Hugo Rodrigues: “Silvio Santos era o rei do conteúdo”
Membro do Conselho do SBT e parceiro na comunicação desde 2009, executivo fala sobre a relação de Silvio Santos com a publicidade e o seu legado
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Taís Farias
17 de agosto de 2024 - 16h32
Ao longo de seus mais de 60 anos na TV e nos negócios, Silvio Santos se relacionou ativamente com o mercado publicitário. Um dos publicitários de maior proximidade com o apresentador é Hugo Rodrigues, chairman do McCann Worldgroup para WMcCann, Aldeiah. e Craft. Desde 2022, o executivo integra o Conselho do SBT.
Em janeiro de 2018, dois meses depois de Rodrigues assumir a liderança da WMcCann, uma das primeiras conquistas para a carteira da agência foi a chegada da conta do SBT, que era atendida desde 2009 pela Publicis e migrou para a WMcCann junto com o publicitário.
“Sou completamente apaixonado pela história e o significado por trás da marca SBT”, afirmou o executivo ao Meio & Mensagem à época. Rodrigues participou da estratégia de aproximação do SBT com o mercado publicitário, que envolveu a criação do prêmio O Melhor Comercial do Brasil e o patrocínio à categoria Film no Festival Internacional de Criatividade de Cannes, de 2013 a 2017.
Em entrevista ao Meio & Mensagem, Hugo Rodrigues fala sobre a relação de Silvio Santos com a comunicação do SBT e de seu legado para a publicidade brasileira.
Meio & Mensagem — Como foi a sua relação com Silvio Santos? De que maneira se deu essa aproximação?
Hugo Rodrigues — Começou em 2009, em uma reunião com a filha dele, a Daniela Beyruti. Em um momento em que a conta do SBT estava na Talent, migrando para a Publicis. Tive a honra de ser levado para uma reunião com a Daniela Beyruti e com a Priscila Stoliar. Naquele momento, pegamos uma assinatura, que era “A TV mais feliz do Brasil”, desenvolvida ainda na Talent, e adaptamos a linguagem de Jib Jabs, que são aqueles personagens de cabeçudinhos que ficam dançando com o corpo (vídeo). E é aí que entra o Silvio Santos. Quem é que queria a linguagem de Jib Jabs? Silvio Santos. Ele queria aquela linguagem. E eu, que na infância, olhava para o Silvio Santos como uma ponte — através dos programas dele — para algo que pudesse me dar um emprego, tinha a oportunidade de me aproximar dele profissionalmente como um prestador de serviço. Foi assim que começamos a relação que perdura até hoje. Sou membro do Conselho do SBT, atualmente, junto com a Dani, junto com a Renata Abravanel (filha caçula de Silvio Santos, ou, como ele gostava de dizer, “a número seis”) e todos os outros conselheiros.
M&M — Ao longo desse período, quais foram os seus maiores aprendizados?
Rodrigues — Sempre vejo o Silvio Santos como aquele personagem da série As Panteras, o Charles, que nunca aparecia, mas mandava em tudo. Esse personagem ligava do viva voz e passava as orientações para todo o time. O Silvio, metaforicamente falando, sempre foi assim. Um dos momentos históricos foi quando fizemos uma pesquisa para a campanha de 30 anos do SBT. Estávamos totalmente aprovados, alinhados com todo o time do marketing, de lideranças, todo o time de executivo do SBT, incluindo as filhas, que são extremamente competentes. De repente, ele olhou a campanha e mudou ela inteira. E nós passamos a madrugada adaptando ao mote que o Silvio queria, que era “SBT 30 anos com você”.
M&M — Na sua opinião, que legado Silvio Santos deixa para a publicidade?
Rodrigues — O Silvio Santos é um publicitário inato em tudo o que ele tocou, durante esses 93 anos. Nesses anos todos em que construiu um canal, ele tinha uma frase muito legal que era: “não queriam me contratar, por isso, tive que abrir meu próprio canal”. Esse legado é muito do que, hoje, nós precisamos. Da coragem, da confiança e de, mais do que falar, ir lá e fazer com as próprias mãos. Silvio Santos fez com as próprias mãos.
M&M — Uma grande marca do apresentador é o empreendedorismo. O que Silvio mudou na maneira como mídia e negócios se relacionam?
Rodrigues — Primeiro, o Silvio se transformou em um dos grandes concorrentes de uma das maiores emissoras do mundo, que é a Rede Globo. Então, ele já mudou o patamar a partir do momento que virou o vice-líder da Rede Globo e a fez não dormir. A Rede Globo para ser Rede Globo precisou do Silvio Santos. Essa é uma marca. Hoje, nesse turbilhão de redes sociais, de plataformas de multimídia, multi dimensão e de canais infinitos, quando o Silvio aparece, ele ainda é capaz de parar um País, como está parando hoje. Mais do que o meio, o conteúdo é imperador. E ele era rei no conteúdo. Ele era interativo.
M&M — O Programa Silvio Santos, por exemplo, está há 60 anos no ar. Quais são os pilares de uma marca pessoal tão longeva?
Rodrigues — Eu tenho 54 anos. O programa tem seis anos a mais do que eu. Eu lembro que, a partir dos sete anos de idade, meu sonho era ir ao Show de Calouros, ao Porta da Esperança. Era ir no foguete em que podíamos trocar isso por aquilo. Ele conseguia transformar o sonho, de crianças aos mais idosos, em algo que poderia acontecer a qualquer momento. Isso é muito importante para a vida. Manter o sonho vivo. O Silvio Santos morre fisicamente, mas jamais vai morrer como ícone do que é uma boa comunicação e do que é trabalhar incansavelmente.
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