Produtoras: 50% cortaram equipes na pandemia
Com pesquisa exclusiva e dados da Ancine, Apro mapeia impactos da Covid-19 na produção publicitária em 2020
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Renato Rogenski
6 de abril de 2021 - 11h26
Sem poder abrir câmera durante boa parte do ano passado, inegavelmente o segmento de produção publicitária foi um dos mais afetados do mercado de comunicação em 2020. Para mapear o tamanho do impacto, a Apro (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais) desenvolveu um balanço que reúne dados de registro de obras publicitárias da Ancine (Agência Nacional de Cinema), somado a informações complementares coletadas por uma pesquisa feita internamente com 49 produtoras associadas da Apro e representantes do time de produção de 20 agências.
Presidente executiva da Apro, Marianna Souza lembra que esse trabalho de monitoramento de dados é feito anualmente pela entidade, porém a análise ganhou maior profundidade nesta edição, especialmente por conta do ano atípico. “Tivemos que nos reinventar nesse último ano e para que possamos evoluir, é fundamental ter clareza sobre o impacto da pandemia na dinâmica do mercado “, explica.
Os números da Ancine mostram uma queda de 14% no volume total de registro de obras publicitárias. Em 2020, foram 38.281 títulos registrados, contra 44.495 em 2019. No recorte por estado, São Paulo concentrou 32% das produções, seguido por Paraná (12%), Santa Catarina (9%), Minas Gerais (7%), Rio Grande do Sul (7%) e Rio de Janeiro (5%). Além disso, mercados importantes como o paulista e o carioca voltaram para os índices de volume de produção de 2018, de acordo com a Agência Nacional de Cinema.
Já no mapeamento realizado pela Apro, 99% das produtoras sentiram algum impacto refletido na redução de orçamentos devido à pandemia. Destas, 56% afirmaram ter tido projetos cancelados no período, sendo que 50% das produtoras tiveram que reduzir o número de funcionários fixos de suas equipes. Entre outras queixas apontadas, as produtoras destacaram o achatamento de orçamentos (28%), a dificuldade de dividir responsabilidades e riscos (21%), cronogramas apertados (20%) e prazo de pagamento muito longos (12%).
Apesar dos impactos evidentes, os profissionais do segmento consultados sobre o tema são unânimes em apontar uma reação rápida do setor de produção aos solavancos e obstáculos provocados pela pandemia. Dessa articulação ágil, surgiu o Protocolo de Saúde e Segurança no Trabalho do Mercado Audiovisual. Construído pela Apro, Siaesp e Sindcine, com ajuda das empresas associadas, o documento foi finalizado e oficializado em julho do ano passado.
A iniciativa ganhou vida com a ajudar de uma rede de suporte apoiada por um laboratório parceiro para testagem de profissionais e uma empresa de saúde e segurança no trabalho. Segundo a Apro, o segmento realizou 50 mil testes, cujo resultado aponta 190 casos positivos, apenas seis casos de internação e nenhum óbito.
“Lamentável ver que o cuidado com a vida hoje se tornou motivo de barganha em um orçamento para alguns clientes” – Marianna Souza
Para 96% das produtoras, a implementação do protocolo auxiliou na retomada dos negócios e nas negociações e, por unanimidade, as produtoras avaliaram o protocolo como “bom ou ótimo”. A mesma percepção foi reforçada pelas agências ouvidas no estudo. Desse grupo, 95% das participantes consideram o documento “ótimo” e reforçam que sua aplicação ajudou a mitigar os riscos no set.
Embora tenha auxiliado o segmento na retomada das atividades em 2020, o protocolo também incidiu em novos custos que encareceram as produções. O grande problema, neste sentido, é que apenas 44% das produtoras conseguiram repassar os custos relacionados com a aplicação do protocolo para os clientes, sem comprometer a taxa da produtora. “Tudo isso custa, é lamentável ver que o cuidado com a vida hoje se tornou motivo de barganha em um orçamento para alguns clientes”, afirmou Marianna.
*Credito da imagem de topo: koto feja/iStock
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