Publicis Groupe avalia encerrar atividades da F/Nazca
Holding negocia com clientes transferências de contas para outras agências do grupo, mas têm de lidar com possibilidade iminente de saída de marcas como Skol e Google
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Renato Rogenski
19 de agosto de 2019 - 15h58
Após 25 anos de mercado, a F/Nazca S&S pode deixar de existir nos próximos dias, por decisão do Publicis Groupe. Na manhã desta segunda-feira, 19, Guilherme Saccomani e Fernanda Coelho, respectivamente chief financial officer e chief talent officer do grupo no Brasil, estiveram mais uma vez na agência para discutir o processo de alocação de clientes e pessoas em outras operações da holding.
Questionado pela reportagem, o Publicis Groupe enviou à seguinte nota ao Meio & Mensagem: “A F/Nazca está trabalhando junto com o Grupo Publicis para respeitar — sobretudo — os interesses dos clientes hoje atendidos pela agência. Neste momento, o principal esforço é definir junto com essas marcas, caso a caso, o melhor modelo de trabalho para elas e para os talentos que se dedicam a elas. Até lá, a F/Nazca segue cumprindo suas entregas e operando normalmente”.
Desde a saída do fundador e CEO Fabio Fernandes, no dia 6 de agosto, a F/Nazca é gerida pelo board formado por Rita Almeida (head de planejamento), Saulo Sanchez, Ricardo Forli (heads de atendimento), Rodrigo Castellari, Pedro Prado, Toni Fernandes e Leonardo Claret (todos diretores de criação). Há uma possibilidade remota de que este board de diretores mantenha a agência operando com os clientes que assim preferirem — a preservação do atual portfólio de contas é a principal missão desse grupo diretivo, que se propõe a defender a cultura da F/Nazca mesmo após saída de seu idealizador. Entretanto, eles têm de lidar com a iminente possibilidade de saída de marcas como Skol e Google, dois dos maiores clientes da casa. Também estão na F/Nazca verbas de Trident, BTG Pactual e Raízen.
Por outro lado, a opção preferencial do Publicis Groupe repete o que a holding fez em dezembro de 2017, quando decidiu encerrar a operação da Neogama, após saída do fundador e CEO Alexandre Gama. Na época, algumas contas e parte da equipe foram para outras agências do grupo: DPZ&T (Renault) e Leo Burnett Tailor Made (O Boticário). O Publicis Groupe esperava que mais contas ficassem, mas alguns clientes que eram da Neogama preferiram seguir outros caminhos, como a Química Amparo (cuja principal marca é Ypê, atendida atualmente pela Área G, nova agência de Alexandre Gama).
Fabio Fernandes fundou a agência em 1994 ao lado dos então sócios Ivan Marques (que deixou a empresa no final do ano passado) e Loy Barjas (que saiu em 2014). Até 2016, ele detinha pouco mais de 30% de participação acionária na F/Nazca — o que fazia dele o maior acionista individual entre as maiores agências do País controladas pelas holdings multinacionais. Entretanto, naquele ano Fabio renegociou seu contrato com o Publicis Groupe. Na época, ele disse ao Meio & Mensagem que havia fechado acordo com a holding de cálculo predeterminado do valor de suas ações com base no balanço de 2015, para uma futura venda das cotas — o que ocorreu nos últimos anos.
Em texto de despedida publicado no mesmo dia 6 agosto em seus perfis nas redes sociais, Fabio confirmou que o Publicis Groupe havia acabado de reunir 100% das ações da agência: “a empresa agora é deles”, afirmou. O publicitário disse ainda que a holding determinou seu afastamento por entender que ele não é “a pessoa ideal para prosseguir em quaisquer que sejam os novos planos para a F/Nazca” e deixou claro seu desacordo em relação a essa decisão: “a depender de mim, eu jamais deixaria a agência”.
Fabio também reclamou das práticas que guiam a gestão das grandes agências brasileiras, hoje quase todas elas controladas pelas holdings multinacionais: “O modelo de negócio baseado excelência, remuneração justa para os melhores talentos, estabilidade contra instabilidades externas, onde os impactos são absorvidos pelos sócios e muito raramente reverberam sobre a parte mais fraca, onde o cuidado, o detalhismo, o esmero e o alto nível de exigência no craft — ou como sempre chamamos aqui, o artesanato — parece não ser mais tão lucrativo como no passado”.
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