“Não há sentido na publicidade se ela não tocar as pessoas”
Maior vencedor da história do Cannes Lions, David Droga, fundador da Droga5, revisita as lições dos 30 anos de carreira
“Não há sentido na publicidade se ela não tocar as pessoas”
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Fernando Murad
18 de junho de 2018 - 14h18
Homenageado com o Leão de São Marcos no ano passado, David Droga, fundador da agência Droga5, voltou ao Festival Internacional de Criatividade de Cannes neste ano para falar de momentos da sua trajetória de mais de 30 anos de publicidade.
Maior ganhador de Leões do evento – são mais de 70 Leões de Ouro e 70 Grand Prix –, o australiano decidiu fugir do tradicional discurso de palestrantes de apontar tendências para lembrar de episódios que o marcaram ao longo da carreira, desde o primeiro emprego na expedição da Grey até os dias atuais na Droga5, da qual é fundador e creative chairman. “Somos definidos por momentos”, sintetizou.
O desejo de ser escritor e trabalhar com criatividade o acompanhou desde sempre e, no primeiro emprego na expedição da Grey Sydney, passava até 10 horas na agência, passando por todos os departamentos, aprendendo o trabalho. Lá, foi aconselhado por jovens criativos a estudar na Australian Writers and Art Directors School, de onde saiu para se tornar um dos grandes criativos do seu tempo – conquistou o primeiro Leão em Cannes aos 19 anos.
Aos 22, David Droga se tornou sócio e diretor executivo de criação OMON Sydney. O convite dos sócios para entrar na agência foi para “trabalhar duro e se divertir”. O escritório não tinha mobília ou clientes, e sua primeira estação de trabalho na agência foi uma mesa de bilhar. Ele aceitou o trabalho pela metade do salário que recebia na agência anterior por acreditar na proposta. Anos mais tarde, tomou outra decisão sem se importar com os números.
“Eu queria me testar fora da Austrália. A agência estava sendo vendida e queriam que eu assinasse um contrato dizendo que não sairia nos próximos três anos. Era uma estabilidade. Mas, pelo meu coração, dei a porcentagem e sai da agência com a minha liberdade”, recordou. Da OMON partiu para Singapura, onde atuou na Saatchi & Saatchi e foi exposto a diferentes experiências na indústria.
Seu sucesso o conduziu a Londres e depois a Nova York onde, em 2006, decidiu fundar a própria agência. “Descobri rápido que se você não está causando impacto no trabalho, não pode fingir que está feliz. Sai para montar a minha própria agência, com minha crença”, recorda. O primeiro trabalho da Droga5, que não chegou a sair do papel, era um projeto para a ativação do patrocínio da GE aos Jogos Olímpicos Pequim 2008. Nesse período, a agência não tinha nem internet, e David desenvolveu o projeto num café – pagando um dólar para cada cinco minutos de internet.
“Esse primeiro trabalho foi importante para entender a criatividade. A ideia era criar um prédio sustentável com toda a tecnologia da GE. Custaria US$ 7 milhões. Eu não sabia se daria certo, se era a solução mais certa, mas era uma ideia que eu realmente acreditava. Estamos na indústria das ideias e aí está a beleza”.
Ter sua própria agência e se preocupar com as contas a pagar e as reuniões com os clientes trouxeram algumas lições para David Droga. “Uma revista pornô nos Estados Unidos queria trabalhar com a Droga5. Daria para financiar a agência. Aprendi a dizer não mesmo quando não podia”. Em outro episódio, um cliente que era quatro vezes maior que o maior cliente da agência o convidou para fazer um pitch. “Pensei que eu estava sendo responsável na apresentação, mas o cliente reclamou: ‘te coloquei por que você é o David Droga’… Às vezes colocamos roupas que não nos servem…”. No final, a agência conquistou a conta e a primeira campanha para o cliente – Droga não revelou no nome do anunciante – conquistou um Leão de Titanium em Cannes.
“Sou obsessivo sobre como as pessoas se sentem. A melhor ideia é visceral. Por que as pessoas odeiam publicidade? Odeiam quando não tem proposta, é intrusiva. A publicidade é boa quando faz sentir algo”, conta. Para ilustrar esse pensamento, David Droga contou um case que desenvolveu no ano passado para a Christie’s para promover o leilão do quadro Salvator Mundi, de Leonardo da Vinci. “Adoro as oportunidades. Quis fazer pela cultura, para falar do poder da publicidade para ver a reação das pessoas. Isso me lembra o poder da criatividade. Não há sentido se não tocar as pessoas”. O quadro foi vendido pelo valor recorde de US$ 450,3 milhões. Veja o vídeo abaixo.
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