eu creio que seja outra, pois o que é criatividade para o brasileiro pode ser diferente para o resto do mundo, e vice-versa. Sabemos que a organização do festival tem se esforçado e preparado os júris para esse viés cultural, mas isso não é algo tão simples de se resolver, apesar dos treinamentos pré-júri.

Também é um desafio, para quem concorre, fazer a inscrição relatando em poucas palavras as nuances culturais, quando existem contextos tão peculiares. Se não é o cultural, há o viés do segmento também. O que é craft para um design de packaging, ou para um craft de categoria digital? Qual é o valor de uma ideia? Pode ser diferente do valor de uma execução dependendo da subcategoria que está em julgo.

Publicitários, jornalistas, redatores, mídias, produtores e designers são tribos diferentes de uma grande massa unificada da comunicação. Estando aqui, vivendo essa experiência, começo a entender que o viés da indústria também faz parte da riqueza do processo do Cannes Lions.