Cannes e a obsessão por celebridades
E como as marcas tentam roubar a cena no território do entretenimento
E como as marcas tentam roubar a cena no território do entretenimento
Meio & Mensagem
23 de maio de 2013 - 9h00
Por Patrícia Weiss*
A edição deste ano do Festival de Cinema de Cannes está bem diferente e digna de roteiro de cinema. Começando pela série de pequenos furtos em cafés, nas ruas, nas badaladas festas, ameaça de bomba com direito a tiros de festim, e uma delas, que acabou interrompendo a entrevista que um dos jurados dava (o premiadíssimo ator austríaco Christoph Waltz, de Bastardos Inglórios e Django Unchained), em um estúdio da TV Canal + francesa, bem ao lado do Palais.
Mas o mais instigante mesmo e cinematográfico, foi o roubo de jóias Chopard que seriam usadas por atrizes no Red Cardpet, avaliado em mais de US$ 1 milhão. A joalheria é uma das patrocinadoras e responsável pela confecção da Palma de Ouro, o cobiçado prêmio do Festival de Cannes.
Minha memória cinematográfica acessa vários roubos clássicos contados na história do cinema. Minha homenagem vai para o irresistível e inesquecível “Ladrão de Casaca” (To catch a Thief), de 1955, do mestre Alfred Hitchcock, rodado na Riviera francesa, nos arredores de Nice, Monte Carlo e as cenas de praia, em Cannes, em frente ao Hotel Carlton.
Grace Kelly, que trocou Hollywood por Mônaco depois de conhecer o príncipe Rainier durantes as filmagens, protagonizou com Cary Grant esse clássico (que Hitchcock menos gostava, e imaginamos porque).
Na hora que eu soube do roubo das jóias, lembrei daquele case que é um dos meus preferidos até hoje, e arrematou vários prêmios em 2005. “Audi Heist”: o novo modelo Audi era supostamente roubado de uma loja e uma eficiente estratégia criada ao redor do roubo, gerou forte repercussão e resultado nas vendas da marca. Parece que a marca Chopard realmente foi vítima do assalto.
E foi curioso acontecer o furto no início do Festival, quando o novo filme de Sofia Coppola, “The Bling Ring”, abriu a primeira noite da mostra Un Certain Regard. Parece até tática para gerar mais buzz em torno do tema do longa da talentosa diretora, que frequenta o Festival desde os oito anos de idade, acompanhando seu pai, Francis Ford Coppola. The Bling Ring conta a verídica história de uma gangue de jovens do subúrbio de Los Angeles, obcecada por celebridades, que roubavam jóias, sapatos e roupas de grifes das casas de famosos em L.A.
O roteiro, escrito e dirigido por Sofia, que debutou em Cannes em 1999, com seu primeiro – e bárbaro – longa “As virgens Suicidas”, é inspirado no artigo publicado pela revista Vanity Fair em 2009, revelando a história da gangue de adolescentes.
“The Bling Ring” é extremamente contemporâneo. Nos apresenta um perfil de jovens da geração Y, os Millennials, na intensa busca de sua identidade. A gangue descobria o endereço e quando as celebridades estavam fora da cidade, através da internet. Invadiam as casas de famosos e postavam fotos nas redes sociais, diretamente das mansões, se vangloriando das arriscadas façanhas.
A deslumbrada Paris Hilton (que facilmente cedeu sua casa como locação para a realização do filme) e a atriz badgirl, Lindsay Lohan, foram vítimas.
A geração dos Millennials nasceu neste cenário atual de livre e irrestrito acesso a informação sobre tudo e todos, onde a palavra privacidade é quase rara e vive em suspensão. Onde o tempo parece escasso e a distância entre desconhecidos inexistente. Onde a imagem dos indivíduos é construída e dissolvida por poucos e muitos, como uma narrativa que confunde o real com o desejado, o verdadeiro com o ficcional.
“A gangue vivia na periferia de Los Angeles, cercada por celebridades”. Comentário de Sofia Coppola em entrevista para o jornal francês Le Monde. “As pessoas sentem que conhecem as celebridades como nunca. A vida dos famosos está disponível e online, basta acessar”, disse Emma Watson, atriz inglesa famosa por seu papel em Harry Potter. Alguns fazem uma reflexão imediatista e até superficial, mas interessante, como o ator Israel Broussard, que interpretou o único garoto da gangue: “Cada geração tem um problema. O nosso é com as redes sociais.”
Marcas roubam a cena em Cannes
A primeira meia hora do filme de Sofia é puro arrebatamento fashionista, permeando a narrativa com a invasão de marcas de acessórios e roupas que vestem a gangue. Pode cansar, mas tem aderência ao roteiro, afinal as marcas participam da arte de significar o “ser e parecer poderoso”, famoso, desejável nesta narrativa. Um dos maiores desafios até hoje, nas ações de branded entertainment que acompanho com muita intimidade e há bastante tempo pelo mundo, é como integrar, inserir a marca na narrativa do Entretenimento de forma não intrusiva.
Sofia Coppola tem uma forte relação de parceria com a Louis Vuitton que não é de hoje. A festa da noite de estreia em Cannes foi patrocinada pela marca. Uma das ações de product placement da marca em “The Bling Ring”, surge quando um bolsa pink Louis Vuitton, aparece compondo o visual de uma das personagens.
Na edição do Festival de 2012, a marca Prada lançou o seu curta metragem “A Therapy”, dirigido por Roman Polansky, logo depois da exibição da cópia restaurada do filme “Tess”, do mesmo diretor, de 1979. O curta é uma peça de branded content que contou com a participação do premiado ator Ben Kingsley como o terapeuta e Helena Bonham Carter como a paciente.
*Patrícia Weiss é chief strategy officer da agência Wanted e acompanha o Festival de Cinema de Cannes em colaboração para o Meio & Mensagem
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