O que a CTO da OpenAI tem a dizer sobre criatividade
Entrevistada por David Droga, a chefe de tecnologia da OpenAI aconselha as pessoas a não terem medo da inteligência artificial generativa (GenAI)
O que a CTO da OpenAI tem a dizer sobre criatividade
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Isabella Lessa
18 de junho de 2024 - 10h19
A primeira vez que a mãe de Mira Murati, chief technology officer (CTO) da OpenAI, interagiu com o ChatGPT, sabendo que poderia fazer qualquer pergunta, indagou: “quando minha filha irá se casar?”.
Esse tipo de troca com uma ferramenta de inteligência artificial generativa (GenAI) é, na visão de David Droga, CEO da Accenture Song, um exemplo claro de que não importa o que esteja acontecendo com a tecnologia, o ser humano continuará querendo saber o que quer que seja. Em segundo lugar, é evidente que tecnologia não conseguirá ter a resposta para tudo.
“Para mim, essa história da mãe da Mira é um contraponto delicioso sobre o entusiasmo em torno da GenAI”, comentou o fundador da Droga5, que conduziu a entrevista com a executiva da OpenAI, uma das principais desenvolvedoras de ferramentas de GenAI do mundo.
Além do ChatGPT, a OpenAI tem ferramentas como a Sora, que transforma textos em vídeos e cujo potencial foi demonstrado logo antes de Murati e Droga subirem ao palco: o telão do Debussy exibiu um vídeo em preto e branco ambientado em uma Cannes de décadas atrás, com pessoas vestidas de forma glamourosa que remetia mais ao festival de cinema que também acontece na cidade.
Apesar de a sofisticação da produção ‘made by GenAI’ impressionar, o filme ainda tem características que deixam claro que aquilo foi feito por uma máquina, não por seres humanos com uma câmera. De fato, Murati explicou que o vídeo exibido foi resultado de uma pesquisa criativa. “No momento, estamos trabalhando com criativos, artistas e cineastas para descobrir como podemos utilizar a tecnologia para inovar de um jeito que seja seguro e útil para todos”.
Segundo a executiva, uma vez que a OpenAI concluir esse estágio, começará a promover a Sora no mercado.
Quando questionada por Droga a respeito das inúmeras conversas em torno de como a GenAI ameaça a criatividade, Murati respondeu que a criatividade é um processo de descoberta humana por definição, seja intelectual, científica ou artística. “É sobre a experiência humana, é uma busca pela singularidade e originalidade”.
Droga lembrou, inclusive, que a fotografia nasceu a partir do trabalho de químicos, mas os contadores de histórias levaram essa criação para outras dimensões – paralelo que pode ser atribuído ao avanço das ferramentas de tecnologia em termos de como podem contribuir e democratizar a criatividade.
O CEO da Song, no entanto, pontuou que muitas áreas consideradas criativas, inclusive a indústria publicitária, não precisaram esperar pelo avanço da GenAI para deixarem de ser criativas. “A grande maioria da publicidade não é criativa, é feito por algo muito anterior à AI, que é a pesquisa. Sinto que muitas coisas que são tidas como criativas, como filmes, TV, música, publicidade, já são formulaicas”, apontou.
Nesse sentido, Murati disse que a intenção da OpenAI é a de expandir o conceito de criatividade ao liberar as pessoas de distrações, tarefas menores e feedbacks instantâneos para que consigam se dedicar a ideias melhores.
Dito isso, a CTO teme que a tecnologia não seja compreendida como algo que pode ser útil em diversas instâncias da sociedade. “Até o momento, a IA tem sido impenetrável em temos do que significativa. Somente nos últimos anos se tornou mais acessível. É preciso que esteja ao alcance de todos”.
Diante de um ano de eleições em várias partes do mundo, a executiva diz que a OpenAI está trabalhando para desenvolver medidas classificatórias mais robustas na intenção de combater desinformação em torno de conteúdos gerados por IA.
O caminho de democratização e a adoção vertiginosa dessas tecnologias implicam uma série de resoluções éticas, o que, na opinião de Murati, é um problema que cabe a todos responderem. “A tecnologia em si é incrivelmente capaz. O modo que a utilizamos pode ser incrível ou danosa, mas a forma de trazê-la ao mundo cabe a nós. Há riscos inesperados, mas temos a oportunidade de fazer diferente. Uma coisa é desenvolver a tecnologia, outra é construir toda uma infraestrutura social no mundo”, disse.
Parte da solução, sugeriu ela, é que as pessoas não tenham medo dessas novas ferramentas, pois é natural que sejam intimidadoras à primeira vista, mas a melhor forma de entendê-las é utilizando-as.
Na opinião de Droga, os clientes pagarão as agências para ver o que conseguem fazer com a GenAI. “Não substituirá gênios, são ferramentas. Representamos muitas indústrias que têm muito dinheiro e ainda trazemos intenção e sinceridade para a mesa. Isso é fascinante”.
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