Produtoras buscam meios para seguir com produção publicitária
Renegociação de campanhas e formatos de conteúdo alternativos, executados remotamente, fazem parte do plano para manter a atividade em meio ao coronavírus
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Karina Balan Julio
19 de março de 2020 - 11h26
A resposta ao coronavírus começou com o cancelamento de eventos e reuniões nos boards das empresas. Foi nessa semana, porém, que a cadeia de fornecedores da comunicação passou a sentir com mais força o impacto das medidas de prevenção à Covid-19. As produtoras de publicidade, especificamente, se viram oficialmente forçadas a paralisar a produção de campanhas, seja por orientação de clientes, políticas internas de contenção ao vírus ou por impeditivos externos.
A Spcine, empresa municipal de fomento ao audiovisual em São Paulo, suspendeu desde o início da semana todos os alvarás para filmagens em equipamentos e espaços públicos da cidade, por tempo indeterminado. Já a Associação Brasileira de Produção de Obras Audiovisuais (APRO) divulgou um comunicado em parceria com a Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap) e sindicatos do setor, reforçando a importância de medidas preventivas no ambiente das produtoras e encorajando que busquem alternativas para manter sua atividade sem colocar equipes em risco.
Uma vez que a suspensão de filmagens impacta a rotina, prazos e receita das produtoras, muitas têm negociado o adiamento das filmagens junto a clientes até que o cenário se regularize. A maioria das campanhas está sendo adiada, mas não cancelada. “Os clientes não estão cancelando porque já têm as campanhas como algo definido no seu cronograma. A não ser que a cabeça do consumidor mude muito nos próximos 90 dias, a comunicação que pensou para hoje ainda fará sentido”, analisa Alberto Lopes, sócio da Vetor Zero. A produtora tinha agendadas para os próximos 30 dias pelo menos 12 diárias de filmagem para campanhas de grandes marcas, que tiveram que ser temporariamente suspensas.
A Spray Media também optou por cancelar gravações. “Cancelamos filmagens já no início de março nos projetos que envolviam equipes maiores em estúdios fechados”, diz Bruno Couto, diretor de marketing e comunicação.
Até o momento, não há nenhuma ordem legal que proíba ou suspenda o acontecimento de filmagens e gravações em ambientes privados, como estúdios e locações próprias. Em último caso, produtoras têm a possibilidade de gravar em espaços privados com equipes enxutas e tomando os devidos cuidados.
O Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica de São Paulo, o Sindcine, por exemplo, publicou uma carta aberta com 16 recomendações para as produtoras — entre elas, orientações para que equipes não se cumprimentem fisicamente, para que o catering seja servido com comida à la carte, em vez de bufê, e que a limpeza de banheiros seja feita de forma regular.
“Filmagens particulares não estão derrubadas. Nada impede que, se houver consenso, a gente grave projetos mais simples de executar dentro da estrutura dos clientes, tomando todos os cuidados”, exemplifica Rodrigo Furlan, diretor executivo e sócio da produtora Broders.
A alternativa para manter produções em andamento é por meio da cláusula de “Contingency Day”, defendida pela Apro e presente na maioria dos contratos de gravação. O mecanismo legal prevê que clientes das produtoras paguem por custos extras frutos de imprevistos ou adiamentos — caso um alvará de gravação seja cancelado ou um diretor não vá a filmagem, pois ficou doente, por exemplo. “Essa cláusula é importante porque nenhuma seguradora cobre danos gerados por pandemias”, explica Marianna Souza, presidente executiva da Apro.
A finalização e pós-produção de projetos, por sua vez, está sendo resolvida remotamente, já que produtoras estão espelhando sua estrutura de gestão e pós-produção em dinâmicas de home office. A Vetor Zero instalou computadores e estações de edição nas casas de seus funcionários, reforçou sua rede de internet e sistemas de firewall para proteger dados sensíveis durante o período de isolamento social. A Broders também transferiu a estrutura de finalização para a casa dos editores e está utilizando ferramentas online para reuniões e acesso aos materiais.
Experimentação de formatos
A suspensão de gravações para evitar aglomerações também é um convite para que agências e produtoras experimentem outros formatos de campanhas, além do live action. Em seu comunicado, a Apro estimula que produtoras usem técnicas alternativas como animações, stop motion e bancos de imagem em seus trabalhos — formatos que não requerem encontros presenciais no set. “Também queremos provocar agências para que considerem o cenário todo na hora de pensar nos roteiros”, diz Marianna.
Os projetos de animação da Vetor Zero, por exemplo, praticamente não sofrem com o cenário atual. A produtora tem cerca de 30 projetos de animação em andamento e dentro do cronograma.“Filmes feitos em motion graphics, em letreiros ou que demandam animações simples podem ser feitos tranquilamente de forma remota”, analisa Alberto.
Marcas promovem movimento #DistânciaSalva
A Broders também já estuda a realização de filmes com a ideia de execução remota e transmissões ao vivo. “As pessoas estão sendo obrigadas a ficar em casa, e por isso vão consumir muito streaming e conteúdos online. Já que não podem ir a shows, museus e eventos fora, há uma oportunidade para trazer experiências para a casa delas”, analisa Furlan. Artistas e influenciadores já estão de olho nessa tendência: John Legend e Coldplay planejam a transmissão de apresentações via streaming, e o Brasil terá no final de março o festival Fico Em Casa, com apresentações de 60 artistas via streaming.
A Spray Media, por outro lado, compensa a suspensão de externas com a produção de conteúdo digital para seus canais, que incluem propriedades como Desimpedidos e Quebrando o Tabu. “Boa parte desses conteúdos é feita internamente, com nossos creators, portanto temos uma grande oportunidade de seguir produzindo de forma remota”, finaliza Bruno.
Questão financeira
Apesar de algumas oportunidades nascentes, a Apro projeta que produtoras enfrentarão no mínimo três meses de recessão. “Produtoras vêm operando no limite, desde as mais robustas até as mais enxutas. Nesse cenário de paralisação, muitas terão um problema sério de fluxo de caixa, sem falar na preocupação com os profissionais, que na maioria das vezes são autônomos e precisam da atividade”, afirma Marianna.
Para se preparar para o aperto, produtoras estão freando investimentos em estrutura e na contratação de profissionais fixos. “Neste semestre veremos certo delay no caixa, mas prevemos que, mais para o final do ano, muitos projetos vão aparecer de uma vez e compensar esse hiato”, projeta Furlan, da Broders.
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