Cannes Lions: impactos sobre o mercado de comunicação
Para CEOs de agências, decisão de realizar evento em 2021 é acertada, mas festival precisa buscar novos caminhos para o ano que vem
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Isabella Lessa
3 de abril de 2020 - 16h44
Festival de Cannes é cancelado oficialmente
Fica, portanto, um hiato nesse sentido, mas que, diante da dimensão da crise mundial provocada pelo novo coronavírus em diversas instâncias – saúde pública, social e econômica – as prioridades de agências e anunciantes mudam drasticamente. “Estamos em um momento de lutar para sobreviver. As agências têm de ser relevantes para os clientes, mas também para sobreviver: estão adotando medidas de contenção para preservar os empregos das pessoas. Se inscrever numa competição soa até frívolo”, afirma Ricardo John, CEO e CCO da FCB Brasil. De acordo com ele, o board criativo global da FCB se reuniu há cerca de dez dias para discutir a probabilidade de Cannes Lions não ocorrer este ano.
Nesta que seria a 66ª edição do festival, Luiz Sanches, chairman e CCO da AlmapBBDO presidiria um júri pela segunda vez. De acordo com ele, foram frequentes as conversas de todos os presidentes de júri com a organização do Cannes Lions para chegar a um consenso sobre os rumos da edição 2020. Desde que casos de Covid-19 começaram a aumentar na China e demais países asiáticos, os organizadores começaram a considerar o adiamento do evento. Entre a escolha de postergar o evento com possibilidade de realizá-lo em outubro e a decisão do cancelamento se passou menos de um mês. “Todo mundo tem tomado decisões conforme o curso do rio, não tem como prever quando isso vai acabar. Cannes é parte importante da nossa indústria, mas não tem sentido estar à sombra de uma pandemia que toca pessoas e indústrias inteiras. Foi uma decisão sensata, um bom senso que falta ao governo federal”, diz.
Sanches e os demais presidentes de júri já anunciados pelo festival no começo deste ano estão automaticamente escalados para a edição de 2021, marcada para a semana que vai dos dias 21 a 25 de junho.
Horas antes de o festival comunicar oficialmente seu adiamento para 2021, as publicações internacionais Campaign e Ad Age afirmaram que as cinco principais holdings de comunicação estariam revendo suas participações no evento. Fontes anônimas do WPP e do Omnicom disseram ao Ad Age que os grupos haviam cancelado suas idas à Riviera Francesa este ano. “Somente o WPP corresponderia a 45% das inscrições. Isso já enfraqueceria o festival de maneira espetacular”, comenta John. Para Sergio Gordilho, copresidente da Africa, é impossível dissociar Cannes Lions dos grupos de publicidade, afinal, representam uma mesma indústria. “É uma festa da indústria. E sem indústria não tem festa. É como se os filmes não se inscrevessem no Oscar. A indústria tem de focar nas pessoas e estar junto das marcas. Cannes se torna secundário. Até porque se Cannes é uma celebração, até agora gente não tem o que celebrar”, afirma.A partir de agora, o festival deveria buscar meios para deixar de ser tão dependente das holdings, opina John. De acordo com ele, incluir novas categorias e fomentar a participação de outras organizações cujas áreas a criatividade faz a diferença, como design e arquitetura, seria um bom caminho. Além disso, poderia flexibilizar ainda mais os preços para agências de menor porte, sugere o executivo.
Na visão de Sanches, a ausência do festival como balizador de grandes ideias é preenchida por um período em que surgirão novas marcas e novas formas de se fazer criatividade. Hoje, não existe ideia mais importante do que combater a Covid-19, pontua Gordilho: “Como criativos, temos de buscar ideias para ajudar o mundo e as marcas”. Neste momento, ele acredita que Cannes deve estar estudando como fazer o festival pós-pandemia, considerando que muitos trabalhos (as inscrições feitas neste ano valerão para 2021) ficarão datados e que os debates promovidos terão, necessariamente, de abordar o que foi vivido nesta crise. “Cannes no ano que vem vai passar de grande celebração para um evento de muita reflexão”, diz.
*Crédito da imagem no topo: Divulgação
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