Prêmios e experiência: quais os critérios para ser jurado em Cannes?
Manifesto do Papel & Caneta a respeito da falta de diversidade levanta debate sobre a seleção dos participantes da premiação e a maior diversidade nessa escolha
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Bárbara Sacchitiello
10 de maio de 2022 - 8h28
Na semana passada, um manifesto encabeçado pelo coletivo Papel & Caneta, que contou com o apoio de outros grupos de profissionais da comunicação, como a Chapa Preta e o Publicitários Negros, questionava diretamente a direção do Cannes Lions a respeito da falta de diversidade racial entre os jurados brasileiros.
Para esta edição do Festival, considerando tanto os profissionais que atuam no Brasil como os brasileiros que atuam em outros mercados e que participarão do júri representando outros países, são quase 30 profissionais selecionados para julgar os mais importantes trabalhos criativos do planeta. Desses, apenas um é negro: Angerson Vieira, diretor executivo de criação da Africa, que irá avaliar os trabalhos da categoria Direct. No ano passado, também, apenas uma profissional negra representava o Brasil: Samantha Almeida, atualmente na Globo, que fez parte do júri de Entertainment.
O manifesto abriu uma reflexão a respeito dos critérios utilizados pela organização para selecionar os jurados de cada País. No texto, o Papel & Caneta questionou diretamente Simon Cook, CEO do Cannes Lions: “Se os critérios de Cannes não contemplam essa inclusão e essa representatividade, o que precisa mudar não seriam os próprios critérios?”
Em uma publicação feita no site oficial do festival, Cook respondeu aos questionamentos e admitiu que, neste ano, a organização errou na seleção dos jurados brasileiros e destacou que, ao longo dos últimos anos, muito têm sido feito para ampliar a diversidade e a representatividade global e local no festival, mas que ainda há um longo caminho a ser percorrido.
A manifestação a respeito da baixa diversidade racial entre os representantes brasileiros e a resposta de Cook trouxeram à tona um questionamento que frequentemente permeia a indústria da publicidade sempre às vésperas do mais importante festival criativo do mundo: como são escolhidos os jurados e quais são os critérios para definir quem irá representar cada país no evento?
No Brasil, essa tarefa de escolha dos jurados conta com apoio do Estadão, que desde 2001 ocupa o posto de representante oficial do Cannes Lions no País. A reportagem de Meio & Mensagem questionou a empresa a respeito dos critérios para a seleção dos membros do júri e sobre quem determina, de fato, os nomes das pessoas que representarão o País na avaliação dos trabalhos.
Paulo Pessoa, diretor executivo comercial do Estadão, explicou que a lista dos jurados não é feita pelo veículo mas que, como representante oficial o Estadão indica alguns nomes para representar o País, que seguem alguns critérios estabelecidos pela organização do festival.
“O Lions estipula alguns critérios técnicos para a indicação de profissionais para membros de júri, como ter ganho um Leão – ou prêmios similares, sejam eles internacionais ou nacionais; experiência prévia como jurado e inglês fluente”, explica o diretor.
Pessoa também esclarece que é a organização do evento busca estabelecer um equilíbrio entre profissionais que tenha vindo dos grandes grupos de comunicação, mas que não interfere no peso e participação de grupos independentes. Dessa forma, por exemplo, não podem ser selecionados somente profissionais que trabalhem em agência do grupo WPP ou Publicis Groupe e sim que exista uma distribuição de ‘vagas’ entre profissionais de várias holdings.
O diretor executivo comercial do Estadão explica, ainda, outros critérios que determinam a decisão. “É exigido que tenha reconhecimento pelo mercado – além de expertise, caso seja indicado para categorias específicas de um segmento. Além disso, fica implícito nesta pré-seleção que não existe privilégio a um gênero ou raça específicos e sim a busca por representatividade”, diz.
Paulo Pessoa diz que, como representante oficial do Cannes Lions no Brasil, o Estadão indica alguns nomes, de acordo com os critérios mencionados acima, a partir de uma consulta ampla com as lideranças e associações representativas. “Recebemos indicações dos ex-jurados e consideramos candidaturas espontâneas que nos são enviadas. Após essa análise, enviamos uma lista com três nomes por categoria e a organização oficial do Festival determina a nomeação baseada em tantas outras sugestões do mercado mundial”, pontua.
A reportagem questionou o Estadão a respeito de como, dentro desses critérios, o veículo e o Festival vem procurando considerar as questões de diversidade e representatividade na seleção dos jurados brasileiros, uma vez que, já há alguns anos, a organização do Cannes Lions tem frisado a intenção de ter um grupo de profissionais mais diverso à frente dos trabalhos.
Paulo Pessoa afirma que, desde o início da representação oficial, o Estadão considera a questão de raça e gênero como critérios internos para a avaliação dos profissionais. “Conforme os anos passaram e a necessidade de representatividade foi se tornando cada vez mais necessária, seguimos com esse comprometimento de levar a diversidade a Cannes, como podemos observar na edição deste ano, com 50% do júri sendo mulheres. Em relação à questão racial, o trabalho é realizado da mesma forma. Ano após ano, indicamos profissionais negros e esperamos que se torne habitual e equilibrada a presença deste grupo no Festival”, finaliza.
Na resposta publicada ao questionamento do coletivo Papel & Caneta, Simon Cook declarou há muito trabalho a ser feito com cada país. “O júri de pré-seleção será anunciado na próxima semana e garantiremos uma maior representatividade, tanto em termos global quanto locais, particularmente no Brasil”, declarou.
Em seu perfil no LinkedIn, André Chaves, um dos connectors e representantes do Papel & Caneta, comentou sobre a resposta de Cook. Disse que foi legal ter o retorno do CEO do festival, mas que não ficou feliz com a resposta. “Pode ser um primeiro passo, mas foi uma resposta política. Falta falar mais sobre os critérios de escolha. Falta mudar esses critérios (sabemos que são com base em quem já tem histórico de Leão). Falta também encontrar especialistas locais que estejam comprometidos em mudar. Falta muita coisa. Inclusive, dizer quais profissionais brasileiros vão estar falando no palco do Festival este ano. Afinal, quais histórias vão estar sendo contadas, e por quem? Uma dúvida que eu ainda tenho.”, escreveu Chaves.
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