Renan Honorato
6 de junho de 2024 - 13h23
Carolina Pinheiro e Ian Black falara sobre a conexão entre a IA e a criatividade (Crédito: Eduardo Lopes/Imagem Paulista)
O debate sobre os impactos da inteligência artificial perpassaram todos os painéis, do segundo dia de ProXXIma, no palco Nielsen. Em um primeiro momento, a CEO do Infojobs, Ana Paula Prado, ponderou quais os reais impactos da IA para contratação de futuros talentos nas empresas. “Não podemos ter medo da inteligência artificial”, comenta. Ela ainda acrescenta que as gerações que estão entrando no mercado de trabalho, que não têm uma carreira feita como espécie de proteção, precisam de mais informações sobre o tema. “Elas precisam se adequar ao novo mercado para não se tornarem obsoletos”, acrescenta.
No painel seguinte, Ian Black, CEO da News Vegas, comentou que essa angústia com a implementação da IA na estrutura trabalhista acontece por excessos de temores no debate. Segundo ele, a cultura pop influenciou esse argumento binário de perda ou ganhos de empregos. “Esse pensamento só mostra que fomos criados por filmes dos anos 1980 que colocavam as máquinas como substitutos dos humanos, como o Exterminador do Futuro“, diz. Junto com ele, no painel “Por que os criativos são melhores que a IA?”, a diretora de criação da AKQA, Carolina Pinheiro, também ponderou sobre o assunto.
A tecnologia, diz Pinheiro, tende a potencializar o que é característico da expressão humana e, no caso da IA, não seria diferente. “Sempre que temos uma coisa nova, tendemos a levar tudo ao extremo, mas é preciso se ajustar”, menciona. Contudo, algumas funções serão de fato afetadas pela adoção da inteligência artificial, como o setor de atendimento ao cliente ou cargos administrativos processuais.
Desigualdade em tempos de IA
Ana Paula Prado, CEO do Infojobs, falou sobre os possiveis impactos da IA no mercado de trabalho
Para Ana Paula, a promessa que vai se trabalhar menos a partir do uso estrutural da inteligência artificial é, no mínimo, questionável. Sobretudo, em razão do tipo de trabalho que vai surgir a partir dessa implementação, porque outras funções podem surgir a partir dessa perspectiva. De fato, tanto para Ian quanto para Carolina Pinheiro, o excesso de agilidade e o imediatismo da sociedade sobrecarregam o ser humano. “A produtividade é fazer o melhor no tempo que temos”, diz Ian. Especificamente sobre o mercado publicitário, Ian acredita que “somos pessoas à serviço da aceleração do capitalismo e a IA pode ajudar a ampliar esse sentimento”.
No painel “IA no futuro do trabalho: Produtividade versus Precarização”, para a CEO da Infojobs tanto as empresas quanto as instituições de ensino precisam agregar ao debate. Segundo ela, a informação se concentra nas camadas mais elitizadas que ampliam as desigualdades sociais históricas no Brasil. Porém, Ana Paula ressalta que as transformações que foram vivenciadas nos anos recentes foram muito mais rápidas que em outros momentos. Outro ponto citado por ela diz respeito a precarização do trabalho e distribuição de posições menos capacitadas para periferia desse acesso à informação. “Temos que evitar que os trabalhos mais precários sejam as única opções para certas pessoas”, enfatiza.
Como a inteligência artificial pode abrir portas?
Por outro lado, Patrícia Campos defende a ideia que o propósito humano ainda é aquilo que movimenta a criatividade e a construção de peças publicitárias. Nas empresas, segundo ela, a IA ajuda na construção de estratégias e na análise de resultados, mas o “meio criativo” ainda exige muito trabalho humano. Outro ponto que ela destaca como potencial para IA é a construção de portfólio para jovens talentos que não teriam acesso às “grandes agências”. “Hoje, em valores, o ChatGPT se equipara aos programas da Adobe, por exemplo”, destaca Ian, mas ressalta que os ganhos em otimização de tempo são outros.
Ana Paula, da Infojobs, avalia que a IA pode contribuir para ampliar a diversidade dos processo seletivos. Ao mesmo tempo, as empresas podem criar ferramentas que possam contribuir no trabalho de diferentes pessoas que tenham algum tipo de deficiência. Apesar disso, Ian Black faz uma ressalva: existe o risco que as empresas passem a reduzir o orçamento destinado para certas funções em razão da IA. Para ele, é uma questão de tempo que as marcas entendam que, com “menos tempo de produção”, os valores de serviços passem por alguma renegociação.