Em todas as telas
Empresas de comunicação se tornam canais para transmissão de games e criação de conteúdo, além de hubs para se encontrar com as marcas
Empresas de comunicação se tornam canais para transmissão de games e criação de conteúdo, além de hubs para se encontrar com as marcas
Meio & Mensagem
18 de outubro de 2021 - 12h51
O mundo gamer é um assunto que está chamando cada vez mais atenção não apenas de marcas anunciantes, como também de empresas de comunicação. O conteúdo deixou de ser algo endêmico de uma comunidade e passou a ser comentado por diversas fontes não diretamente ligadas a esse ambiente. Assim como em outros segmentos, como futebol, ou beleza, seus porta-vozes se tornam canais importantes perante a comunidade, que busca identificação e uma conexão orgânica com quem se envolve com a temática.
Pensando nisso, empresas de comunicação voltam suas atenções a campeonatos e criação de conteúdo concentrados no tema. Esse também tem sido um caminho assertivo para as marcas que se aproximam desses produtores de conteúdo. Se em algum momento meninos e meninas queriam se tornar youtubers ou influenciadores, uma nova gama de profissionais da comunicação surge: os streamers. Com isso, inúmeros casters emergem no cenário para falar com um público altamente engajado e que, em muitos momentos, cocria com eles. Em consequência disso, os canais voltados aos gamers estão se profissionalizando. Desde nichos mais específicos, como é o caso da Twitch e Nimo TV, até grandes emissoras tradicionais como SBT, Globo e WarnerMedia, querem estar nessa conversa, e trazer profissionais para junto de si. A transmissão de grandes campeonatos também é uma fonte relevante de conteúdo. Assim como o contato com eventos esportivos como Jogos Olímpicos, Copa Libertadores, Campeonato Brasileiro, hoje, o público gamer pode assistir com facilidade a campeonatos voltados aos eSports, como a Liga Latina de Mortal Kombat, transmitida pela WarnerMedia, em seu canal no YouTube Warner Play e com a final exibida pelo canal Space, ou a CBLOL, transmitida pela Twitch, Nimo TV e SporTV.
Conteúdo especializado
Atualmente, plataformas usam a internet como espaço para desenvolver a conexão com os fãs de games. O YouTube é um bom exemplo, já que lá é possível encontrar os mais diversos conteúdos relativos ao tema. O player será um dos veículos a transmitir o campeonato paulista de futebol, por exemplo. E, para atrair mais atenção para a programação, convida marcas de setores como gastronomia, gaming e tecnologia para se juntar a eles nessa nova jornada. Além disso, a plataforma é um dos ecossistemas onde mais se encontram conteúdos e produtores. Sua editoria de games, atualmente, possui mais de 90 milhões de inscritos, com conteúdo variados. Os canais especializados em games são pontos de contato para muitos fãs da comunidade de jogadores. Lá, eles podem encontrar conteúdo 100% produzido para o nicho, com as características próprias do meio. Além disso, as comunidades — que podem variar de acordo com cada segmento de jogo — vão se formando e os espectadores e players vão encontrando seu próprio grupo.
A grade da Twitch traz uma gama de variedades para os fãs. Desde o segmento de jogos como GTA, Counter-Strike (CS), New World, Fortnite, entre outros assuntos, a canais de personalidades, como Gaules, que atualmente soma 2,9 milhões de seguidores na plataforma. Phil Chaves, diretor comercial da Twitch, define a plataforma como uma forma de “encontrar sua galera” e compara o conteúdo aos esportes. “Assistir um canal gamer com um streamer em seu auge (literalmente) não é diferente de assistir Tom Brady em um campo de futebol ou LeBron James em uma quadra de basquete”, avalia o diretor.
No âmbito do conteúdo, além da Twitch, que é um dos maiores canais de streamers do cenário gamer, a Nimo TV realiza grande investimento. Trazendo em seu guarda-chuva nomes como Hudson Amorim, Modder, Mariana Alpha, Dani Liu, Ranoroxa, Smurfdomuca, Piuzinho, Two9, Brasilfpss, Sabsdenada e Rbiana no Brasil, 5,5 mil pessoas abrem lives na Nimo todos dias. Por isso, o canal investe em conteúdo. Além da transmissão de campeonatos, a parceria com a agência especializada em games Druid trouxe para a casa a primeira leva de players especializados em Grand Theft Auto (GTA), e a plataforma está investindo cada vez mais nessa categoria, além de uma divisão de jogos life style, com experiências diferenciadas, como talentos de karaokê, danças e cosplay.
As plataformas de nicho investem nas streams para fortalecer o seu conteúdo e o relacionamento com os fãs. O que demanda uma infraestrutura importante para as empresas que querem entrar no segmento. Ao contrário de canais de televisão tradicionais, que já possuem experiência e estrutura para as transmissões, as plataformas desenvolvem sistemas que auxiliam os criadores de conteúdo a desenvolver o seu trabalho. Esse é o caso da Nimo TV, que conta com uma equipe local, treinada para atender os players com qualquer problema que enfrentem. “Temos um pessoal que já está no mercado há muito tempo. Somos uma plataforma mobile e comunicamos muito com essa categoria e jovens. Estamos expandindo para PC e console”, comenta Rodrigo Russano Dias, head de PR & social media da Nimo TV.
Omnichannel nos games
Pensando no espectador como consumidor, ele tem um leque mais amplo de canais de consumo. Seja nas telas de computador, consoles conectados à TV ou nas telinhas dos celulares, cada vez mais formas de acesso são disponibilizadas. Por isso, emissoras tradicionais estão entrando no segmento. Spin-offs dessas marcas surgem no cenário, também como uma forma de especializar o conteúdo e poder oferecer mais conceitos técnicos e direcionados aos fãs de games, seguindo o mesmo preceito dos canais especializados. A atenção do público jovem também é um alvo para os canais tradicionais.
O investimento em profissionais que entendam o mercado é cada vez mais evidente dentro das emissoras. A começar pelo SBT, que tem sua marca SBT Games como um dos grandes pilares. A emissora de Silvio Santos carrega em seu DNA o entretenimento, e a categoria de games não poderia ficar de fora. Willian Pesenti, diretor do SBT Games, compara o universo às tradicionais competições exibidas pelo canal, como o famoso Passa ou repassa, que já foi apresentado por nomes como o próprio Silvio e Celso Portiolli, além de inúmeras versões de jogos de perguntas e respostas. “Não ter games no SBT Games seria um erro. Tínhamos gincanas, que remetem aos games atuais, e sempre tivemos o game no DNA”, sentencia o diretor.
Por isso, o braço da emissora voltado exclusivamente para o segmento gamer tem conteúdos no Youtube, Twitter, TikTok, Facebook e, como carro-chefe, o canal na Twitch. Personalidades como os Irmãos Piologo, e o caster KennoSV estão no casting profissional da emissora. No entanto, o diretor comenta que a busca por profissionais para compor o time do SBT é constante. A cada transmissão, a plataforma busca narradores, comentaristas e apresentadores, além de pessoas para a área técnica, como diretores e switchs para fazer as lives. No momento, as transmissões são realizadas de forma remota, aproveitando a facilidade proporcionada pela internet. No entanto, o plano é que, em 2022, com a evolução positiva do quadro da pandemia no Brasil, os estúdios da emissora também se tornem arenas para campeonatos.
Além disso, Willian explica que para o SBT Games é importante buscar novos talentos. Ele conta que mesmo sendo um consumidor casual de games está sempre cercado por pessoas que, de alguma forma, estejam inseridas no assunto. A plataforma aposta num futuro com cada vez mais streamers da casa, e busca revelar a “Maisa dos Games”. “Todo o envolvimento da transmissão, da técnica, quando falamos de eSports, é a paixão. A geração olha para o streamer e quer ser como ele, assim como no futebol”, avalia.
Do mesmo modo, a WarnerMedia conta com uma plataforma de games como um de seus pilares. O conglomerado de mídia que tem inúmeras franquias em suas dependências, também aposta na distribuição dos jogos. Em seu portfólio, aparecem nomes como Mortal Kombat, franquia com quase 12 milhões de unidades vendidas e Lego — com desdobramentos de personagens da DC e Star Wars —, entre outros jogos conhecidos no cenário. Tudo isso vira gatilho para a produção de conteúdo da Warner Play, segmento voltado ao departamento de games. O canal que transmitiu 103 horas de torneios no YouTube, prioriza um ecossistema com diversos meios de gerar conversas com os espectadores. A final da Liga Latina de Mortal Kombat, que é o principal ativo das transmissões do player, gerou 42,3 mil visualizações e 13,8 mil horas assistidas, além da transmissão realizada pelo canal Space, que pertence à WarnerMedia, gerando um cross mídia importante. “A transmissão de eSports é bem específica. O que fazemos em relação ao Space é buscar sinergia”, explica Juliana Brito, gerente de marketing sênior da Warner Bros Home Entertainment.
Contudo, a Warner, que é um ecossistema, sempre conversou muito com os diferentes tipos de fãs, e é nessa comunicação que a plataforma Warner Play aposta. A empresa entende que o público que acompanha games ajuda na construção de conteúdo, por isso, tenta sempre envolvê-los como cocriadores. Isso acontece, também, porque o canal reformulou sua plataforma, e trouxe profissionais como Amanda Brandão e Arthur Ribas, como hosts da casa. “Tudo o que fazemos é colocando o fã primeiro, é bastante genuíno o que essas franquias de anos trazem, já é um interesse da própria marca, e a Warner Play faz o mesmo movimento, trazendo-os para fazer parte da conversa”, avalia Juliana.
A produção de conteúdo faz parte do DNA da Warner, por isso, o player não fica preso à distribuição de games ou mesmo às transmissões e assuntos no canal. No aplicativo HBO Max, os fãs podem encontrar filmes baseados em franquias, como é o caso de Mortal Kombat, ou mesmo o contrário. A executiva conta que essa é a forma que encontraram de estar sempre atentos ao que o público quer consumir, e oferecer essa variedade.
No ambiente esportivo, no entanto, os campeonatos são grandes polos para os criadores de conteúdo. Seja um treino ou um torneio para valer, a competitividade é um atrativo para os fãs de games. Poder assistir o seu player favorito em uma disputa é o que faz muitos espectadores buscarem canais. Assim como no futebol, basquete ou vôlei, transmitir esse tipo de conteúdo precisa de emoção e profissionalismo. Pensando nisso, a SporTV — uma das maiores distribuidoras de conteúdo esportivo do País — passou a olhar para os eSports. A emissora investiu em um spin-off, a Player1, que tem investimento da Globo Ventures e está sob o comando de Leandro Valentim, executivo que ocupava o cargo de head de games e eSports da Globo e que, a partir de agora, passa a ocupar o posto de CEO da Player1 Gaming Group.
Marcos Botelho, líder dos canais SporTV, explica que esse é um momento estrtégico para a emissora, que tem um canal especializado no YouTube com conteúdo exclusivo para games, além de uma editoria de cobertura no site do ge.globo. “Neste movimento estratégico, rebatizamos os canais eSporTV como Player1 para reforçar esse diálogo e seguimos parceiros e conectados”, reforça. A especialista em esportes está ampliando a sua cobertura e investindo em um formato jornalístico para o segmento, passo importante na criação de conteúdo da empresa, que hoje tem em sua grade transmissões como WESG, CBLOL, CBCS, Eventos ESL (Counter Strike), PES e PUBG e o Prêmio E-sports, que sempre gera bastante repercussão.
Monetização e patrocínio
O engajamento que é permitido por essas redes de conteúdo gamer é uma das maiores minas de ouro para esse segmento. Phil Chaves, da Twitch, comenta que a plataforma construiu ferramentas para fornecer a melhor forma de interação com o público gamer. Essa é uma preocupação, pois o assunto atrai não somente marcas endêmicas — já inseridas no contexto — mas também não endêmicas, como bancos, caso de Itaú, com o #IssoMudaoGame; Santander, que criou crédito exclusivo voltado para o nicho, e Picpay, que patrocina o SBT Games desde o All-Star (evento internacional de League of Legends), ou empresas de telefonia, como a Claro, com a Claro Gaming, que patrocina o time da INTZ.
Para o diretor, as marcas e profissionais de marketing devem entender que os comunicadores gamers não são um recurso único e solitário, mas estão envolvidos em um contexto. “O ponto de entrada inicial para as marcas são os anúncios em vídeo simples, criados e direcionados à comunidade”, avalia. Gerar essa proximidade com o público é o primeiro passo, depois se integrar com os streamers e patrocinar campeonatos se torna algo natural.
Essa relação com as marcas, no entanto, é algo que está sendo construído por parte das plataformas. Juliana Brito, da Warner, conta que os canais ainda estão projetando esse relacionamento para que seja algo genuíno entre marca, canal e público. E é pensando nisso que o SBT planeja pacotes específicos junto com a sua equipe comercial, para cada uma das empresas que querem entrar no SBT Games.
E existem as plataformas que não buscam a relação direta com anunciantes. Por isso, a monetização se torna uma forma de apoiar o conteúdo produzido pelos profissionais que estão no segmento. É uma forma de sustentabilidade que parte da própria comunidade e pode variar de acordo com cada plataforma. A Nimo TV, por exemplo, tem uma forma de monetização que conversa com a comunidade de cada streamer, e entende as características financeiras de cada um, tornando as formas de apoio totalmente democráticas. Com três formas de monetização, o fã pode colaborar com diamantes (presentes) e, no fim do mês, esses elementos serão convertidos em dinheiro para o streamer; o plano de assinatura, no qual o espectador ganha vantagens, como figurinhas customizadas para interagir no chat; além do fã clube, que conta com uma taxa de adesão a partir de R$ 1,99 por mês.
E desse modo os canais vão encontrando formas de ajudar cada um de seus profissionais a crescerem dentro do nicho. Rodrigo Russano Dias, da Nimo TV, entende a plataforma como uma ponte entre os profissionais e as marcas, pois a partir da visibilidade que elas disponibilizam, o streamer passa a ser visto. Por isso, o executivo ressalta que é importante cuidar desses profissionais. “Temos esse papel central e queremos que eles desenvolvam a sua comunidade. Queremos dar as condições necessárias”, reforça.
Compartilhe
Veja também
Profissionalização do entretenimento
Crescimento do setor de games impulsiona estruturação das organizações e competições, ampliando oportunidades de conexão com marcas e um público fiel e engajado
Ecossistema ativo
Além do crescimento das competições, mercado gera oportunidades para produção e transmissão de conteúdo