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Comunicação

Agências usam programas de estágio para ampliar diversidade

Iniciativas de agências como Leo Burnett e FCB servem como porta de entrada para talentos e desenvolvimento de novas lideranças


8 de setembro de 2021 - 6h00

Programa de estágio Maçãs Douradas, da Leo Burnett, traz dez novos profissionais para a agência (Crédito: Divulgação)

O estágio, muitas vezes, é o primeiro contato profissional de um estudante com a área que escolheu para trabalhar. Na publicidade, assim como em todas as demais indústrias, este é um processo importante para a formação da pessoa. Por este motivo, muitas agências fomentam programas de estágio para conseguir moldar novos talentos para suas bases.

Em meio às discussões sobre a necessidade de construir ambientes de comunicação mais igualitários e representativos, a diversidade também passou a entrar na pauta desta busca por novos profissionais. Embora na maior parte das empresas ainda seja difícil encontrar pessoas de grupos minorizados ocupando altos cargos, já existe uma mudança de postura em relação a esses temas, e programas de estágio estão sendo criados para tentar atrair profissionais diversos para o ambiente das agências.  A Leo Burnett Tailor Made, por exemplo, tem um programa de aceleração para a contratação de profissionais negros, LGBTQIA+, mulheres e pessoas com deficiência.

Com a iniciativa, a agência busca construir essa diversidade desde a base. “O processo de estágio de políticas afirmativas, dentro da Leo, ajuda com que a nossa estrutura como um todo, futuramente, tenha cargos estratégicos ocupados por esses perfis”, explica Jef Martins, diretor de comunicação e impacto social na Leo Burnett. Recém-chegado na agência para gerir a nova área nova, o executivo explica que esse processo auxilia a empresa a aumentar a política diversa e criar uma cultura internamente, referindo-se também ao programa Maçãs Douradas, que em 2021 recrutou dez novos profissionais.

A pauta da diversidade vem ganhando espaço dentro da agência. Vivian Vaz, diretora de talentos da Leo, comenta que as conversas se amplificaram depois que a empresa implementou um comitê para tratar de diversidade. “Trabalhamos várias pautas, campanhas internas, treinamentos para falar sobre diversos temas”, explica. A diretora conta que os temas trazidos são variados, como mulheres na publicidade, dinâmicas sobre o privilégio, síndrome da impostora, entre outros assuntos.

Essa linearidade no ambiente de trabalho é fundamental para que os processos sejam mais eficientes e consigam captar os talentos que estão no mercado. No entanto, para isso acontecer, é preciso que haja alinhamento com as lideranças dos departamentos. Muitos estagiários, quando chegam nas agências, passam por diferentes áreas para ampliar o seu conhecimento sobre o dia a dia da produção de trabalhos.

A rotatividade também faz parte do FCBrains, programa de estágio da FCB. Além desse programa, a agência procura orientar os novos profissionais por meio do FuturoLab, programa de mentoria desenvolvido em parceria com a consultoria de recursos humanos EmpregueAfro. A empresa também diz ter ampliado o alcance das suas vagas para profissionais fora do eixo Rio-São Paulo e passou a reforçar os seus recortes baseados na diversidade.

Segundo Gabriela Rodrigues, head de cultura e impacto da Soko, “o programa de estágio é a porta de entrada para conseguirmos oferecer oportunidade para as pessoas” (Crédito: Flamingo-Images-shtterstock)

Para Sandra Denes, vice-presidente de recursos humanos da FCB, essa é uma forma de formar mais lideranças. “A FCB redesenhou seu processo de contratação de estagiários para atender às demandas de diversidade e inclusão, evitar qualquer viés inconsciente na seleção e assim atingirmos talentos que o mercado estava ignorando”. O programa, em sua primeira edição, realizada em 2019, chegou a uma taxa de 90% de efetivação dentro da empresa.

A agência se baseia em três pilares que ajudam no acolhimento desses funcionários que chegam nesse ambiente. O primeiro, focado no avanço de uma cultura mais diversa e inclusiva, com workshops para todos os colaboradores da agência; o segundo, com direcionamento baseado no desenvolvimento das lideranças, formando os como mentores e por último levando em consideração o crescimento da carreira dos estagiários da FCB, que já chegaram na agência através de um processo mais inclusivo.

Essa é uma prática também aplicada pela Leo Burnett. A agência trabalha com mentorias e em cursos de especialização. Durante o mês da Mulher Negra, Latina e Caribenha a agência concedeu bolsas de estudos e cursos de inglês para mulheres, além de estarem desenhando um processo de mentoria votado a para pessoas pretas e pessoas trans.

O reflexo da diversidade

Uma agência que trabalha com uma ideologia mais inclusiva e com pessoas diversas em suas equipes consegue refletir isso nas campanhas que vão para a rua. Um universo mais plural contribui para que esses trabalhos produzidos por essas empresas sejam criativos e, ao mesmo tempo, não ofendam ou estereotipem determinado grupo. A exemplo dos comerciais de cerveja, que com o tempo foram parando de objetificar mulheres, além de não direcionarem o produto somente para o público masculino. Ou as campanhas de Dia dos Pais, que já não trazem mais a paternidade associada à masculinização do homem.

Fernando Diniz, copresidente da DPZ&T, explica que na agência sempre há a busca por entender como é possível construir uma campanha mais diversa e ouvir cada vez mais pessoas para que isso aconteça. “Hoje temos a chance, com o poder e a audiência que temos, de construir um resíduo positivo e uma conscientização muito maior”, comenta.

A Soko também se preocupa com a questão da diversidade de seus colaboradores e de como ela é transmitida em seus trabalhos. Gabriela Rodrigues, head de cultura e impacto da agência, conta que, na agência, há uma preocupação com os resíduos tóxicos que são associados a publicidade. “Criamos uma estrutura de ‘Cultura Soko’, um time dedicado a transmitir e zelar para que nossas práticas realmente cheguem até os novos talentos”, avalia.

Dona de campanhas como “4% bot”, para Vivo, e “Elas podem”, para Guaraná Antárctica, que visam promover uma reflexão sobre a questão feminina no meio esportivo, a Soko mantém o seu processo seletivo, o “Vetores”, como uma forma de atingir a proporcionalidade, refletindo os percentuais da população de pessoas negras, mulheres, LGBTQIA+ e PCDs. Gabriela avalia esse processo como sendo de extrema importância.  “O programa de estágio é a porta de entrada para conseguirmos oferecer oportunidade para as pessoas”, diz.

Outro reflexo que precisa ser avaliado pelas agências é o ambiente de acolhimento aos profissionais. Trazer debates que agreguem valores para as pautas de diversidade dentro das empresas já é um passo dado por agências como FCB e Leo Burnett, que entendem que o ambiente profissional, principalmente voltado à comunicação, precisa participar dessas conversas com os seus colaboradores. “Quanto mais pessoas nossos colaboradores sentem que podem acessar para dividir quais são os desconfortos, melhor”, finaliza Jeff, da Leo Burnett.

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