Produtoras nascem com a promessa de integrar IA aos trabalhos
Apesar das indefinições regulatórias e éticas que rondam a IA generativa, produtoras nascem com a premissa de integrar tecnologia ao negócio
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Renan Honorato
21 de maio de 2024 - 6h00
Assim como empresas de qualquer segmento, as produtoras audiovisuais precisam acompanhar as mudanças tecnológicas, sobretudo, quando prometem abalar a categoria. Foi assim com as câmeras digitais quando substituíram as analógicas e, com o avanço da inteligência artificial (IA), ainda mais mudanças estão por vir.
Sob a promessa de democratizar a produção cinematográfica, as produtoras Air e The Future Studios acabam de chegar ao mercado integrando ferramentas de IA no cotidiano aos negócios. Porém, existem ainda algumas questões em debate: regulamentação das plataformas, direitos autorais e alternativas de negócio.
Para Cacau Moraes, fundador da Future Studios, a inteligência artificial generativa (GenAI) permite que a pós-produção aconteça ao mesmo tempo – se não, antes – que as filmagens. Com um time composto por profissionais de pós-produção, como motion design e VFX, o olhar humano pode aprimorar, por exemplo, a iluminação gerada pela IA, que pode parecer pouco natural. A produtora já produziu filmes para Samsung e para a rede farmacêutica EMS.
Também com histórico na pós-produção, a dupla de diretores Nylon – formada por Marcos Ceravolo e Caio Montanari – criou a Air. A empresa tem utilizado fontes abertas de programação, conhecidas como open sources, disponibilizadas por programadores em fóruns abertos. Ceravolo menciona que a IA é capaz de criar, por exemplo, campos ‘infinitos’ de lavanda em uma cena panorâmica.
Além disso, menciona que a GenAI pode dispensar a utilização de animais nos sets de filmagem a partir das produções digitais. A Air produziu um filme para a Everest, com estreia neste mês, e está envolvida no projeto de Vivo para Olimpíadas.
A Future Studios opta por utilizar ferramentas como ChatGPT e Midjourney no dia a dia da operação. Segundo Cacau, os investimentos necessários para criar as próprias ferramentas seriam exorbitantes, além de estarem competindo com empresas de porte multinacional.
“Ainda é preciso de muita técnica e detalhe para criar algo que se destaque usando as ferramentas disponíveis”, comenta. Por outro lado, a Air tem buscado criar os próprios modelos a partir das open sources, mas também tem estudado a criação de ferramentas que possam otimizar as partes burocráticas de um projeto, como análise de valores e investimentos necessários.
Dos sócios Cacau Moraes e Baepi Pinna, a Future Studios nasceu como um espaço para que os profissionais interessados em IA possam ampliar o repertório. Segundo Cacau, à medida que eles iam agregando pessoas ao time, era notável que mesmo os mais entusiasmados precisavam aprender com as novidades que surgiam. “A pessoa com mais experiência em GenAI não tinha nem um ano de trabalho em cima disso”, comenta.
Nesse sentido, em junho, a empresa lançará a Future Academy, escola de online para uso de ferramentas digitais, como fonte de diversificação de receita e para capacitar futuros profissionais em IA. O primeiro curso disponível será sobre IA Filmaking e abordará como os indivíduos conseguem criar os próprios filmes usando a tecnologia.
Apesar de terem surgido com em meio à ascensão da IA, as produtoras audiovisuais ainda executam capturas tradicionais. Em ambos os casos, a IA é utilizada como forma de amplificar efeitos especiais, como ampliação ou criação de cenários de fantasia, tal qual cidades distópicas. Mesmo assim, tanto a Air quanto The Future Studios acreditam que o próximo passo sejam as produções criadas que utilizam integralmente ferramentas de IA generativa.
Em meados de 2022, o metaverso surgiu com a promessa de ser o próximo passo das interações sociais nos espaços virtuais. Na época, empresas criaram unidades de negócio e startups tentaram trilhar o caminho ao sucesso no mercado ainda prematuro. Aos poucos, o hype passou, o que causou demissões ou reavaliações sobre o negócio. Contudo, com a IA as coisas parecem ser diferentes, ao menos, é o que acreditam os executivos.
“Somos contadores de histórias e somos uma produtora como uma qualquer outra. Se precisar contar uma história em câmera aberta, a gente consegue. Chegamos em um caminho sem volta a menos que haja uma complicação em relação a regulamentação das coisas, porque precisa muito ter”, comenta Cacau.
A questão dos diretos autorais ainda é complexa e demanda regulamentação, inclusive para assegurar os trabalhos das produtoras audiovisuais. “Muitas vezes, a criação passa por tantos modelos que acabam virando uma coisa única”, comenta Ceravolo sobre a autenticidade do que é produzido a partir das ferramentas.
Segundo ele, a IA já estava integrada em outros softwares de edição há bastante tempo, porém, o diferencial é a parte generativa da programação. Ele também destaca que ainda existe uma lacuna na integração entre plataformas, mas é uma questão de tempo até que isso aconteça.
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