5 motivos para rever Mad Men na quarentena
Disponível na Netflix, série da AMC revisita a realidade das agências dos EUA nos anos 60 e ao mesmo tempo traça paralelos atuais
Disponível na Netflix, série da AMC revisita a realidade das agências dos EUA nos anos 60 e ao mesmo tempo traça paralelos atuais
Isabella Lessa
14 de abril de 2020 - 6h00
Mad Men não é tão somente um retrato fidedigno do ofício publicitário ao longo dos anos 1960, mas um mergulho cultural naquela década, sob diversos aspectos: consumo, contracultura, desigualdade de gênero e racismo.
Centralizada em Don Draper, um criativo de poucas palavras e passado nebuloso, a série criada por Matthew Weiner (é dele a também excelente Sopranos) e exibida pela AMC apresenta o dia a dia da agência Sterling Cooper Draper. O dia a dia mesmo, mostrando que algumas atividades permanecem inalteradas até hoje, guardadas as devidas proporções: a dificuldade de se conceber e provar uma boa ideia, a disputa pelas melhores contas, as mudanças na mídia, as fusões e o desenvolvimento de talentos.
Ao mesmo tempo, o espectador adentra um território fielmente recriado pela série: o praticamente extinto glamour que pairava sobre a Madison Avenue – álcool, smokings e festas em excesso –, avenida em Nova York que até hoje é endereço de muitas agências.
E, ainda que possa parecer simples se comparada à complexidade do mundo atual (afinal os meios se resumiam, praticamente, a rádio, TV, impresso e outdoors), a trama mostra que a busca por ideias impactantes nos anos 60 não é tão distante do caminho percorrido pelas mentes criativas de 2020: a observação do mundo ao redor e as conversas com as pessoas para entender o que desejam. Veja, a seguir, 5 razões para rever — ou assistir pela primeira vez (neste caso, prepare-se para spoilers) — Mad Men:
1) A ascensão das mulheres na publicidade. Peggy Olson e Joan Harris são personagens que começam como secretárias, mas acabam conquistando, não sem muitos obstáculos, posições importantes na agência. Peggy torna-se criativa e Joan revela seu talento para o atendimento. A série também aborda de forma interessante a questão das mulheres negras no mercado de trabalho, mostrando uma realidade que, infelizmente, pouco mudou décadas depois.
2) Pitches memoráveis. Os momentos em que os personagens defendem ideias são alguns dos pontos altos da série. Kodak, Hilton, Jaguar e Hershey’s são alguns dos clientes “da vida real” que recebem propostas da Sterling Cooper Draper. O pitch apresentado por Don para Heinz não acabou bem, mas fora da ficção foi aprovado pelo cliente: em 2017, a David conseguiu aprovar a ideia de não mostrar o catchup no anúncio, e sim o alimento, com a frase “Pass the Heinz”.
3) Fusões que não acabam bem – ou sim. A agência começa como Sterling Cooper, até que Don torna-se sócio e adiciona seu sobrenome na porta: Sterling Cooper Draper. Mais à frente, a Puttnam, Powel and Lowe compra a Sterling Cooper e, ainda mais adiante, a McCann decide comprar a PPL. A SCD acrescenta o Pryce no nome e se emancipa – mas essa não é a última fusão e reviravolta na operação. Entre todas essas aquisições, a série explora os meandros que envolvem tais negociações, como o choque de culturas corporativas e visões dissonantes que trazem mais perdas do que benefícios.
4) Ambientação. Seria inconcebível uma série que se passa na Nova York dos anos 60 se descolar dos acontecimentos políticos, econômicos e sociais que marcaram a década. E Mad Men consegue atrelar com maestria o espírito da época ao cotidiano do ofício publicitário: os assassinatos de John F. Kennedy e Martin Luther King, o homem pisando na Lua, a pílula anticoncepcional e o processo à Newsweek por sexismo são alguns dos acontecimentos que movimentam a vida dos personagens e da agência.
5) O grande insight. Uma hora ou outra, sempre vem. Tão errático quanto vago, Don Draper (quase) sempre reaparece com uma grande sacada — e os episódios mostram como o criativo tem as ideias e as desenvolve.
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