Agências adotam flexibilização como regra para rotina de trabalho
Maior parte das empresas de publicidade opta pelo modelo híbrido de trabalho, combinando idas ao escritório com atuação remota
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Bárbara Sacchitiello
15 de março de 2022 - 8h15
A flexibilização no uso de máscaras, anunciado por algumas cidades brasileiras nos últimos dias, trouxe a sensação de que o período mais crítico da pandemia de Covid-19 pode, finalmente, ter ficado para atrás. O avanço dos índices de imunização na população brasileira associado à diminuição dos números de infectados permitiu que algumas atividades, como os jogos de futebol, pudessem voltar a ter público total e que em São Paulo e no Rio de Janeiro, por exemplo, não seja mais necessário usar máscaras em espaços abertos – na capital fluminense, foi retirada até a obrigatoriedade de uso de máscaras em ambientes fechados.
Essa liberação tende a propiciar mais encontros presenciais, mas não deve alterar drasticamente os planos das agências de publicidade em relação ao seu esquema de trabalho. A experiência adquirida ao longo de dois anos de pandemia fez com que as empresas descobrissem as vantagens do home office e do trabalho remoto, que devem ser incorporadas a uma nova rotina, que combine idas ao escritório com dias de trabalho à distância.
No início de janeiro, quando uma nova onda de casos de Covid-19, causada pela variante Ômicron, acendeu o sinal de alerta no País, Meio & Mensagem perguntou a algumas das maiores agências de publicidade do País se a situação havia afetado seu modelo de trabalho. Na época, quem havia retornado ao escritório, ainda que em esquema híbrido, achou melhor manter os funcionários trabalhando em home office para evitar o contágio. Já quem tinha planos de retomar a rotina presencial no começo do ano teve de adiar um pouco a ideia.
Agora, com a situação da pandemia mais branda, as agências voltam a estabelecer um ritmo de trabalho que combina encontros e idas aos escritórios, mas com bem menos obrigatoriedade do que havia na rotina pré-pandemia. Muitas empresas, inclusive, deixam claro que trabalhar presencialmente será uma escolha dos funcionários, o que amplia a possibilidade de ter, nas equipes, pessoas de outras cidades e estados.
É o caso da Talent Marcel, que desde o início da pandemia adotou o modelo home office e, por enquanto, não tem projeto de mudar de ideia. A agência destaca que o trabalho híbrido ampliou a diversidade de seu quadro. “Trouxemos muita gente de fora de São Paulo. Temos gente do Sul, Norte, Nordeste, o que inviabiliza o trabalho presencial. Independente da pandemia. Nossa proposta é desenvolver cada vez mais as pessoas, trazer novos treinamentos e tecnologias para o aperfeiçoamento do trabalho híbrido”, destacou a Talent Marcel, de forma institucional. Com isso, a empresa espera manter a presença dos talentos fora do eixo Rio-São Paulo.
A Tech And Soul também contratou pessoas de fora de São Paulo durante a pandemia e segue, por enquanto, no esquema de trabalho 100% remoto. O sócio e CEO da agência, Claudio Kalim, conta que, nos últimos meses, depois de a equipe ter completado seu ciclo de vacinação, alguns times têm usado a estrutura física da agência para algumas reuniões ou trabalhos específicos. A empresa tem planos de, a partir de abril, adotar um modelo híbrido de trabalho, em uma nova sede, que foi adquirida durante a pandemia. Ainda assim, os funcionários continuarão tendo dias de trabalho remoto. “Nosso RH fez uma pesquisa com os colaboradores e o formato híbrido foi o vencedor na disputa com 100% remoto e 100% presencial. Ficou claro que as pessoas entendem que o trabalho remoto funciona sim, dada a qualidade das ferramentas de comunicação e gestão, mas as pessoas também sentem falta de uma maior interação com os demais colaboradores. Acredito que este formato híbrido seja o mais adequado, uma vez que reúne os benefícios dos dois modelos”, pontua Kalim.
A CP+B também deve seguir a ideia do modelo híbrido de trabalho. Desde o início da pandemia, a agência vem trabalhando no esquema 100% remoto, mas revela que já estabeleceu uma política inicial para um retorno de trabalho que terá como norte a combinação de idas ao escritório com os funcionários trabalhando de casa.
Nova rotina
Trabalhar em home office por dois anos rendeu muitos benefícios. Essa é a opinião de Edu Lorenzi, CEO da Publicis Brasil, que destaca que 2020 e 2021 foram dois dos melhores anos da história da agência, com a conquista de novos clientes, ampliação da atuação em dados e tecnologia e a vitória no Prêmio Caboré como agência do ano, em dezembro de 2021. O executivo também cita que o trabalho remoto quebrou as barreiras geográficas e que, atualmente, o quadro da Publicis conta com profissionais que moram em 40 cidades, de mais de 20 estados diferentes do Brasil.
Por isso, a agência descartou definitivamente o retorno de 100% do trabalho presencial. “Neste momento, nosso escritório está passando por uma reforma para se adequar a esta nova realidade. Estamos substituindo 40% das estações de trabalho da agência por 25 salas e espaços de reunião. Após a conclusão da reforma, em meados de maio, a Publicis Brasil será reaberta para as pessoas fazerem reuniões e poderem trabalhar lá algumas vezes por semana, mas o padrão da agência continuará sendo trabalhar de casa e ir ao escritório não será obrigatório. O mundo mudou e estamos acompanhando essas mudanças”, pontua Lorenzi.
Outra agência que também tirou a palavra obrigatoriedade de seu modelo de trabalho é a Leo Burnett Tailor Made. A empresa ainda está trabalhando integralmente de forma remota, mas Marcio Toscani, co-CEO e COO, conta que há planos de iniciar um retorno gradual a partir de abril. “No pós-pandemia iremos adotar um modelo híbrido. Não existe mais a necessidade de estarmos 100% em um único lugar. O escritório passará a ser um local de troca de ideais e inspiração”, adianta Toscani.
A Artplan ainda mantém todos os colaboradores trabalhando de forma remota, mas já tem um esquema preparado para que sua atuação passe a ser híbrida a qualquer momento, de acordo com os protocolos atuais de segurança. Antonio Fadiga, sócio e CEO da operação, explica que algumas mudanças foram realizadas para adaptar a estrutura à nova realidade. “No fim do ano passado, os escritórios foram repaginados para receber nossos colaboradores. Aqueles que sentem necessidade já podem ir à agência, desde que façam um agendamento prévio via aplicativo interno. Em relação ao formato híbrido de trabalho, se a pandemia der os sinais positivos que todos queremos, pode ser que retornemos em rodízio já em abril”, conta.
Escolha do funcionário
Ter um modelo de trabalho em que os funcionários escolham se – e quando – desejam comparecer presencialmente ao escritório também foi a escolha da Execution. A operação, que atualmente conta com 130 colaboradores, estabeleceu um sistema híbrido e optativo de trabalho. “Através de um aplicativo, as pessoas podem escolher o dia que querem ir fisicamente. O app mapeou todas as mesas e cadeiras na agência e colocamos um QR Code em cada posto de trabalho. A pessoa que deseja ir manifesta o interesse, através do app, marca o dia que quer ir e o local onde quer sentar. Pode, inclusive, ver quem está sentado ao seu lado. O modelo está se provando ser o ideal, pois permite que as pessoas optem por trabalhar presencialmente ou em home office”, acredita Geraldo Rocha Azevedo, CEO da Execution.
Azevedo destaca, contudo, que é importante também estimular a presença física eventual de departamentos para que as pessoas mantenham a intimidade e relacionamento dos squads de cada conta. O ideal, segundo ele, é que a presença física de departamentos ou de grupos de trabalho aconteça pelo menos duas vezes ao mês.
A partir da semana que vem, a equipe da Lew’Lara\TBWA retorna a um modelo híbrido de trabalho, depois de anos trabalhando integralmente em home office. Em fevereiro, a sede já foi aberta para algumas reuniões e, agora, irá receber os funcionários duas vezes por semana – os outros três dias continuam sendo de trabalho remoto. “Acreditamos que a pandemia, apesar das inimagináveis perdas que nos causou, também nos trouxe ensinamentos que não podemos abrir mão desta nova etapa de nossas vidas. 93,8% dos nossos talentos declararam preferir o modelo flexível de trabalho na nossa pesquisa sobre o retorno e este dado nos mostrou que o modelo híbrido atenderá a expectativa da grande maioria dos colaboradores e nossa corporativa também”, diz Elise Passamani, chief culture and operations officer (CCOO) da Lew’Lara\TBWA, destacando questões como saúde mental e a mobilidade urbana como fatores que apoiam a adoção de um modelo híbrido de trabalho.
A Wunderman Thompson reabriu sua sede em março aos colaboradores, mas não prevê a presença obrigatória dos funcionários no ambiente. “As pessoas precisam comparecer quando o gestor requisita para algum trabalho específico ou para alguma reunião com clientes e colaboração entre áreas, mas também podem escolher estar na agência por conta própria e usar as instalações. Além disso, mesmo no modelo remoto, deixamos as pessoas livres para também usarem os espaços se acharem necessário. Os modelos híbrido e remoto foram os que mais se adequaram à cultura da Wunderman Thompson Brasil. Mesmo assim, ainda estamos descobrindo melhores caminhos e essa última decisão é baseada nos últimos dois anos de trabalho em home office, onde a agência se manteve viva e muito produtiva. O fato de não obrigarmos, no modelo híbrido, de frequentar a empresa em dias fixos, nos remete a olhar para o futuro do trabalho com mais flexibilidade e entender que o mundo mudou”, declarou Adriana Massari, diretora de RH da agência.
O modelo híbrido também será o esquema escolhido pela WMcCann. Atualmente, 80% da equipe da agência já trabalha dessa forma, enquanto os 20% restantes seguem em home office, seja por necessidades pessoais ou por conta da adequação em relação às suas funções, como explica a diretora de RH, Paula Molina, que diz que a operação seguirá com o modelo híbrido pelas vantagens e flexibilidade que ele traz aos colaboradores. “Em termos de protocolos, todos ainda deverão respeitar o Protocolo de Saúde e Segurança, frequentando a agência apenas com o ciclo vacinal completo ou com teste de PCR realizado nas últimas 48 horas, além do preenchimento diário obrigatório de um questionário de saúde. Também seguimos com a prática do ‘deskbooking’ para mantermos o controle e o distanciamento social necessário”, diz a diretora de RH da WMcCann.
A VMLY&R reabriu as operações na semana passada, em modo soft opening: os colaboradores que assim desejarem podem trabalhar presencialmente de segunda à quinta-feira, considerando que sexta é um dia de higienização dos espaços. “Este é o primeiro passo para que possamos garantir a volta ao escritório e a migração para um modelo híbrido, com os colaboradores alinhando os dias em que vão trabalhar na agência com seus gestores e pré-agendando a ida de acordo com suas demandas e as dos clientes. Manteremos o home office para alguns colaboradores que contratamos fora da cidade de São Paulo durante a pandemia e em casos específicos que serão avaliados individualmente”, diz Luana Gonçalves, diretora de RH da VMLY&R.
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