Omnicom fecha compra do Grupo ABC
Negócio de R$ 1 bilhão é o maior da história da publicidade brasileira. Os fundadores Nizan Guanaes e Guga Valente continuam no comando da holding que sofreu mudanças recentes de acionistas
Negócio de R$ 1 bilhão é o maior da história da publicidade brasileira. Os fundadores Nizan Guanaes e Guga Valente continuam no comando da holding que sofreu mudanças recentes de acionistas
Alexandre Zaghi Lemos
20 de novembro de 2015 - 5h50
“Não posso falar sobre o assunto”, disse ao Meio & Mensagem o CEO do Grupo ABC, Guga Valente, nesta sexta-feira, 20, sobre a venda da holding brasileira para o grupo norte-americano Omnicom, confirmada à reportagem por outras fontes próximas à negociação. As duas partes já são sócias desde a fundação do ABC, em 2002, quando o grupo foi lançado, com a marca Ypy, por Guga e Nizan Guanaes. Entretanto, o relacionamento societário da dupla brasileira com o Omnicom é anterior ao lançamento do ABC. Em 1997, Guga e Nizan venderam para a rede DDB, integrante da holding norte-americana, o controle acionário da DM9, agência que haviam comprado de Duda Mendonça em 1989.
Atualmente, o Omnicom tem participações em quatro agências administradas pelo Grupo ABC: a multinacional é majoritária na DM9DDB (60%) e no escritório local da Interbrand (60%), e detém participações minoritárias na Africa (15%) e na Loducca (9%).
A aquisição do ABC pelo Omnicom deve ser anunciada oficialmente na segunda-feira, 23. Como geralmente acontece nesse tipo de acordo, o contrato assinado prevê a permanência de Guga e Nizan no comando do ABC por um prazo mínimo de cinco anos.
Lucro de R$ 42 milhões
O negócio giraria em torno de R$ 1 bilhão, a ser pago em cinco anos, e é o maior da história do mercado publicitário brasileiro. O Grupo ABC é a única companhia nacional presente no ranking das 50 maiores holdings de comunicação do mundo. Segundo o Agency Report, publicado anualmente pelo Advertising Age, após queda de 8% em 2013, o ABC retomou o crescimento, com avanço de 9% em 2014, atingindo receita US$ 403 milhões. Apesar disso, caiu da 23ª para a 25ª posição no ranking global, liderado pelo WPP (US$ 19 bilhões), com o Omnicom (US$ 15 bilhões) em segundo. O balanço oficial do ABC reporta lucro de R$ 42,2 milhões em 2014.
Bazinho e BFerraz em voo independente
O desejo de venda para um grupo multinacional causa mudanças no quadro acionário do Grupo ABC desde o ano passado. A mais recente e mais importante de todas foi a saída da sociedade, na semana passada, de Bazinho Ferraz, até então dono de cerca de 10% da holding brasileira. Ele foi o primeiro grande acionista individual a deixar o negócio desde a fundação em 2002. Bazinho vendeu sua participação para os demais sócios e recomprou o controle total da BFerraz, agência de marketing promocional que fundou em 1999 e, assim, deixou a estrutura do ABC, até então majoritário na empresa. “A holding está indo em outro rumo e, para mim, está na hora de voltar a caminhar sozinho”, disse Bazinho ao Meio & Mensagem.
Fundos devem sair do negócio
O ABC tem apenas outros dois grandes acionistas individuais, justamente os fundadores Nizan e Guga. A holding é composta ainda pelos fundos de investimento Icatu, sócio desde o início, com cerca de 23% das ações, e Kinea, controlado pelo banco Itaú, que, no início de 2013, fez aporte próximo de R$ 170 milhões e detém participação de cerca de 26%. Há outros minoritários, como Sérgio Valente, ex-presidente da DM9DDB e atualmente executivo da Rede Globo. Com a venda para o Omnicom, os fundos de investimento devem sair do negócio.
Sonho não realizado
O sonho de Guga e Nizan era viabilizar a saída dos fundos através da abertura de capital do Grupo ABC, plano acalentado durante anos e que motivou grande investimento da holding na melhoria de sua governança. Entretanto, as dificuldades inerentes à oferta de ações em bolsa aliadas à difícil situação atual da economia brasileira inviabilizaram totalmente o projeto e abriram caminho para a negociação de venda para o Omnicom – beneficiada pela desvalorização do real frente ao dólar.
Política de cotas
Em 2014, o ABC iniciou projeto de mudança na sua configuração acionária para transformar os sócios das agências em acionistas da holding. Os primeiros a aderirem à proposta, em dezembro, foram os sócios da Africa, Luis Fernando Vieira, Marcio Santoro, Olivia Machado e Sergio Gordilho.
Entretanto, a política de troca de ações não agrada a todos. Em entrevista ao Meio & Mensagem no mês passado, Guga Ketzer, novo presidente da Loducca, deixou clara a posição dos sócios da agência, que está mudando sua marca para LDC. “Nós continuamos sendo sócios da agência. O nosso modelo é esse. É interessante para os sócios manter a nossa responsabilidade atrelada à agência”, disse. Ketzer está assumindo o posto de CEO da Loducca, após anúncio da saída do fundador Celso Loducca, que vendeu sua participação de 23% para o Grupo ABC, que passou a deter 74,5% da empresa.
Fusões internas
Também estavam em curso as negociações para diminuição na participação do ABC na agência norte-americana Pereira & O’Dell. A holding assinou acordo pelo qual se compromete a ceder 21% das ações da POD para que a agência inclua como sócios alguns de seus executivos, diminuindo, assim, a participação do grupo de 51% para 30%. Essa negociação não inclui o escritório brasileiro da POD, no qual o ABC pretende manter o controle acionário, e que fundiu em julho com a DM9Sul. Outra movimentação do gênero se deu em fevereiro, quando a Africa absorveu a DM9Rio.
Jogo de cena
Durante esse ano, surgiram informações de uma possível negociação entre o ABC e o Grupo WPP. A companhia brasileira divulgou comunicado oficial negando e o CEO global da holding inglesa, Martin Sorrel, fez jogo de cena ao falar do assunto durante o Festival de Cannes. Disse que “o Nizan nunca mente, então deve ser verdade”.
Fim da discrição
Ao contrário do WPP e do francês Publicis Groupe, que fizeram várias aquisições importantes no Brasil nos últimos anos, o Omnicom se mantinha mais discreto. Sua última compra no setor da publicidade foi a da agência Mood, no ano passado, quando também fez duas aquisições no mercado de relações públicas: parte majoritária da Ketchum e minoritária da In Press.
Maior operação do Omnicom
Com a compra do Grupo ABC, a holding se tornará a maior operação do Omnicom no País, onde a multinacional também controla a AlmaBBDO (na qual é majoritária desde 1988), a Lew’Lara\TBWA (comprada em 2007), a Mood (em 2014), além da digital ID (que controla desde o lançamento em 2007). O Omnicom também mantém no Brasil diversas empresas ligadas à sua área Diversified Agency Services (DAS), como a Rapp (marketing direto e digital), a GMR Marketing (esportes e entretenimento) e as agências de relações públicas InPress Porter Novelli, Ketchum e FleishmanHillard.
Até então, maior grupo controlado pelo capital nacional, o ABC é controlador das agências Africa, Loducca, Pereira & O’Dell São Francisco, Pereira & O’Dell Brasil, Escala, Morya, Tudo, Musica, CDN, NewStyle, Sunset, Salve, Rocker Heads e Mindigitall. E através da sociedade que já mantinha com o Omnicom, é responsável pela gestão da DM9DDB e o escritório brasileiro da Interbrand, ambos ligados à DDB, majoritária nessas duas empresas e uma das três principais redes globais da holding norte-americana – as outras duas são BBDO e TBWA.
Avanço digital
No decorrer de 2015, o Grupo ABC mudou seu plano de investimentos. A prática dominante até então era de compra majoritária de empresas, como a digital Salve, concretizada em abril. Investia também no lançamento de empresas, como a Mindigitall, unidade de gestão de inteligência de dados que nasceu em abril, a partir da incorporação da 2Action. Mas a holding passou a considerar também joint ventures, como a celebrada em outubro com a Sodet, empresa de inovação instalada no Porto Digital, no Recife, para lançamento da consultoria de negócios digitais Much More; além de investimento minoritário em startups, como o anunciado neste mês na 301, agência especializada em produzir e comprar mídia para vídeos em plataformas digitais.
Compartilhe
Veja também
Cartola convida jogadores para nova temporada do Brasileirão
Embaixadores do fantasy game destacam as vantagens da assinatura em campanha que fala sobre habilidades futebolísticas
As agências mais criativas do ano, de acordo com o Ad Age
Publicação dos Estados Unidos divulga a lista anual das operações cujos trabalhos criativos e desempenho se sobressaíram na indústria