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A voz do jogo

João Carlos Silva, conhecido nas redes sociais como KennoSV, comenta o início da sua trajetória como caster e a evolução do mercado gamer


18 de outubro de 2021 - 12h19

Com o desenvolvimento da mídia especializada em games e o aumento no interesse de transmissões de campeonatos, profissionais do segmento estão conquistando mais atribuições e a atenção das marcas. Nesse cenário, surge João Carlos Silva, ou KennoSV como é conhecido nas redes sociais. Como caster e criador de conteúdo, possui 180 mil seguidores em seu canal na Twitch, além de trabalhos com SBT Games. Como narrador há pouco mais de um ano, participou de eventos como a Play For Us, do Fortnite – comunidade com a qual se identifica muito –, e a FNCS, junto com a Epic Games. Também parceiro de marcas como NVidia, além de Logitec, LG, Monster e Claro Gaming, que são patrocinadoras do time INTZ, no qual é streamer, KennoSV comenta o início da sua trajetória e a evolução do mercado gamer.

KennoSV (crédito: Ismael Alves Castelo Branco/divulgação)

Meio & Mensagem — Há quanto tempo você cria conteúdo relacionado a games e como começou a narrar campeonatos?
KennoSV — Em janeiro de 2022 fará quatro anos que eu comecei nas streams. Faz um ano, ou pouco mais, que comecei a narrar. Já jogava Fortnite e, com o tempo, comecei apenas a assistir o pessoal, notei que eles gostavam de ser vistos enquanto treinavam, então, passei a assistir e reagir aos jogos. Como eu já treinava, tinha um servidor no Fortnite, foi lá que comecei a exercitar a narração. Nos primeiros dias, eles reclamaram, então, fechava a minha live e ia estudar a forma de apresentação, dicção e tudo mais. Recebi o primeiro convite para narrar a Play For Us, em 2020, e encontrei vários influenciadores e nomes gigantes do cenário brasileiro da música, como Emicida, Rashid, Diogo Defante, mas antes disso já vinha narrando nas streams. Foi muito rápida a transformação do Kenno criador de conteúdo para o Kenno caster.

M&M — Existe algum curso, alguma referência no Brasil ou fora que você tenha estudado para começar a fazer ou foi um processo intuitivo?
KennoSV — Hoje, quando você fala em narração para uma pessoa que não é do mundo dos jogos, a associação direta será com o futebol, ou algo do tipo. No mundo dos games, esses profissionais são os casters. Quando comecei a estudar narração, achei muito conteúdo de fora, muita coisa em inglês, tem um histórico maior. Identifiquei os exemplos de caster, como o host, que é pessoa que é a cara do evento, como, por exemplo, a Nyvi Estephan, que é apresentadora. Tem também os casters play by play, ou jogada a jogada, que é aquele profissional que está ali para ver e falar tudo o que está acontecendo, às vezes está rolando uma jogada e o competidor faz três, quatro, cinco eliminações e ele não perde nada. E temos os casters clours que, normalmente, são os comentaristas técnicos, que complementam a narração do evento. Eu me encaixo como play by play, mas eu também faço host. No evento do SBT Games fiz os dois. Quando comecei treinando narração, passava 12 horas por dia narrando. Começava às 8 horas da manhã e parava às 8 horas da noite. E era uma partida atrás da outra. É algo que me ajudou a exercitar a narração e ajudou o pessoal a treinar e ser visto.

M&M — Existe alguma referência no Brasil que você tenha tido contato para iniciar as atividades como caster?
KennoSV — O André Henning, do TNT Sports, é muito bom de observar, pois pegamos muitas referências de lugares que não são dos jogos. Quando comecei a treinar, eu já era um consumidor do conteúdo do André, a voz dele, o jeito que ele emocionava, já me impactavam bem antes de pensar em ser narrador. Quando fui estudar, procurei direto vídeos do André Henning narrando futebol e também de outros casters da área. Já consumia muito conteúdo do Bida, da época do CS, do Nicolino e, hoje, tenho referência de um profissional que trabalha comigo, o Thauê Neves, narramos juntos a FNCS.

M&M — Atualmente, o que é preciso para ser um bom profissional da mídia gamer?
KennoSV — Precisa ser transparente, ser sempre você, e tomar cuidado com o conteúdo que passa para as pessoas. Hoje, eu tenho um público infantil, e famílias que me assistem. Recebo feedback o tempo todo de pais que assistem às transmissões dos campeonatos com seus filhos, suas esposas, todo mundo na sala, então, tomo muito cuidado com o que eu falo. Além disso, no meu canal tenho cerca de 10 a 12 moderadores, em tempo real, que me ajudam a gerenciar tudo. No servidor de treino tem outras 15 pessoas que ajudam os 87 mil players que passam por lá, seja com informações, denúncias, dúvidas, a sanar essas necessidades.

M&M — Como é o seu relacionamento com a audiência gamer? Durante a pandemia, notou um aumento da audiência?
KennoSV — Meu contato com meu público é muito bom. Utilizo bastante as redes sociais como o Instagram, Twitter e o próprio Discord para treino. Conversamos muito, eles me dão feedback sobre o que dá para fazer e eu vejo, alinho e trago novidades. Os números na pandemia — de todo mundo, não só os meus — aumentaram, porque o consumo do pessoal aumentou demais, seja para games e para não games, porque esse mundo de streamer cabe para todos os lados. No início da pandemia, meu canal teve um boom gigante, as coisas começaram a dar certo. Impulsionou muito em todos os horários. Como eu começava minha transmissão muito cedo, umas 7 horas da manhã, o público era menor, não tinha tanta gente consumindo na plataforma, então, quando começou, notei que tinha mais gente procurando conteúdo, por que eles estavam ociosos em casa, então, passava das 8 horas da manhã às 8 horas da noite com o mesmo público frequente.

M&M — Como é a sua relação com as marcas? Tem algum patrocinador? Qual é a importância de ter cada vez mais patrocinadores investindo no universo gamer, entendendo a diferença dos esportes tradicionais?
KennoSV — O crescimento do cenário de eSports é inevitável. Fica evidente, pois já vem em uma crescente gigantesca há alguns anos e estamos só multiplicando, várias marcas não endêmicas chegando. Vemos exemplos como times de futebol montando setores de games e as marcas aparecendo, incentivando, fechando parceria e encontrando bons parceiros para divulgar o seu produto. O Brasil está cheio de bons profissionais e isso só tem a acrescentar para ambas as partes. Tenho uma boa relação com a NVidia, eles me dão suporte, me acionam quando precisam fazer publicidade, e faço parte do time da INTZ como streamer, então, eles alocam todas as marcas patrocinadoras para mim como, por exemplo, Logitech que, inclusive, acaba de atualizar todos os meus periféricos, além de LG, Monster, Claro Gaming e o SBT.

M&M — O que uma marca deve levar em consideração ao se associar a você? E o contrário, que você leva em consideração para isso?
KennoSV — Com certeza a minha imagem perante a comunidade é exigida 100%. Se eu fosse um cara que tem uma péssima imagem ou que vive discutindo em rede social, me expressando mal, eu não estaria onde estou. Tomar cuidado com a minha imagem é essencial. E da marca eu exijo que eles me passem um produto que eu sei que realmente meu público vai consumir ou tem necessidade daquilo. Hoje, talvez, não faça sentido fechar uma publicidade com um site de aposta, sendo que meu público, em sua maioria, é menor de idade, e está no jogo para se divertir.

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