Elon Musk explica por que mandou indústria publicitária se f**er
No painel mais disputado dessa edição do festival, Musk criticou postura de anunciantes no X, falou sobre o avanço da IA, exploração das galáxias e da aposta em robôs humanoides
Elon Musk explica por que mandou indústria publicitária se f**er
BuscarNo painel mais disputado dessa edição do festival, Musk criticou postura de anunciantes no X, falou sobre o avanço da IA, exploração das galáxias e da aposta em robôs humanoides
Isabella Lessa
19 de junho de 2024 - 9h43
Confirmado na programação do Cannes Lions dias antes de o festival começar, Elon Musk é o nome mais pop a participar dos seminários este ano. Uma das figuras mais proeminentes da indústria de tecnologia e mídia no mundo atualmente, o CTO do X (antigo Twitter), CEO da da Tesla e investidor em uma série de outras empresas, desperta sentimentos diversos, da ojeriza à admiração, por suas colocações polêmicas e decisões de negócio que, por vezes, provocam reações incrédulas entre especialistas do mercado.
Por esses e outros motivos, é natural que o bilionário atraísse todas as atenções no Palais des Festivals na manhã desta quarta-feira, 19. Houve quem chegou muito cedo para assistir à aguardada entrevista conduzida pelo CEO do WPP, Mark Read. A tática utilizada por muitos foi a de ocupar as cadeiras do Lumière Theatre desde às 10h da manhã, quando aconteciam os paineis anteriores, na tentativa de garantir o lugar para a sessão marcada para as 11h45.
Mas a estratégia foi em vão, já que os organizadores do evento se certificaram de esvaziar o enorme auditório assim que Esi Eggleston Bracey, chief growth and marketing officer da Unilever, encerrou sua apresentação. O que se via do lado de fora do Lumière, uma hora antes do painel, eram dezenas de semblantes visivelmente preocupados em não conseguir lugar – e confusos, por não entender ao certo a lógica da fila que serpenteava escadas e corredores acima.
Com 15 minutos de atraso, Musk e Read entraram juntos sob a salva de palmas de um auditório lotado até a capacidade máxima, meticulosamente esquadrinhado por seguranças atentos, posicionados em diversos pontos do palco. Assim que ambos tomaram seus lugares, o silêncio tomou conta do auditório, cortado somente pelos cliques das câmeras dos fotógrafos apinhados em frente ao palco.
“Bem-vindo ao coração da indústria de publicidade”, disse Read, para logo na sequência relembrar que, em novembro, Musk mandou toda a indústria publicitária se f**der. “Vamos começar por aí. Por que você disse isso e o que quis dizer?”, perguntou o CEO do WPP.
Musk se justificou dizendo que não estava se referindo à publicidade como um todo. “Com todo respeito à liberdade de expressão, é preciso ter uma plataforma na qual as pessoas possam falar. Em alguns casos, anunciantes insistem em censura e, se tivermos que fazer uma escolha entre censura e dinheiro, ou entre liberdade de expressão e perda de dinheiro, vamos apoiar a liberdade de discurso ao invés de sermos censurados pelo dinheiro. Creio que seja a decisão moral correta”, explicou.
Ao longo da conversa que se estendeu por 45 minutos (via de regra, os painéis do evento duram meia hora e não costumam extrapolar esse tempo), Read questionou Musk sobre criatividade, IA, negócios e o futuro da humanidade. Confira os principais tópicos abordados:
Claro que os anunciantes têm de ser próximos ao conteúdo que consideram compatíveis com os de suas marcas. Tudo bem. O que não é legal é insistirem que não pode haver conteúdo do qual discordam na plataforma. Para que o X possa ser a praça pública do mundo, é que melhor que seja um lugar com liberdade de expressão. Não quer dizer que as pessoas possam dizer coisas ilegais ali, mas é imperativo que tenham o direito de falar.
O uso da publicidade mudou dramaticamente. Se você vê uma publicidade de um serviço ou produto que você quer, isso é conteúdo. Se vê um anúncio de algo que não quer, é ruim. Então a publicidade relevante é orientada às necessidades do indivíduo. Sou fã da publicidade que entretém. O teste é: você se arrepende de ter visto aquela propaganda e quer aqueles segundos da sua vida de volta? Ou viu algo interessante, mesmo que não vá comprar o produto?
Com o Twitter old school não havia conversa, não dava para driblar um anúncio do McDonald’s. Desde então, aprimoramos a segmentação de acordo com a pessoa. Estamos construindo um sistema de IA que, conforme é utilizado, entende mais e mais sobre aquele usuário. Os anunciantes deveriam testar, estou interessado em receber feedbacks. Se quer alcançar as pessoas mais influentes do mundo, não apenas influenciadores de social media, mas empresas e intelectuais influentes, a plataforma X é, de longe, a melhor. Muitas pessoas não estão vendo TV ou fazendo vídeos do TikTok. O X é melhor que outras redes sociais, tem cinco ou seis milhões de usuários mensais e 250 milhões diários.
Ninguém pode ser 100% otimista ou pessimista em relação à IA. Concordo com Jeff Hinton, um dos pais da IA. Ele acha que há 10% ou 20% de probabilidade de algo terrível acontecer. O copo está 80% cheio, vamos olhar pelo lado bom. O caminho mais provável é o da abundância, em que bens e serviços estarão disponíveis para qualquer pessoa, não haverá escassez na Terra. Pode soar como algo ótimo, mas passaremos por uma crise de significado. Se a IA pode fazer tudo que você pode fazer, qual é o sentido de fazer coisas? Haverá uma crise existencial. Estamos caminhando para a era da abundância, essa é a época mais interessante de todas. Mesmo que o pior cenário aconteça e a gente fique alienado, quero estar aqui para ver.
Em termos de segurança, temos que fazer com que a IA seja o mais verdadeira e curiosa possível. Em 2001, uma odisseia no espaço, mandam a IA levar os astronautas para o monolito, mas ela decide matar os astronautas. O ponto que Arthur C. Clarke traz é que não se deve encorajar a IA a contar mentiras.
Ajudei a fundar a OpenAI porque o Google era dominante em AI. E eu achava que o Larry Page (ex-executivo do Google) não estava preocupado com a segurança da tecnologia. A OpenAI nasceu com boas intenções, era open source, mas hoje é algo diferente do que a intenção inicial.
A IA será criativa e poderá criar coisas originais. Acho que IA pode enaltecer a inteligência humana. Amplificará a criatividade. Vai mudar as coisas muito rápido, veremos mudanças radicais no ano que vem.
A Optimus será uma espécie de robô funcional e humanoide e será cuidadoso ao fazer uma série de tarefas, como cuidar da casa, ensinar crianças, passear com o cachorro, fazer o jantar, tocar piano. Quero que os robôs sejam bonitos e serão amigos das pessoas, como C3PO ou R2D2, do Star Wars.
O objetivo da SpaceX é oferecer uma vida multi planetária para estender o tempo de vida da consciência. Sempre foi o objetivo, existe um vídeo sobre o assunto de 20 anos atrás. Para fazer isso, precisamos transportar muita gente e equipamento para Marte. Vamos deixar de ser uma civilização que habita um único planeta, que é uma situação precária. Poderemos ir para outros sistemas solares, explorar galáxias e encontrar civilizações que morreram há muito tempo e estão ali, entre as estrelas. Sou motivado pela curiosidade e pela natureza do universo. Onde estão os alienígenas? Os alienígenas existem? Estamos em um multiverso? Quais são as perguntas certas a serem feitas?
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