18 de junho de 2017 - 15h14
Bjarke Ingels deu hoje, em pleno domingão, uma palestra para cerca de 60 pessoas em um pequeno palco do Lions Health.
Provavelmente a melhor palestra que já vi em Cannes.
Eu sei que essa é uma afirmação polêmica diante da enorme quantidade de palestras boas em todos esses anos de Cannes Lions.
Sei também que dá para acreditar no que digo diante da igualmente enorme quantidade de palestras ruins que acontecem por aqui.
Mas se você assistiu à série Abstract, da Netflix, sabe que a chance de eu estar certo é enorme.
Ingels é um arquiteto brilhante que, alem de estrelar um dos melhores episódios dessa série sobre design e criatividade, é dono de um escritório em NY responsável por alguns dos projetos arquitetônicos mais interessantes da atualidade. Entre eles uma usina termo-elétrica com uma pista de esqui no teto. Sim, isso mesmo, você leu certo.
Ele faz de tudo: prédios, praças, estádios, conjuntos habitacionais, estádios, pavilhões.
Em todos, Ingels aplica o que gosta de chamar de “utopia pragmática”: a capacidade de realizar aquilo que acredita ser um ideal de mundo em um pequeno e controlado projeto.
A razão de sua palestra em Cannes foi a comparação inevitável entre a propaganda – especialmente a farmacêutica: super regulamentada e cheia de restrições – e a arquitetura. Ele deu um show.
Por suas próprias palavras, seus projetos normalmente carregam ingredientes arquitetônicos tradicionais em uma mistura não convencional. E isso nos conecta diretamente pois quem cria sabe que os resultados bons inevitavelmente vêm a partir de conexões inesperadas.
Um dos momentos realmente emocionantes se deu quando ele quis justificar a ideia que está aplicando em uma usina que projetou: uma chaminé que solta anéis de vapor ao invés da tradicional fumacinha contínua. Ele diz se movido pelo objetivo de criarmos nossos filhos em um mundo onde não é mais impossível fazer coisas assim.
Ele quer que o seu filho e o meus filhos duvidem que alguém, um dia, disse que seria impossível uma usina soprar anéis de vapor pelo ar.
Ao explicar suas ideias e como as realiza, Ingels, com muita simplicidade, nos faz ver a sua clareza de raciocínio, os valores que defende – entre eles, que a sustentabilidade não precisa tornar a sua vida miserável para ser boa – e a assombrosa sucessão de acertos de sua carreira.
Mas não pense que as boas ideias chegam fáceis assim. Segundo ele, todos nós, publicitários ou arquitetos, temos que beijar muitos sapos até chegarmos na ideia certa