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Diário de Cannes

Tripalium

Trabalho. A palavra que tem, em sua origem do latim, um instrumento de tortura, não deve ser coisa boa


14 de junho de 2016 - 15h48

Quem me conhece já me ouviu falar isso: a palavra “trabalho” vem do latim tripalium, que era uma antiga ferramenta romana usada para arar a terra. Mas, humanos que somos, mais uma vez estragamos tudo. E os “três paus” do tripalium, em vez de só arar a terra, passaram a arar as costas de quem não pagava os seus impostos.

Trabalho. Uma palavra que tem, em sua origem, um instrumento de tortura, não deve ser coisa boa.

Só que, séculos depois, neste 1964 travestido de 2016, dei uma palestra em uma faculdade e ouvi a seguinte pergunta: “sua profissão é uma dádiva ou um fardo?”

Resposta: há dias em que eu viro a noite, a campanha volta, a contratação é vetada, a campanha volta de novo, a conta sai, a verba cai e aquela coisa toda. Nesses dias, eu tenho a certeza de que ser publicitário é um fardo e o tal tripalium está enterrado fundo na nossa bunda.

Mas há dias como os do Festival Internacional de Propaganda de Cannes. Quando vou encontrar amigos de outras agências e de outros países. Ver apresentações de gente como o Shane Smith, Spike Jonze, Anthony Bourdain, Iggy Pop e Oliver Stone. Discutir a contemporaneidade, igualdade de gêneros, política, sexo, diversidade, e como tudo isso influencia a criatividade e a propaganda. (Ou vice-versa?)

São dias como esse que me fazem concluir que, se tem uma profissão que me aproxima das coisas que eu mais gosto – gente, literatura, cinema, arte etc. – então trabalhar com isso é legal pra caralho.

“Festival de Cannes 2016”: isso é o que vai estar no meu time sheet durante oito dias. E se está no time sheet, pessoal, então é trabalho.

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