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Por que o Brasil não ganhou Grand Prix em Cannes neste ano?

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Cannes

Por que o Brasil não ganhou Grand Prix em Cannes neste ano?

Jurados consideram maior rigor do Festival como um dos motivos para a ausência do troféu principal, mas destacam o valor da criatividade nacional


29 de junho de 2022 - 7h36

(Crédito: Celina Filgueiras)

Apesar da forte competitividade e alto rigor do júri, o Festival Internacional de Criatividade de Cannes têm reconhecido bastante a criatividade brasileira nos últimos anos. Nas edições de 2018, 2019 e 2021 (em 2020, o Festival cancelou a edição por conta da pandemia de Covid-19), o Brasil saiu do evento com Grand Prix, o troféu máximo de cada categoria, concedido à “grande ideia” criada para aquela área.

O melhor desempenho, em termos de conquistas de Grand Prix, aconteceu em 2021, na edição remota do Cannes Lions. No ano passado, o Brasil conquistou três GPs: 1 em Glass, para a VMLY&R; 1 em Entertainment for Sport, para a Africa, e 1 para a GUT, na categoria Entertainment for Music.

Na edição de 2022, no entanto, não houve Grand Prix. O desempenho do País até que foi superior ao do ano passado (70 Leões contra 67 troféus conquistados em 2021). Apesar disso, nenhum trabalho brasileiro foi, na opinião do júri, considerado a ideia que ditará os próximos passos daquela categoria – e, portanto, merecedor do Grand Prix.

O que aconteceu com o Brasil?

Para entender as razões que podem ter levado o Brasil a voltar de Cannes sem Grand Prix neste ano, é preciso, contudo, entender que houve uma mudança geral do Festival em relação à quantidade de Leões entregues. “Para aumentar ainda mais o valor e a relevância do prêmio, o Festival direcionou uma quantidade de leões para cada categoria (média aproximada do percentual de inscrições por categoria). Com a intenção de distribuir menos Leões, o rigor na avaliação para premiar com Grand Prix aumenta ainda mais”, explica Laura Esteves, diretora executiva de criação da Galeria e jurada na categoria Print & Publishing da edição 2022 do Festival.

O comentário de Laura é corroborado pelos dados. O festival recebeu 12% menos peças inscritas do que no ano passado. Os mercados de todo o mundo fizeram, no total 25.464 inscrições no Festival deste ano. Com menos peças inscritas, para manter o rigor e a relevância da premiação, a organização orientou os júris a serem mais comedidos com os Leões. Neste ano, foram entregues, no total 826 Leões, 16% a menos do que no ano passado. Esse número é a menor quantidade de troféus que Cannes já entregou na década.

Situação circunstancial

Apesar da questão da diminuição geral dos troféus, o que pode explicar a ausência de Grand Prix do Brasil? Na opinião de jurados que participaram do Festival, não se trata de um problema da criatividade brasileira. Marcelo Bicudo, que foi jurado da edição do ano passado do Festival, vê a questão da falta do Grand Prix como algo circunstancial ou conjuntural.

“É natural uma oscilação ano a ano. Importante, contudo, é identificar padrões e perceber que esse ano, de forma geral, os Grand Prix foram além da comunicação. É possível notar as pautas e narrativas universais, de grande alcance, humanitárias em grande medida e que usam a comunicação e o design como ferramenta de transformação”, destaca.

Ao analisar o desempenho geral do País, Bicudo considera que o Brasil teve uma performance positiva neste ano. “O Brasil foi bem. São 3 Leões a mais do que o ano passado, embora nenhum Grand Prix. A criatividade brasileira foi e é uma das mais celebradas e importantes em um cenário global. Está em pé de igualdade com os principais mercados de publicidade”, frisa.

Laura Esteves destaca que não é apenas nos Grand Prix que é possível ver a força da criatividade brasileira e cita que, em diversas categorias, era muito comum ver peças premiadas que tiveram a participação de profissionais brasileiros, que atuam em outros mercados (um dos exemplos foi o Grand Prix for Good do Lions Health, criado pela agência Area 23, dos Estados Unidos, que tem uma equipe de 5 criativos brasileiros e que contou, também, com várias outras empresas nacionais nas etapas de produção).

“Em todas as premiações era comum vermos amigos brasileiros que moram fora do País no palco. Dessa forma, se não ganhamos Grand Prix pelo Brasil, somos premiados até mesmo em agências de fora. A criatividade brasileira vai muito além do território nacional e é um grande motivo de orgulho para todos nós. Não ter um GP neste ano pode ser um grande motivador para 2023”, destaca a ECD da Galeria.

Ideias mais genuínas

Opinião um pouco diferente tem Luiz Sanches, CCO da BBDO na América do Norte e Canadá, que foi membro do júri de Titanium, categoria que reúne as ideias mais inovadoras e potentes do Festival. Assim que terminou a coletiva que revelou os resultados de sua categoria, que entregou apenas 6 troféus, no total, Sanches conversou com a reportagem a respeito da criatividade brasileira.

O criativo reconhece o maior rigor do júri, mas destaca que os trabalhos enviados pelo Brasil podem estar, de certa forma, um pouco pasteurizados, reproduzindo as estratégias e estilos que são utilizados em outros mercados. “Será que não estamos enviando as mesmas coisas e fazendo trabalhos muito parecidos? O Brasil é um dos mercados mais criativos do mundo e sempre se destacou por fazer coisas únicas, que tivessem um estilo próprio. Acho que é preciso olhar um pouco mais para dentro de casa e buscar uma criatividade nossa, que olhe para nossas questões”, opinou o criativo.

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