O Júri e a Juíza – de Cannes a Santa Catarina

24 de junho de 2022 - 11h35

O dia de ontem foi realmente especial. O case #meninaajudamenina que fizemos para Always da P&G nos rendeu o nosso primeiro shortlist em Cannes. Uma história linda que começou com uma pesquisa que detectou que 1 em cada 4 meninas no Brasil deixa de ir à escola por falta de dinheiro para comprar absorventes, e que acabou se transformando em um movimento que culminou na aprovação de uma lei nacional que vai beneficiar mais de 5 milhões de meninas no Brasil. Um misto de muita alegria, ansiedade e alívio com o sentimento de dever cumprido.

Pronto! Agora é fazer um post no Linkedin com um texto agradecendo todos os envolvidos da agência ao cliente, de fornecedores a apoiadores; e celebrar. Mas como comemorar a vitória de um case com essa pauta em uma semana em que o que mais se falou foi sobre o caso de uma criança de 11 anos, vítima de estupro, ter o aborto negado por uma juíza de Santa Catarina (Joana Ribeiro – importante lembrar o nome!) e as minhas redes sociais estão inundadas com a necessária e perfeita hashtag #criançanaoemaeestupradornaoepai?

Queria poder comemorar não a conquista, porque esta aconteceu no dia 18 de março deste ano com a promulgação da lei, mas o reconhecimento desse projeto que tanto nos orgulha e ao time da P&G. Mostrar que as pautas de gênero estão ganhando cada vez mais espaço e que, a cada dia, situações absurdas como a de garotas que perdem até 1 mês de aula por ano por não conseguirem frequentar a escola quando estão menstruadas, estão deixando de existir. Mas a magistrada do TJSC me deu um choque de realidade. Estamos ainda muito longe disso.

Por essa razão, decidi usar este espaço e este momento, que deveriam ser somente de alegria, para dar um pouco mais de visibilidade para esse caso que, infelizmente é só mais um, entre tantos que acontecem no Brasil. Porque Cannes não é um mundo à parte. Tem festas, prêmios, encontros e comemorações, mas os trabalhos apresentados aqui são um espelho daquilo que é relevante para a nossa sociedade. Temos aqui inúmeros projetos que mostram que estamos evoluindo muito em pautas como essa, mas se fecharmos os olhos para os retrocessos, as conquistas serão apenas vitórias pírricas.

Espero que o júri de Cannes possa ajudar a repercutir ideias que influenciem positivamente o pensamento de juízas e juízes, e da sociedade como um todo, porque no final do dia, é disso que se trata o Festival de Cannes.