Surreal Hotel Arts propõe transparência às práticas ESG
Com relatórios sobre compensação de carbono e reciclagem, produtora visa incentivar mudança sustentável no audiovisual
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Thaís Monteiro
12 de novembro de 2024 - 6h00
Fundada em 2021 e com escritórios em São Paulo e Nova York, a produtora Surreal Hotel Arts quer impulsionar um debate mais amplo e transparente sobre práticas ESG (sigla para Ambiental, Social e Governança) no mercado do audiovisual.
A produtora criou iniciativas proprietárias, com auxílio de especialistas, para tornar a produção audiovisual mais sustentável e diversa dentro de casa.
Uma das iniciativas é o Set Responsável, que determina práticas para compensação de carbono, gestão de resíduos, combate ao assédio e promoção de diversidade e inclusão nos sets da produtora. Para cada projeto realizado, a empresa produz relatórios dos impactos de cada produção, como taxa de reciclagem e emissão de carbono, e divulga para clientes e seguidores nas redes sociais. A Surreal também produz um censo sobre a equipe de cada set, a fim de aprimorar os próximos.
Como o audiovisual pode abraçar a pauta ESG?
Hoje, a empresa recicla, em média, 84% do material utilizado e compensa cerca de 1,7 mil quilos de CO2 por diária. Ao final do ano, a produtora faz um levantamento para mapear que aspectos de cada produção geraram mais emissão de carbono e criar novas metas para atingir. A empresa é signatária do Pacto Global da Nações Unidas desde seu primeiro ano de operação.
A Surreal defende que o mercado audiovisual deva ser cobrado por práticas mais sustentáveis e inclusivas. Conforme a COO, a produtora foi procurada apenas duas vezes por empresas que buscavam uma produção mais sustentável. “Acho pouco. Não vejo o mercado vendo isso como prioridade tampouco como limitador de concorrência. As marcas precisam ter ciência da quantidade de lixo formada quando fazemos uma filmagem para que possam cobrar as produtoras a respeito do dano ambiental”, coloca Cristina Chacon, chief operating officer (COO) da produtora.
Além do set responsável, a produtora conta com um acervo de materiais para reutilização em outras produções e doa parte dos tecidos não-utilizados para o coletivo Transol, que capacita pessoas trans com aulas de corte e costura, e resíduos cenográficos para a Associação Fênix, que utiliza o material em construção de casas para famílias em vulnerabilidade social.
Em janeiro, a empresa lança uma segunda edição do projeto de trainee Por + inclusão, que visa inserir mulheres, pessoas negras, indígenas, LGBTQIA+ e outros grupos minoritários no mercado audiovisual. Para o futuro, a Surreal estuda implementar um projeto de economia circular que incentive parceiros, além de um programa de palestras e rodas de conversas sobre ESG com o mercado.
A indústria da produção audiovisual está longe de ser uma das mais poluentes do mundo. Ainda assim, a contribuição da mesma para emissões de carbono para a atmosfera segue relevante. Publicado em 2021, um estudo da Sustainable Production Alliance revelou que a produção de um filme pode emitir entre 391 toneladas até 3.370 toneladas de carbono na atmosfera. Segundo a revista Time, a quantidade de carbono gerada em produções como Oppenheimer e Barbie são suficientes para abastecer 656 casas por um ano.
Preocupados com os impactos gerados pelas produções e pelas consequências da crise climática e ambiental nas locações e saúde e segurança dos colaboradores, em 2010, o comitê Green da Producers Guild of America e a organização Sustainable Production Alliance (SPA) criaram um guia com soluções para tornar as produções mais sustentáveis.
No Brasil, a Associação Cultural Panvision criou o Selo Verde EcoVision para incentivar boas práticas de sustentabilidade no audiovisual. Em 2023, a Globo lançou um guia de produções verdes para adotar práticas que reduzissem os impactos das gravações.
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