Elis e Volkswagen: como foi feito o comercial que mobilizou as redes sociais?
Processo de criação da campanha publicitária e utilização de deep fake demandou nove meses de trabalho da AlmapBBDO
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Bárbara Sacchitiello
5 de julho de 2023 - 6h05
Atualizada às 11h26
Durante toda essa terça-feira, 4, os termos Volkswagen, Elis Regina e “Como Nossos Pais” figuraram entre os assuntos mais comentados nas redes sociais, gerando um debate que misturou opiniões e conceitos sobre publicidade, música e inteligência artificial.
O novo comercial, apresentado pela Volkswagen para celebrar os 70 anos de presença da marca no Brasil, surpreendeu o público ao reunir a cantora Elis Regina, que morreu em 1982, e sua filha, Maria Rita, dividindo os vocais da icônica canção “Como Nossos Pais”.
Entre a apresentação do comercial e sua forte repercussão nas redes sociais, com comentários elogiosos e outros críticos à marca, foram nove meses de trabalho.
Tudo começou quando a AlmapBBDO, agência de publicidade da Volkswagen, recebeu da fabricante a missão de criar a campanha para celebrar as sete décadas de presença da marca alemã em solo brasileiro.
“Pensamos que era preciso algo que resgatasse o passado, pois nenhuma outra marca de carros tem esse poder de mexer com a nostalgia. Afinal, quem não tem alguma história ou alguma lembrança com um Fusca, uma Brasilia, uma Kombi?”, lembra Marco Gianelli (o Pernil), chief creative officer (CCO) da AlmapBBDO.
Junto a esse resgate nostálgico, a agência também precisava cumprir o briefing da marca de mostrar o comprometimento com o futuro, sobretudo por meio da nova geração de carros elétricos.
“Aí, pensamos: e se juntarmos a maior voz que esse País já teve, que marcou toda uma geração, uma mulher magnífica, com sua filha, também maravilhosa, e que está aí, dando continuidade ao seu legado?”, questionou o CCO da agência.
Sob essa perspectiva, os criativos da agência também pensaram que, mais interessante do que construir um manifesto para a marca, que celebrasse o passado e a expectativa de futuro, seria aproveitar uma letra que abordasse esse encontro de gerações. Na visão do CCO, versos como “Viver é melhor que sonhar” e “O novo sempre vem” eram capazes de traduzir exatamente a mensagem que a marca gostaria de transmitir.
Após a aprovação da ideia pela Volkswagen, a AlmapBBDO deu início aos trâmites para o processo de criação do dueto entre Elis e Maria Rita.
Para isso, foi utilizada uma inteligência artificial que, segundo Pernil, mapeou milhares de fotos e vídeos de Elis Regina.
Todo esse banco de dados foi, posteriormente, aplicado sobre a imagem de uma atriz, que participou do comercial, conduzindo a Kombi, mas que, nas cenas, ganhou as feições e o rosto de Elis Regina, pelo trabalho de inteligência artificial e de deepfake.
A produção do comercial foi realizada pela Boiler Filmes, com direção de cena de Dulcídio Caldeira. Já a produção musical ficou com a Raw Audio, com direção musical de Hilton Raw.
O CCO da AlmapBBDO contou à reportagem que nunca recebeu tantas mensagens a respeito de um trabalho realizado. “Acredito que houve esse sucesso estrondoso porque se trata de uma coisa que toca o coração. Não se trata de algo feito para vender carros. É muito mais do que isso. Acho que foi uma forma de ver que ainda existe poesia na forma de fazer propaganda, de levar mensagens às pessoas”, resumiu.
Como praticamente todos os assuntos que ganham as redes sociais, a campanha da Volkswagen também provocou reações distintas. Ao mesmo tempo em que muita gente celebrou a união entre mãe e filha no comercial e o resgate da memória da cantora, algumas pessoas criticaram o uso de deepfake para representar alguém que já morreu.
Houve, ainda, questionamentos a respeito da utilização dos versos da canção escrita por Belchior para uma proposta comercial.
“Sempre existirão críticas, em qualquer situação. Todo mundo busca algum defeito para criticar. Mas o que mais recebi, e que considero mais importantes, foram as mensagens positivas. Foi uma catarse coletiva”, celebra Pernil.
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