Maurice Levy critica Sorrell: “hipocrisia”

Meio & Mensagem
30 de março de 2016 - 10h53

As acusações de racismo e sexismo que acabaram levando ao afastamento de Gustavo Martinez do posto de CEO da J.Walter Thompson  e a nomeação de Tamara Ingram, então CCO do grupo, como a nova CEO, continua suscitando debates na indústria global de comunicação. Agora, o caso motivou uma troca pública de críticas entre Martin Sorrell, chairman do WPP – holding proprietária da J.Walter Thompson – e Maurice Levy, CEO do Publicis Groupe.

O embate começou na semana passada, durante a 4A’s Transformation Conference, realizada em Miami, nos Estados Unidos. O processo movido contra o ex-CEO da J.Walter Thompson acabou tomando boa parte dos debates, levantando discussões sobre a desigualdade entre os gêneros na indústria da comunicação. Em uma das participações, Maurice Levy declarou que as acusações feitas por Erin Johnson, diretora global de relações públicas da JWT, contra Martinez são muito graves e sérias, mas que não refletem um comportamento generalizado da indústria da comunicação.

Durante o mesmo evento, Martin Sorrell, em participação via conferência, comentou o assunto e declarou que discordava totalmente da colocação de Maurice Levy, alegando que o CEO do Publicis Groupe costumava olhar os fatos apenas de acordo com sua própria visão e que, de maneira alguma, o caso de Martinez representava um problema isolado.

Nesta semana, Levy decidiu não deixar a réplica sem reposta e enviou um memorando aos seus colaboradores no qual critica abertamente a postura e a declaração de Sorrell. “Posso dizer que, mais uma vez, ele mostrou seu extraordinário nível de hipocrisia”, criticou Levy. Ainda no texto, ele disse que o ataque de Sorrell em relação à sua declaração não teve proposito, uma vez que a pergunta direcionada ao CEO do WPP nem mencionava seu nome. O francês ainda reforçou as críticas, dizendo que o caso de Martinez aconteceu na companhia de Sorrell, que é uma das maiores agências do mundo, e com um CEO, que é justamente a pessoa que deveria dar exemplos de boa conduta. “A colega (Erin Johnson) fez de tudo para tentar ser ouvida e não conseguiu, inclusive com a pessoa que deveria ouvi-la, que era a chief talento officer da empresa. A situação se arrastou por mais de um ano e a resposta do CEO da holding (Sorrell) foi nenhuma, inclusive atacando um de seus colegas durante um evento da indústria”, reclamou Levy, em relação à crítica que Sorrell lhe direcionou no evento.

Maurice Levy ainda disse que, quando disse na 4A’s Transformation Conference que o caso de Martinez era um fato isolado, ele se referia ao fato de as acusações relatadas por Erin eram tão graves que ele preferia não acreditar que líderes globais da indústria da publicidade tenham em mente tais tipos de preconceitos e ideias ultrapassadas. “Os relatos de Erin no processo são graves a tal ponto que, na minha opinião, só podem representar a falha imperdoável de um homem. Não posso imaginar por um segundo que é comum em nossa indústria (ou em qualquer outra) fazer piadas sobre mulheres, negros e judeus e sobre um tema tão grave e sensível como o estupro. Se um caso dessa natureza é trazido ao Publicis Groupe, gostaríamos de reagir fortemente e sem demora”, pontuou. Levy também aproveitou o comunicado para listar os projetos e ações que o Publicis Groupe realiza em torno da diminuição da desigualdade de gênero em suas empresas.

Procurados pelo Advertising Age, o WPP se manifestou através de um porta-voz declarando que o e-mail de Maurice Levy é uma demonstração clara da tentativa de consertar sua declaração infeliz dada durante o evento.

Com informações do Advertising Age