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O politicamente correto e o Burger King

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Diário de Cannes

O politicamente correto e o Burger King

Em dois dias de ideias “nutricionalmente corretas”, me fartei de hamburguer


20 de junho de 2019 - 17h59

No terceiro e no quarto dias do festival tive a confirmação das minhas percepções do primeiro deles. As marcas estão realmente comprometidas com o discurso (e às vezes com as ações) voltadas ao politicamente correto. Foram mais alguns keynotes falando de causas e propósitos importantes.

Sheryl Sandberg, do Facebook, num discurso muito ensaiado reforçou enormemente o compromisso da plataforma no combate às fake news, no uso responsável das informações dos usuários e outras posturas esperadas. Relacionou sua história pessoal com a da empresa e humanizou seu conteúdo falando da morte do marido. Atrás do feed também bate um coração. Ainda na quarta, a CMO da Amex também se muniu de histórias pessoais, suas e de clientes, para humanizar o marketing. Quis fazer um contraponto aos excessos da tecnologia.

Hoje a tônica foi a mesma no painel sobre marketing para longevidade. A diferença é que, afora o aspecto de causa, houve espaço para um olhar pragmático sobre o que representam os números desse mercado. Todos nós que chegaremos ou já estamos na faixa dos 50+ daremos cada vez mais as cartas do consumo. A questão na mesa é se até lá a publicidade terá deixado de ignorar ou mal representar esse target.

Completando alguns dos recortes em torno de causas, Getty Images e Dove ganharam espaço para falar do seu novo e gratuito banco de imagens. Criado com fotos de mulheres “reais” do mundo inteiro para contribuir de forma prática na reconstrução dos modelos de beleza femininos. São mais de cinco mil fotos de 35 países. E a campanha pela real beleza segue se reinventando mais de dez anos depois.

Dito tudo isso, o que adorei foi o case de Burger King. Na forma e no conteúdo. Com dois brazucas no palco e muito bom humor mostrando que, mais do que ficar atentos às causas, estão aí pra causar. Figurando em vários shortlists, as campanhas da marca têm em comum o improvável e a irreverência. Já que vão falar de veganismo, fazem loucos por carne comer um hambúrguer vegano sem saber. Se é pra fazer promoção, decidem “vender” seus hambúrgueres no McDonald’s. E porque não queimar os anúncios do concorrente também? Os cases são bem conhecidos, mas pescar os detalhes servidos numa narrativa deliciosa foi saboroso. Bem melhor que os sorvetes de baunilha das palestras anteriores. Nada de errado com os sorvetes. Talvez seja esse o problema.

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