Denuncie Mais: o que está por trás da mudança da Ampro
Entidade muda nome do canal “Fale mais” para “Denuncie Mais” para reforçar boas práticas do mercado e lideranças comentam a mudança
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Isabella Lessa
23 de fevereiro de 2022 - 6h01
*Colaborou Bárbara Sacchitiello
Há algumas semanas, a Associação de Marketing Promocional (Ampro) mudou o nome o nome de seu canal “Fale Mais” para “Denuncie Mais!”, com o intuito de, nas palavras da própria entidade, “sensibilizar clientes contratantes de serviços de live marketing quanto melhores práticas”.
A postura mais enfática é, de acordo com Alexis Pagliarini, presidente executivo da Ampro, uma resposta ao recrudescimento nas questões de remuneração, assim como intransigência dos clientes em relação aos prazos de pagamento, além das constantes concorrências envolvendo mais de quatro agências.
Mas o que incomoda de fato, segundo o profissional, não é necessariamente um aumento nos relatos de más práticas, mas a continuidade dessa dinâmica. “Num momento de fragilidade das agências, em função de um longo período de pandemia, esperava-se mais empatia e sensibilidade por parte dos contratantes. O capitalismo consciente prevê práticas aceitáveis por todos os stakeholders, proporcionando um ambiente sustentável em todo o ecossistema. Nota-se uma miopia nesse sentido. Fala-se tanto de ESG e esquece-se que o respeito e a atitude empática faz parte dessas diretrizes. Salvo alguns bons exemplos, o que vemos é a continuidade de uma atitude leonina por parte de contratantes. Não é ilegal impor condições desse tipo, mas é imoral, uma vez que empurra contratados para uma vala de mera sobrevivência”, afirma.
Pagliarini ressalta, ainda, que a Ampro tem buscado diálogo constante junto aos clientes para demonstrar que a qualidade dos serviços será melhor com remuneração adequada, prazos de pagamentos e relações mais duradouras. A entidade ajudou a desenvolver o “Guia ABA de Boas Práticas”, da Associação Brasileira de Anunciantes e diz manter colaboração mútua com o Procurement Club.
Considerou, portanto, a ideia de estimular um canal de denúncia como algo produtivo e propositivo com os contratantes. Na visão da CEO da Momentum Worldwide Maria Laura Nicotero, membro do conselho da Ampro e da Abap, passou a fase de chamar clientes para conversas sobre melhores práticas e é chegada a hora de denunciar práticas pouco construtivas.
“O Conar é um belo exemplo do mercado: quando algo foge das premissas, do transparente e do correto, ocorre a denúncia. É neste sentido que a Ampro está, para que se olhe o que está sendo construído. Quando o preço fica lá embaixo, isso joga toda a cadeia lá embaixo”, explica, referindo-se ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, que é dedicado a fiscalizar a publicidade veiculada no mercado nacional.
Apesar de concordar com todas as premissas defendidas pela instituição, Fernando Figueiredo, CEO da Bullet, agência que deixou de ser associada à Ampro há cerca de um mês, acredita que a mudança no nome do canal para “Denuncie Mais!” incita a polarização. “Não adianta cobrar valores, é preciso cria-los”, diz. Para o profissional se os prazos de remuneração estão alongados, a culpa é das agências. “Construir valores dá mais trabalho, o cliente precisa ver que é muito melhor trabalhar com uma agência só, remunerar de maneira justa. Esse caminho é mais eficiente do que denunciar cliente por má prática”, declara.
Na opinião de Chris Bradley, CEO da Batux, as denúncias fortalecerão o mercado. “Ainda são raros os clientes que atuam conscientemente no sentido de pagar as agências no momento da concorrência. Devemos valorizar aqueles que têm consciência do trabalho desenvolvido durante uma concorrência. Não vamos desistir”, opina.
Dinâmicas diferentes
Diferentemente do que ocorre com frequência com as agências de publicidade, que fecham contratos de dois anos com clientes, as agências de live marketing fazem concorrência para todo e qualquer tipo de projeto. Se somadas a esta prática os pagamentos estendidos e a ausência de remuneração dessas disputas, cria-se um cenário insustentável, pontua Célio Ashcar, presidente do Conselho da Ampro.
“Se é filme ou evento, não importa: a inteligência e a entrega exigem esforços iguais. A verba vem do mesmo lugar, do departamento de marketing. Então por que essa diferenciação? Se a gente faz um show que custa R$ 500 mil, como podemos receber em 90 dias? Somos um mercado de pessoas e há muita gente envolvida em um único evento. É insustentável”, questiona.
Embora o nome do canal tenha mudado, a prática é a mesma: o associado não precisa se expor, basta detalhar a situação e apontar os envolvidos. E Pagliarini esclarece que os fornecedores também podem denunciar más práticas por parte das agências.
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