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Comunicação

Nos EUA, publicitários negros cobram ações das agências

Carta aberta assinada por mais de 600 profissionais negros nos EUA lista 12 ações que agências devem adotar para combater racismo


10 de junho de 2020 - 6h00

Por Ann-Christine Diaz, do Advertising Age

(Crédito: Reprodução/Black Lives Matter)

Nathan Young, director de estratégia da Periscope de Minneapolis, mora a quatro quadras do local de assassinato de George Floyd. O Memorial Day foi a primeira vez que ele e a noiva saíram de casa, depois do período de isolamento, para comparecer a uma reunião na casa de um amigo. “Nos divertimos muito. Mas, na volta para casa, passamos pela polícia”, recorda ele.

Pelas faixas amarelas e luzes das sirenes dos carros policiais, ele presumiu que havia sido um incidente no qual um policial fez uso da arma. “Por ter vivido em cidades grandes a vida toda, sei como são as ações policiais. Achei que tivesse sido um tiroteio envolvendo a polícia”, disse.

Mas, quando acordou na manhã seguinte, viu o vídeo do que realmente aconteceu.

O déja vù de outro incidente horripilante, resultado da brutalidade policial, inspirou Young, afro-americano, a tomar algum tipo de ação para enfrentar o racismo sistêmico – mais especificamente, na indústria publicitária. Young, ao lado de Bennett D. Bennett, que comanda a consultoria independente Aeralist, coordenaram a redação de uma carta aberta às agências dos EUA que lista as ações que deveriam adotar para alcançar a equidade racial no mercado. Até agora, o documento foi assinado por mais de 600 profissionais negros nos EUA, de agências como Droga5, W+K, Goodby, Silverstein & Partners e Anomaly.

O publicitário disse que se inspirou em movimentos como o 3%, formado por mulheres para aumentar a presença de criativas nas agências.

Leia a carta traduzida:

Um chamado pela mudança

Profissionais negros da indústria publicitária exigem ações urgentes da liderança das agências

Os assassinatos recentes de George Floyd, Breonna Taylor e Ahmaud Arbery chocaram a nação e levaram milhões de americanos às ruas para protestar. Por mais altos que sejam os protestos, é impossível superestimar a dor sentida pelos colegas negros à medida que feridas de Ferguson, Baltimore e incontáveis outros pontos de violência racial foram, mais uma vez, reabertas. Sofremos porque vimos esse filme antes. Sofremos porque esperamos que, mais uma vez, quando as ruas esvaziarem e as hashtags forem aposentadas, pouco será feito para endereçar o racismo sistêmico e a injustiça econômica que enfrentamos a cada dia.

Na última semana, vimos mensagens de solidariedade sendo enviadas por agências e líderes de agências. Embora sejamos encorajados por essas mensagens, essas palavras soam vazias diante das nossas experiências diárias.

Depois de décadas de esforços prol diversidade e inclusão bem-intencionados, vimos pouco progresso em tornar vozes negras mais representativas no processo criativo. Vimos ainda menos progresso em garantir a representação de profissionais negros em posições sêniores e de liderança. E pelo motivo de nossa indústria não lançar ou rastrear números de diversidade, é impossível dizer qual foi o progresso alcançado, se é que houve algum.

Pior ainda é a existência de uma mentalidade de “clube dos meninos” que continua sendo nociva nesta indústria. O mesmo elitismo e comportamento discriminatório que impediu o avanço de mulheres no ambiente de trabalho resultou em uma monocultura opressiva que atinge o crescimento de profissionais negros nas agências e restringe nossa habilidade de expressarmos quem somos verdadeiramente.

Estamos pedindo a todas as indústrias dos EUA que adotem as seguintes ações para combater o racismo sistêmico que aflige nossa indústria.

1. Faça um comprometimento específico, mensurável e público para melhorar a representatividade em todos os níveis da equipe da agência, especialmente posições seniores e de liderança

2. Rastreie e reporte dados sobre a força de trabalho anualmente para criar dados para a agência e para a indústria

3. Audite políticas e cultura para garantir que o ambiente de trabalho seja mais igualitário e inclusivo em termos de diversidade de backgrounds e perspectivas

4. Ofereça treinamento de vieses inconscientes para os funcionários do RH em todos os níveis de gerenciamento

5. Estenda o alcance da agência para uma representação mais diversa de faculdades, universidades e escolas de arte

6. Expanda programas de residência e estágio para candidatos com habilidades transferíveis que podem não ter tido educação tradicional voltado à publicidade

7. Crie, financie e suporte o Employee Resource Groups (ERGs) para funcionários negros

8. Invista em treinamento de gerenciamento e liderança, assim como mentorias, patrocínios e outros programas de desenvolvimento para funcionários negros

9. Exija que a liderança seja participante ativa nas iniciativas de diversidade e inclusão e atrele o sucesso dessas iniciativas em bônus

10. Crie um comitê de diversidade e inclusão composto por funcionários negros para ajudar a moldar as políticas de diversidade e inclusão e monitore o progresso

11. Estabeleça um painel de revisão de diversidade para barrar a difusão de estereótipos em trabalhos criativos e garantir que trabalhos culturalmente insensíveis ou ofensivos nunca sejam publicados

12. Apresente um plano de salário igualitário para garantir que negras, negros e pessoas de cor sejam compensados de maneira justa.

Embora agências impulsionem alguns dos líderes dos negócios mais politicamente progressistas dos EUA, a liderança das agências tem fechado os olhos para o racismo sistêmico e para a desigualdade que persiste na indústria. Muitos galões de tinta foram despejados sobre anúncios, mas o progresso tangível tem desviado dessa indústria por muito tempo.

Nós, signatários desta carta, estamos pedindo mudança na forma de ação direta. Estamos em pé de solidariedade com nossos colegas mulheres, não-binários, LGBTQ+, portadores de necessidades especiais e NBPOC que também se manifestaram por mudanças.

Mostre que estão nos ouvindo. Adotem ações decisivas agora.

Vidas negras importam.

*Crédito da imagem no topo: iStock

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