ABA defende contratação de agências especialistas em mídia
Guia lançado pela entidade pede, ainda, visibilidade e auditoria nas remunerações, incluindo os planos de incentivo, conhecidos como BV (bonificação de volume)
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Alexandre Zaghi Lemos
24 de novembro de 2021 - 6h00
A Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) lançou nesta terça-feira, 23, um novo Guia de Melhores Práticas ao Setor Publicitário, em que pede “uma publicidade livre, pujante, transparente, ética e responsável”. Em relação a guias anteriores, entre os diversos já lançados pela entidade, o atual tem algumas peculiaridades. Entre elas, a de ser fruto de quatro grupos de discussão que contaram com participações não só de executivos de anunciantes, mas também de agências, veículos e plataformas, totalizando cerca de 80 profissionais reunidos após a entidade ter feito “centenas de convites”. A iniciativa, chamada de Movimento de Boas Práticas do Mercado Publicitário Brasileiro, demandou seis meses de trabalho e é decorrência da saída da ABA do Conselho Executivo das Normas-Padrão (Cenp), anunciada em janeiro.
Embora tenha contado com diversos segmentos do mercado nos grupos de discussão, a redação final do guia é de responsabilidade da ABA. E aqui há outra particularidade importante em relação aos guias de boas práticas anteriores, como o lançado em 2019 sobre “Boas Práticas do Relacionamento entre Agências de Publicidade e Clientes”, que, na ocasião, contou com apoio das entidades representativas das agências, Abap e Fenapro. O documento atual inclui recomendações que vão contra o que pregam essas duas associações. Em especial, a defesa do direito dos clientes contratarem agências especialistas em mídia e a recomendação de visibilidade e auditoria em todas as remunerações que envolvam anunciantes, agências e veículos, o que inclui os planos de incentivo pagos por veículos às agências e conhecidos como BV (bonificação de volume). O documento diz que “parece altamente recomendável” que anunciantes, agências e veículos façam um esforço conjunto para “tornar o pagamento do BV bastante transparente entre as partes, uma vez que ele compõe a remuneração das agências e a transparência deve ser um norte inegociável para todos os agentes da cadeia”.
A abertura do mercado brasileiro às agências de mídia não é uma reivindicação nova de alguns anunciantes, sobretudo multinacionais. Entretanto, o texto do documento atual avança no tema em comparação aos guias de boas práticas anteriores, o que só foi possível após a saída da entidade do Cenp. O texto diz que é “recomendável que o anunciante tenha liberdade para optar pela forma que irá distribuir seus investimentos, avaliando a possibilidade de contratação de mídia, diretamente ou via parceiros”, e detalha que “quando a opção externa lhe parecer mais atrativa, poderá escolher agências especialistas na atividade de compra de mídia e/ou outros modelos ofertados e que entreguem maior eficiência à cadeia”. A justificativa da ABA é que, assim, cria-se “um ambiente de maior liberdade para inovação e desenvolvimento de novos modelos de negócios que poderão se estabelecer no mercado local, gerando mais oportunidades de investimento e aquecendo o setor”. Sugere, ainda, que os “contratos jurídicos entre as empresas sejam adequados ao novo padrão de relação, oferecendo total transparência e respeito às partes envolvidas, prevendo auditorias, evitando termos unilaterais e exigências que não estejam cabíveis ao novo modelo de parceria acordado entre os agentes da cadeia, incluindo a visibilidade de todas as remunerações geradas entre as empresas que compõem esse sistema e sua distribuição (anunciante, agência e veículos de mídia)”.Working in progress
A ABA reconhece que o novo guia, assim como todos de sua coleção, contém diretrizes e não regras – aqui, mais um contraponto ao Cenp, que exige adesão de seus filiados às normas-padrão da autorregulação. Além disso, no caso do guia atual, a ABA o apresenta como um organismo dinâmico, sujeito a sofrer mudanças e adições de mais conteúdos. “Trata-se de ‘working in progress’; um caderno com muitas páginas ainda em branco, que deve ser, assim, constantemente revisitado, ajustado e incrementado, tendo em vista a quase diária evolução e grande dinamismo do setor, de seus agentes econômicos e das demandas de seus consumidores”.
Cenp muda aplicação do desconto padrão
Embora, inicialmente, os grupos de trabalho formados pela ABA tenham sido vistos como uma tentativa estabelecer uma nova autorregulação, diferente das regras que atualmente regem a atuação do Cenp, órgão criado há 22 anos para mediar as relações comerciais entre anunciantes, agências e veículos, o novo guia diz que não “pretender personificar qualquer código autorregulamentar ou proposta de novas normas-padrão do Cenp”.
Em oposição às normas-padrão, o guia da ABA defende a livre negociação entre anunciantes, agências e veículos, e reforça a posição da entidade contrária a obrigatoriedade de certificação e tabelas fixas de descontos, “que, se utilizadas como elemento imperativo nas relações comerciais, podem prejudicar a dinâmica de mercado”. Já o Cenp se baseia no princípio de que as agências devem ser certificadas quanto à sua capacidade de atendimento e institui tabelas para determinar faixas de desconto-padrão, que são o percentual que determina a remuneração da agência a partir do investimento em mídia feito pelos anunciantes.Após o baque da saída da ABA, o Cenp abriu mais espaços em suas instâncias decisórias para executivos de marketing e intensificou as discussões sobre sua governança, que culminaram esse mês na extinção do cargo de presidente-executivo e na saída da entidade do ocupante do posto, Caio Barsotti. A maior crítica dos defensores do Cenp em relação aos movimentos recentes da ABA é a de que a discussão sobre as relações comerciais no mercado publicitário deve se dar em um fórum neutro, e não isoladamente em entidades que representem os interesses de um lado.
*Credito da imagem de topo: Shutterstock
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