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Comunicação

Agências chinesas retornam ao trabalho presencial

Depois de dois meses de trabalho remoto, executivos falam sobre os desafios do trabalho em home office e os impactos do período nos negócios


18 de março de 2020 - 13h43

Na China, medidas para impedir a disseminação do Covid-19 começaram a ser tomadas em janeiro (Crédito: Zhuyufang/ iStock)

Por Lindsay Rittenhouse, do AdAge

Enquanto as agências brasileiras começam a tomar medidas para conter a transmissão do novo coronavírus e proteger seus funcionários, na China, o momento é de retornar aos escritórios. O governo chinês começou a colocar as cidades em bloqueio e a população em quarentena em janeiro para impedir a disseminação do Covid-19. A solução para as agências foi iniciar o trabalho remoto e diminuir as jornadas. Christine Ng, sócia-fundadora e CEO da BBH China, alerta os profissionais de outros países sobre a experiência em home office. “É realmente mais cansativo do que trabalhar no escritório”, afirma.

Após dois meses de trabalho remoto, muitas agências da China estão retomando o funcionamento no modelo tradicional. Christine diz que a BBH implantou horários mais curtos de trabalho para seus funcionários. A equipe chega por volta das 10h30 e sai às 16h para evitar os horários de pico que ainda pode colocá-la em risco. A executiva explica que os funcionários são responsáveis por atender ligações e trabalhar em casa fora desses horários.

Agora, a agência estenderá gradualmente a jornada de trabalho até retornar ao horário comercial. “Nós queríamos tornar a volta à realidade mais fácil”, afirma. Christine ressalta que a BBH China tem apenas 80 profissionais, um número pequeno comparado a outros grupos, o que facilita com que os funcionários mantenham distância social mesmo no trabalho.

Sarah Weyman, CGO da Dentsu Aegis Network China, diz que os funcionários da rede em Xangai precisaram tomar cuidados extras ao retornar para o escritório na semana passada. “Estamos sendo supercuidadosos”, afirma. “Estamos aconselhando as pessoas a lavarem as mãos, todo mundo tem uma máscara e os funcionários não estão sentados muito perto uns dos outros.”

Para entrar no escritório, os profissionais também são examinados em busca de febre ou outros sinais de doença ou exposição ao coronavírus. “É incrivelmente eficiente e brilhante… é o novo normal”, relata a executiva sobre a tecnologia que foi desenvolvida e implantada pelo governo chinês.

A Rede Dentsu Aegis também tem um pequeno escritório em Wuhan, que permanece fechado. “Todas as pessoas desse escritório estão seguras e bem”, observa Sarah. “É improvável que seja aberto este mês, mas certamente estamos em contato próximo deles.”

Adaptação ao home office

Como esperado, houve alguns obstáculos e desafios a serem superados pelos executivos chineses, durante o período de home office — e é muito provável que sejam semelhantes aos que as agências ao redor do mundo estão enfrentando agora.

CEO de uma grande rede de agências chinesas, que falou sob condição de anonimato ao AdAge, ressalta: “Em toda a China, estar presente no ambiente de um escritório ou agência é muito importante para as pessoas e trabalhar em casa pode ser bastante angustiante para algumas. Nossa indústria , especialmente na China, é incrivelmente rápida. Então, se adaptar e operar sob pressão não é algo novo. Mas, ao adicionar o Covid-19 à equação, fomos confrontados com um novo nível de incerteza “, afirma o executivo.

Sarah ressalta que, embora tenha havido menos oportunidades de negócios durante o surto do coronavírus, as apresentações para possíveis clientes foram feitas por videoconferência e particularmente difíceis de adaptar. “É meio estranho”, explica. Em termos de suporte de TI e o papel das lideranças para gerenciar os funcionários que trabalham remotamente, a executiva diz que não tiveram dificuldade. “Honestamente, não é tão difícil.”

A CEO da BBH China afirma que a tecnologia já é uma parte significativa da vida das pessoas no país. Dessa forma, os funcionários teriam começado a trabalhar remotamente com bastante facilidade. Talvez até com muita facilidade. Ela observa que, em casa, os funcionários são mais propensos a executar várias tarefas ao mesmo tempo do que no escritório. “Você mantém conversas em grupos com cerca de 10 a 15 integrantes”, explica. “Você pode falar com diferentes pessoas sobre assuntos diversos, ao mesmo tempo.”

A executiva também afirma que trabalhou mais horas enquanto estava em home office. O tema alimenta um debate sobre o quanto o fato de permitir que os funcionários trabalhem em casa é realmente bom para seu bem-estar. Alguns argumentam que trabalhar remotamente obriga as pessoas a ter jornadas mais longas e se abster de tirar folgas.

Efeitos a longo prazo

Embora o retorno ao trabalho possa ser um alívio para alguns executivos, o cenário não é positivo. Um relatório divulgado nesta terça-feira, 17, pela eMarketer reduziu a previsão de investimentos em publicidade na China, neste ano. O número caiu de US$ 121,13 bilhões para US$ 113,67 bilhões. Apesar de mais baixo, o número ainda representa um crescimento de 8,4% em relação a 2019.

“Essa é a taxa de crescimento mais lenta desde que começamos a monitorar os investimentos em publicidade na China, em 2011”, afirmou a eMarketer no relatório. O documento também observou que “alguns efeitos do coronavírus são visíveis, o total impacto na economia chinesa e, portanto, os aportes em publicidade ainda não foram sentidos”.

Brian Wieser, presidente global de business intelligence do GroupM, disse em comunicado recente que conversou com profissionais de marketing de anunciantes chineses que já começaram a retomar seus negócios, incluindo o Alibaba e Baidu. Segundo o executivo, as empresas afirmam que pretendem aumentar gradualmente seus investimentos em marketing nos próximos meses. Uma possibilidade encorajadora para as agências. Sobre as declarações, afirma que “parece haver uma base para otimismo em torno de uma retomada da normalidade — ou pelo menos do ‘novo normal’ — nos próximos meses”, diz.

“Infelizmente, grande parte do resto do mundo só está passando pelo que a China passou nos últimos dois meses agora”, continuou Brian. “Isso significa que, provavelmente, ainda veremos o pior acontecer”, concluiu.

*Tradução: Taís Farias

**Crédito da foto no topo: Reprodução

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