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Comunicação

7 dicas de gestão de equipes, segundo lideranças criativas de agências

Diretores e vice-presidentes de criação revelam as dificuldades de gerir pessoas e apresentam dicas para ajudar criativos a se tornarem melhores líderes


5 de novembro de 2024 - 6h00

Apesar de desenvolverem campanhas criativas, criarem jingles que grudam na cabeça feito chiclete, fazerem negócios prosperarem e influenciarem gerações por meio de seu trabalho, muitos criativos, ao se tornarem líderes, encontram dificuldades para gerenciar pessoas.

criativos gestores

Apesar das dificuldades, líderes criativos revelam dicas de gestão de pessoas (Crédito: Sasun Bughdaryan/Shutterstock)

Na maioria das vezes, isso acontece porque o profissional de criação passa a ter que gerenciar pessoas somente quando se torna diretor de criação. Segundo o chief creative officer (CCO) da Gut, Bruno Brux, esse processo faz com que esse profissional tenha que aprender na pressa e, muitas vezes, na marra, na unha. Enquanto Marco Giannelli, CCO da AlmapBBDO, mais conhecido como Pernil, ressalta que os criativos não foram preparados para exercer essa liderança.

João Caetano Brasil, group creative director da Wieden+Kennedy São Paulo, reforça a ideia salientando que há, ainda, um acúmulo de função nessa transição e que é preciso se preparar para essa tarefa. “Um bom criativo não necessariamente se tornará um bom gestor”, comenta. “Se você tem intenção de se tornar um gestor na criação, recomendo muito se preparar para isso. Não é simplesmente ganhar um cargo”.

Maiores desafios

Além da falta de preparo, que se mostra como um obstáculo importante nesse processo de gestão de pessoas, lidar com a competitividade interna também exige muita habilidade do líder criativo, segundo Pernil, o que acaba consumindo muito da energia dessa liderança.

Para Joanna Monteiro, coCCO da Africa Creative, no entanto, o maior desafio é a falta de tempo para trocar de qualidade com as equipes, para compreender particularidades, pontos fortes e características individuais de cada profissional. Neste sentido, o diretor executivo de criação da Galeria, Phil Daijó, argumenta que desafio é equilibrar a identidade criativa de cada pessoa, mantendo seu ponto de vista livre, com a disciplina que o negócio exige. “Não é sobre controlar, mas sobre canalizar a energia criativa para algo que ressoe”, ressalta.

Apesar dessa falta de preparo por parte dos criativos, Brasil entende que a dificuldade de gerir pessoas não é exclusiva da área de criação. O diretor de criação da DPZ, Heitor Caetano, concorda e destaca que a dificuldade está na negligência do mercado em preparar pessoas para essas cadeiras, muitas vezes, levando em consideração para uma promoção outros méritos, sem levar em conta a habilidade de gestão.

Laura Esteves, vice-presidente de criação da DM9, afirma que a liderança criativa não tem mais dificuldade na tarefa do que outras áreas e enfatiza: “Em gerações anteriores criou-se o estereótipo do criativo egocêntrico, que vive no mundo da lua e procrastina prazos de forma monocrática. Mas este estereótipo ficou lá atrás”, argumenta.

Na visão da profissional, muitos líderes atuais passaram a trabalhar em ecossistemas muito mais enxutos, nos quais era preciso ter o controle do processo todo do início ao fim. “Não tinha gerente de projetos, planilha de cronos reversos e tecnologias para fazer o projeto acontecer. Então, a gente já vem de série com organização, disciplina e o bate bumbo que é preciso para não só criar mas tirar isto do papel”.

Ainda com relação aos estereótipos lidados líderes criativos, Daijó reforça que a visão sobre o criativo como uma pessoa que se comunicava mal e com pouca habilidade social não existe mais. “Gerir pessoas também exige criatividade. Manter o fluxo e a inspiração de cada pessoa da equipe, criar um ambiente onde as ideias possam florescer”, fortalece.

Nesse sentido, para Brasil o fato de ser um profissional de criação não muda os desafios da gestão, visto que para todos os gestores é necessário ter um olhar atento e empático para cada pessoa, para que se entenda o que ela sente, quais são os problemas enfrentados, seus desejos, desafios e sugestões. “Então, diria que o primeiro desafio é não deixar que o dia a dia nos engula e faça com que foquemos apenas na entrega criativa”, pontua. No entanto, ele destaca que gerir pessoas criativas exige, sim, um olhar mais específico, uma vez que esses profissionais são “pessoas sensíveis, que lidam com uma montanha-russa de emoções diariamente, muita frustração com os processos e uma rotina bastante exaustiva”.

Está mais difícil gerenciar?

Mesmo entendendo que as dificuldades da gestão não são exclusivas dos líderes de criação, a liderança criativa reconhece que está mais desafiador gerenciar pessoas nos tempos atuais. Brux atribui isso a pandemia e ao modelo de trabalho híbrido. “Sabemos que a qualidade de vida das pessoas no home office é indiscutível, mas quando a gente está junto na agência, é completamente diferente”, ressalta.

Outro ponto que tem tornado esse trabalho de gestão cada vez mais complexo é a maior quantidade de pessoas com funções específicas, que segundo Pernil, acaba reduzindo o tempo dos líderes para ensinar algo. “De qualquer forma, acho que esse é o nosso papel: tentar descentralizar, dar autonomia para diferentes níveis hierárquicos, para que todos possam se sentir um pouco ‘donos’ de seus projetos. E estar mais próximos de quem está começando a ‘colocar a mão na massa’”.

Na visão de Joanna, está mais difícil gerir pessoas se os líderes se manterem presos a um modelo antigo de gestão. Porém, se adotar uma abordagem mais moderna desta tarefa e entender que os comportamentos mudaram, essa adaptação pode se tornar mais tranquila.

Para Brasil, a premissa da gestão de pessoas deve ser sempre a mesa, a de que líderes devem servir, e olhar constantemente para pessoas, seus problemas e anseios. “Claro que devem entender as peculiaridades dessa geração para entender o que é importante para as pessoas que fazem parte dele. Assim como os anteriores entenderam as nossas. E ponto. Já ouvimos muito que essa é a geração do mimimi, mas, honestamente, vejo muito mais os gestores fazendo o tal mimimi”.

A má gestão de novos talentos impacta a agência em diferentes camadas, segundo Caetano. A primeira é na qualidade das ideias. “Se não soubermos extrair o melhor de cada peça do time, provavelmente, não teremos resultados criativos muito inovadores”, comenta. Outra questão é a retenção de talentos. Para ele, fazer uma boa gestão perpassa pela compreensão de como fidelizar um time de diferentes maneiras, seja num lugar inspiracional ou de reconhecimentos distintos.

Além disso, segundo os líderes criativos outras questões podem ser ocasionadas como consequência da má gestão de pessoas, como alto turover, equipes desmotivadas e burnoutada, queda na produtividade, desconexão das equipes com a cultura das agências.

Como melhorar a gestão?

Como não há um curso universal sobre gestão de pessoas, Meio & Mensagem pediu dicas para cada um dos líderes criativos entrevistados. Confira todas a seguir:

Heitor Caetano (Crédito: Divulgação)

Priorizar a gestão igual se prioriza a hierarquia

Para Caetano, é preciso ambicionar e priorizar a gestão tanto quanto se ambiciona a hierarquia. “Queira ser gestor tanto quanto quer ser diretor. E genuinamente se prepare para isso, preferencialmente antes de exercer a função”.

 

 

 

João Caetano Brasil (crédito: Divulgação)

Respeite

Tratar as pessoas como gostaria de ser tratado é a dica número um de Brasil. “Entenda que sua equipe não vai fazer o trabalho como você faria. Sempre preste atenção se você vai mexer em um trabalho ou processo porque vai ficar melhor ou vai ficar apenas do seu jeito”, frisa.

Estude

A segunda dica de Brasil é “estude”, seja formalmente, em cursos de gestão e liderança ou informalmente, com artigos ou biografias de grandes líderes. “Sou viciado em biografias de técnicos do esporte, como Coach K, Steve Kerr, Jürgen Klopp e Guardiola. E lembre-se: é melhor ser Ted Lasso do que Succession”, compartilha.

Laura Esteves (Crédito: Divulgação)

Ouça

Tanto Laura quanto Daijó enfatizam o ponto de que é preciso ouvir mais a equipe, visto que cada pessoa é diferente da outra. “Compreender que gerações diferentes têm uma forma muito distintas de se relacionar com o trabalho em relação. E que esta troca e diálogo é o que vamos nos encontrar sempre”, complementa Laura.

 

 

 

Phil Daijó (Crédito: Divulgação)

Daijó destaca ainda a importância de se criar um ambiente onde o time de sinta seguro para arriscar e inovar. “Existem repostas diversas para solucionar um problema. Ouvir e confiar na ideia dos outros é um exercício diário para um líder”.

 

 

 

 

Bruno Brux (Crédito: Divulgação)

Seja paciente

Brux ressalta que ninguém aprende a ser bom gestor do dia para a noite e que, logo, é preciso ser paciente com seu próprio crescimento. “Uma criativa que vira DC não tem que estar 100% pronta pra cadeira. Ela pode ir aprendendo enquanto faz, seja com cursos de liderança, com podcasts ou publicações sobre o tema e principalmente, tendo um mentor”.

 

 

 

Joanna Monteiro (Crédito: Divulgação)

Compreenda o negócio

Já para Joanna é importante que os criativos compreendam o negócio em que estão inseridos. “A chave é ter uma ideia forte que esteja alinhada com o briefing. Quanto mais o criativo entende o business do cliente, maior será sua capacidade de ter ideias boas e de gerir uma equipe para realizarem um trabalho criativo, corajoso e inspirador”.

 

 

 

Marco Giannelli “Pernil”(Crédito: Divulgação)

Dê exemplo

Por sua vez, Pernil, enfatiza a importância do exemplo. “Precisamos dar o exemplo. Não se pode exigir um ambiente gentil se você é ríspido com quem trabalha com você. Nem leve, se você carrega e transmite toda sua energia negativa. Muito menos um ambiente colaborativo, se você é o primeiro a estimular a competitividade. Não estou dizendo que é fácil, muito pelo contrário. Mas é um exercício diário que precisamos fazer”, alerta.

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