MaLa: “Marcas devem mostrar como contribuir em época difícil”
Para Marcos Lacerda, head do Havas+, dirigentes também estão em momento crucial no qual devem acima de tudo cuidar da equipe
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Teresa Levin
24 de março de 2020 - 6h00
Se alguns segmentos estão sentindo mais os impactos da pandemia de coronavírus, com reflexos claros como o de turismo, o fato é que as marcas devem ir além de posturas óbvias esperadas neste momento e sim assumir uma postura de preocupação com a comunidade. Quem defende é Marcos Lacerda, o MaLa, head do Havas+. Com clientes como Emirates e MSC Cruzeiros, imediatamente afetados, a agência também atende à Tim para a qual teve que alterar campanhas rapidamente. Para ele, o momento também é crucial para as lideranças, de empresas de todo porte, que devem antes de mais nada cuidar, e com carinho, de suas equipes. Tanto em São Paulo, quanto no Rio, a Havas+ está trabalhando em home office desde o início da semana passada e MaLa classifica como fundamental dar as condições necessárias para isso, oferecendo o que os profissionais precisam.
Confira abaixo trechos da entrevista concedida ao Meio & Mensagem:
A expansão da pandemia de coronavírus no Brasil interferiu no planejamento da Havas+ para seus clientes?
Sim, desde coisas bem táticas como algumas mensagens de clientes que diziam: “aproveite e vá agora à uma loja”, como no caso da Tim. O ajuste teve que ser feito para não incentivar e não pedir para ninguém ir a lugar algum. E estamos desenvolvendo produtos que incentivem as pessoas com algum tipo de vantagem ao fazer algo no portal ou no app. Também trabalhamos, por exemplo, com a MSC Cruzeiros que estamos acompanhando muito de perto, o segmento deles foi o mais impactado, o do turismo. Se alguém planejava fazer uma viagem em julho obviamente está cancelando e não tomará nenhuma atitude neste instante. Atendemos Emirates, que está sofrendo impactos no mundo inteiro. Estamos pensando projetos que possam de fato ajudar nossos clientes a serem relevantes neste momento. Não é só ter uma postura óbvia de acordo com seu segmento, mas de preocupação com a comunidade, o que a marca pode fazer para contribuir para o momento difícil do país e das pessoas.
Quais devem ser os impactos no mercado publicitário brasileiro em curto, médio e longo prazo?
É difícil prever imediatamente, alguns índices ainda não apontam queda de investimento, nem aqui, nem fora do Brasil, porque alguns pacotes já haviam sido comprometidos, em torno de 80% da verba já estava comprometida com pacotes comprados. Claro que existe um percentual de 20 a 30% de venda avulsa e esta pode sim sofrer impactos. Por outro lado, teremos investimento no digital, as marcas vão querer estar na vida digital das pessoas, e elas estarão mais do que nunca neste ambiente. Se já éramos quase freaks com computador e celular, ficaremos ainda mais. Já algumas mídias vão sentir mais como out of home, mídia em aeroportos, estes certamente vão recuar.
Quais segmentos anunciantes devem ser mais afetados?
O turismo sem dúvida terá um impacto grande, mesmo que as pessoas planejem mais a frente suas viagens, agora ninguém quer falar disso, o funil de decisão fica impactado. A curto prazo o segmento automotivo também deve sofrer porque em qualquer tipo de crise o consumidor segura o planejamento de um desembolso maior, espera para ter certeza do que fazer. E ai impacta todos os negócios ligados a estas indústrias, no caso do turismo, hotéis, bares, companhias aéreas, e no segmento automotivo, meios de transporte, empresas de serviços de transporte, já vemos Uber com queda, 99 Taxis. Por outro lado, há aumento no varejo que tem a previsão de vir este mês muito melhor que em 2019, as pessoas, até de maneira incorreta, vão sim para o mercado, acabam comprando mais do que deveriam, para ficar com a sensação de segurança. Algumas querem fazer estoque e isso aumenta o volume do varejo. A telefonia também não deve ter impacto.
Quais os aprendizados que a publicidade pode extrair de um período como este?
Todos nós ainda estamos sob o impacto negativo e assustador do vírus, e ainda continuamos recebendo informações de todo tipo e qualidade, fake news e informações precisas. Em torno de duas semanas ainda viveremos isso, mas acho que, passado outros dez dias, começaremos a olhar com alguma ótica positiva. Eu estou bastante satisfeito com o nível de maturidade dos profissionais da agência, de responsabilidade, conhecimento do que estão fazendo e do que tem que fazer. Temos tido reuniões eficientes, com gente madura e preparada, passada a primeira onda de temor e medo, insegurança, vejo até um ganho de eficiência.
Você tem uma operação no Rio. Os mercados regionais serão mais impactados?
O Rio vem de uma sequência de desafios, esta é a grande questão, não está conseguindo ter um tempo. Sabe aquela história de tempo para respirar, se planejar? As pessoas estão a toda hora sendo colocadas a prova para fazer algo sobre algum estado de desafio muito grande. Temos uma operação muito forte no Rio, com quase 100 pessoas. Antes mesmo do carnaval víamos a vontade do carioca de arregaçar as mangas, e ir para a frente. É uma cidade espetacular, com oportunidades imensas, mas na sequência disso vem uma porrada desta natureza. As pessoas estão cansadas, sinto isso, não sei se vai ter um impacto específico regional, mas vejo um abatimento maior no Rio do que em São Paulo. Ao mesmo tempo conhecemos a capacidade do Rio, sua criatividade, característica guerreira, o carioca sai de qualquer situação de dificuldade com humor, inclusive surpreendente.
Na atual conjuntura, como as lideranças das empresas podem ajudar?
Meu pai era piloto e falava o tempo todo da responsabilidade do comandante do avião, que é sempre o último em uma aeronave em situação de emergência, ele tem que cuidar de todos, dar segurança. Todos os dirigentes de empresas com 10, 20, 30 ou mais de 200 funcionários, como é o nosso caso, tem que demonstrar um sentido de humanidade, respeito, carinho, atenção, acolhimento. Minha pergunta para minha galera é: tudo que planejamos em termos de estrutura para trabalhar em casa, a tecnologia, o canal de comunicação, as informações para você e sua família, estão funcionando? Minha preocupação não é as pessoas estarem realizando o trabalho para os clientes, mas se estão tendo o que uma agência como a Havas+ tem que entregar para se sentirem seguras. A principal preocupação não é qual a minha perda financeira, mas sim como está a minha equipe. Algumas vezes, no dia a dia, deixamos isso com o RH e ficamos mais com o business, mas agora é a hora de provar que estamos preparados para cuidar das pessoas.
*Crédito da foto no topo: Storm Clouds/ Pixabay
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