DeCourcy, da W+K: “Ser independente dá cor a tudo”
Para Colleen DeCourcy, copresidente e ECD global da W+K, independência faz com que agência tome melhores decisões de negócio
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Isabella Lessa
4 de junho de 2020 - 6h00
Em abril, a Wieden + Kennedy foi eleita Agência do Ano pelo A-List, do Advertising Age, pelo terceiro ano consecutivo. Em 2019, a rede independente conseguiu equilibrar a conquista de 21 novos negócios à criação de trabalhos premiados para clientes de longa data, como a Nike (primeira conta conquistada pela agência, em 1982). Na ocasião, Colleen De Courcy, ECD global e copresidente da Wieden + Kennedy, disse à publicação: “o mundo não está preparado para uma empresa como a nossa”. Na entrevista concedida ao Meio & Mensagem, Colleen explica a afirmação e comenta alguns aprendizados da agência durante a pandemia:
Meio & Mensagem – O que você quer dizer quando disse ao Ad Age que “o mundo de agora não está preparado para uma empresa como a nossa”?
Colleen DeCourcy – A W+K sempre foi uma outsider, diferente da maioria das agências. A maioria dos contratos da indústria, termos de conflitos e normalidades de rate card foram feitas para holdings e não consideram uma estrutura como a nossa. Somos independentes e isso dá cor a tudo. Somos pequenos, mas globais, e casa um de nossos escritórios tem muita liberdade para criar a própria cultura. Não respondemos a ninguém além de nós mesmos, o que afeta todas nossas decisões. Pensamos duas vezes antes de seguir as tendências da indústria quando falamos em remodelar nossos negócios – pegamos a estrada menos viajada, por assim dizer. Também nunca gostamos realmente de publicidade, o que é parte de ser outsider. Nosso primeiro cliente nunca gostou de publicidade, então nunca fomos nos organizamos para fazer publicidade.
M&M – Como definiria a identidade do escritório brasileiro?
Colleen – O escritório de São Paulo encontrou sua personalidade única. A liderança da Fê (Fernanda Antonelli), do Renato (Simões) e do Edu (Lima) possui uma ótima química e isso se estende à equipe. Juntos, estão alcançando o groove deles, fazendo trabalhos de impacto. Temos um ponto de vista interessante, divertido e inesperado sobre esse mercado, assim como um foco afiado em trazer ideias que tenham relevância cultural. É um bom momento para se trabalhar desta forma e ser independente. Estamos empolgados com esse momento da W+K São Paulo.
M&M – A Wieden começou a trabalhar para a Ford no segundo semestre de 2018. Quais são os desafios criativos que uma empresa automotiva traz, especialmente durante a pandemia, já que é um dos segmentos mais afetados pela crise?
Colleen – A Ford descobriu do que é capaz durante a crise. A dedicação e a ingenuidade do time deles foi realmente inspiradora, pois permitiu que eles rapidamente fizessem equipamentos PPE (e devido à escala industrial, puderam fazer muitos, mais de dez milhões de máscaras e cerca de 12 mil respiradores por semana). A combinação de pensamento engenhoso e veloz, footprint de engenharia e funcionários dedicados a servir pessoas, são elementos que poucas empresas têm – tanto dentro quanto fora da indústria. Estamos empolgados em trabalhar com eles enquanto descobrem os próximos desafios para a indústria e para o planeta, dos esforços de sustentabilidade à automação. E com certeza estamos ávidos em ajuda-los a contar essas histórias únicas.
M&M – Qual sua opinião sobre as in-houses?
Colleen – Há prós e contras nas agências in-house. Algumas provaram ser muito boas. Squarespace, Spotify. E tem outras que não são tão boas. Porque são in-houses que que podem rastrear mudanças de estratégias e feedback rapidamente. Não precisam cavar informação como muitas vezes fazemos e, muitas vezes, brifam a si mesmas. Mas, o que temos aqui fora é uma cultura diferente. Por meio da qual criativos constroem e prosperam. E, mais importante, com frequência temos um olhar externo do problema do cliente. Trazemos equilíbrio – ou talvez seja um contra-equilíbrio. Oferecemos a perspectiva do público e isso é fundamental para as marcas.
M&M – Quais os legados que essa experiência irá deixar para a rotina de trabalho?
Colleen – Acho que carregaremos a ideia de que podemos usar talentos que não estejam no mesmo lugar que a gente, trabalhar com talentos que têm necessidade de trabalhar de casa porque têm obrigações com a família, problemas de saúde, limitações ou porque querem morar no campo. Isso nos tornará melhores. Lembro-me de quando eu era diretora de criação anos atrás, mãe solteira, me equilibrando, drenando minhas finanças para encontrar alguém cuidasse da minha filha depois da escola, porque eu ainda precisava estar no escritório às oito da noite, porque não podia perder aquelas conversas de corredor. Vejo que isso está abrindo um caminho para mulheres e homens poderem fazer as duas coisas. Saber quais coisas podem acontecer no escritório e quais coisas podem acontecer de casa. Vejo uma maior aceitação disso. Espero que esse legado continue, me esforçarei para isso continuar na Wieden.
Colleen aborda outros assuntos, como o papel da criatividade na crise, na entrevista publicada na edição 1913 de Meio & Mensagem, que até o fim de junho pode ser acessada gratuitamente pela plataforma Acervo, onde é possível consultar ainda todas as edições anteriores que circularam nos 42 anos de história da publicação. Também está aberto a todo o público, gratuitamente, o acesso à versão digital das edições semanais de Meio & Mensagem, no aplicativo para tablets, disponível nos aparelhos com sistema iOS e Android.
*Crédito da imagem no topo: iStock
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