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Comunicação

“Não transforme sua casa em uma agência”

Sócio e diretor de criação da 11:21, Gustavo Bastos compartilha os desafios e particularidades de seu processo criativo em tempos de home office


30 de abril de 2020 - 6h00

Gustavo Bastos: “O que mais pesa é não ter aquele contato imediato” (Crédito: divulgação)

Desde março trabalhando no sistema de home office, os criativos brasileiros ainda buscam formas e processos para estimular a criatividade em ambientes e contextos totalmente diferentes dos que vivenciavam antes da pandemia do novo coronavírus. Sócio e diretor de criação da 11:21, Gustavo Bastos diz que desde o início da nova jornada tenta seguir dois rituais: não trabalhar de pijama e ter um lugar fixo como estação de trabalho em sua residência. Enquanto cumpre o primeiro ponto com certa tranquilidade, o publicitário admite, no entanto, que o segundo aspecto é mais muito mais complexo. Para ele, a disciplina também é importante no processo, para que não se trabalhe muito além de uma carga horária saudável. Na entrevista jogo rápido, a seguir, Gustavo conta como está lidando com o período e suas novas demandas.

M&M – Quais são as principais vantagens e desvantagens do processo criativo que acontece em de casa e não no escritório?
Gustavo – A vantagem é estar em um território só seu e com múltiplas possibilidades. Apesar de ser uma pessoa disciplinada e por isso ter um processo criativo constante, não sou muito preso a nenhum método rígido, então as distrações de casa terminam por serem aliadas. Gosto de ouvir minha calopsita Cacá piando, por exemplo, as compras chegando, a varanda me olhando e, pum, me vem uma ideia. A desvantagem é que isso não termina nunca, não tem dia, nem hora. Não existe aquele momento de ruptura entre trabalho e vida pessoal. Então, essa disciplina é importante de se forçar.

M&M – Qual a mudança que mais pesa no processo criativo? Ambiente, contexto, clima?
Gustavo – Acho que a que mais pesa é não ter aquele contato imediato com a turma, ali no salão da criação ou do atendimento e mídia, para discutir uma ideia, lapidar, melhorar ou mesmo jogar fora. Tudo é um processo mais lento e mais difícil na hora de juntar as pessoas para contar um filme ou desenvolver um conceito. Essa diferença pesa. Ainda mais por sermos uma agência ligada o tempo todo com as oportunidades, que muitas vezes surgem em um papo informal no meio da agência. O jeito é a gente tentar ter momentos informais entre as pessoas da equipe todos os dias, sejam pelo zoom ou qualquer outra ferramenta.

M&M – Tem alguma curiosidade que possa contar em termos de processo criativo?
Gustavo – Meu processo criativo é disciplinado, mas ao mesmo tempo um pouco caótico no sentido de não ter hora, nem lugar. Muitas vezes eu acordo de madrugada e mando uma ideia para mim mesmo pelo celular. Para minha surpresa, andar no jardim, escrever na varanda ou ficar na garagem por um tempo combina muito com meu processo. Estou muito produtivo. A ideia de fazermos um movimento de ajuda aos pequenos negócios, criando de graça para quem pedir, veio em um momento desses. E muitas das mais de trinta campanhas que criamos para essas pequenas marcas na primeira semana vieram de 85 voltas em torno da piscina.

M&M- As incertezas sobre a evolução do Covid-19 e o tempo de isolamento mexem com a cabeça e afetam a criatividade?
Gustavo – Acho que nada mexe mais com a cabeça da gente do que a incerteza, o desconhecido, o medo que pode ou não vir por aí. Ao mesmo tempo, é na adversidade que a criatividade humana aflora e vem com tudo, e é isso que está ocorrendo comigo e com as pessoas da equipe. Todos os dias fazemos um call geral para alinhar os trabalhos e começamos sempre por uma conversa informal sobre como estão os dias, a cabeça de todos, a saúde. Depois é que vem o trabalho. O humor com isso melhora e vamos em frente. Nossa produtividade nunca foi tão grande.

M&M – Quais são as suas recomendações para manter a criatividade em tempos de isolamento?
Gustavo – Consuma cultura, tente se desligar das notícias, curta os momentos em família, cozinhe, invente, e não tente ser assim tão organizado. Não tente transformar sua casa na agência, você não vai conseguir e vai perder a metade da graça de criar em casa. Criar em casa é bom justamente porque é diferente. Vamos curtir as diferenças. Há algumas semanas fiz minha primeira apresentação de campanha, para um cliente novo, pelo Google Meeting. E foi incrível. Seis pessoas do clientes ligadas, três da agência, um clima de expectativa pela novidade e no fim deu certo. Não lembro quando foi a última vez que fiquei tão na expectativa de uma apresentação. É o tipo de emoção que só neste período vamos ter.

Crédito da imagem de topo: piranka/iStock

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